Marcelo após a eleição de Centeno: “Somos os nórdicos do século XXI”

Em entrevista ao El País, Presidente da República elogia Centeno, que “começou como tecnocrata e em dois anos afirmou-se como político”, e a diplomacia portuguesa.

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JOãO RELVAS

“Somos os nórdicos do século XXI.” É assim que Marcelo Rebelo de Sousa resume o papel de Portugal na diplomacia actual, numa entrevista por telefone ao El País, justificando a eleição de portugueses para liderar organismos internacionais, no contexto da nomeação do ministro das Finanças, Mário Centeno, para a presidência do Eurogrupo.

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“Somos os nórdicos do século XXI.” É assim que Marcelo Rebelo de Sousa resume o papel de Portugal na diplomacia actual, numa entrevista por telefone ao El País, justificando a eleição de portugueses para liderar organismos internacionais, no contexto da nomeação do ministro das Finanças, Mário Centeno, para a presidência do Eurogrupo.

“Há vários factores para explicar a nomeação de Centeno, nomeações anteriores e as que estão para vir”, considera Marcelo. O Presidente da República assinala a “união nacional” e o “objectivo estratégico comum, à parte das diferenças partidárias”. Em segundo lugar, Marcelo destaca “a consciência europeia de Portugal”, independentemente das cores políticas que estavam no Governo.

“Portugal exerce uma função que no passado seria desempenhada pelos países nórdicos”, começa por notar. É por isso que, recorda Marcelo, “quando houve necessidade de um mediador para um conflito ou para estender pontes entre dois lados irreconciliáveis, procurava-se a ajuda dos nórdicos”. “Agora esse papel está a ser desempenhado por Portugal: somos os nórdicos do século XXI porque temos essa vocação de dialogar com países muito diferentes”, destaca o Presidente português. "Esta não é apenas uma questão financeira, é principalmente a questão de ouvir melhor as outras vozes, de facilitar o diálogo com o Norte, que sem dúvida faltou. Sem diálogo não há compreensão, muito menos entendimento."

"Estamos num momento de movimentos na Europa: o ‘Brexit’, França, o novo governo de Macron; a Alemanha sem governo, na Áustria não se sabe, a Itália está com eleições à vista. Neste conjunto de realidades em transformação, a solução foi encontrar uma solução equilibrada: Portugal".

O Presidente descreve Portugal como “um país com uma posição aberta, de diálogo, tecnicamente competente e politicamente flexível”. “É uma ponte em todas as decisões internacionais, graças ao trabalho continuado, como o do ministro dos Negócios Estrangeiros e o Embaixador da União Europeia, que seguiram sistematicamente uma linha política.”

Na sua explicação sobre as razões da eleição de Centeno para a presidência do Euogrupo, o Presidente deixou ainda um elogio ao ministro das Finanças, que "começou como tecnocrata e em dois anos afirmou-se como político".

Marcelo lembra também a presença de Portugal, em diferentes continentes, e recorda a recente eleição de António Guterres para as Nações Unidas, sublinhando que as duas recentes nomeações não são acidentais, mas resultado do trabalho da diplomacia portuguesa.

O El País vai ainda mais longe e acrescenta ainda à lista de conquistas portuguesas o campeonato europeu de futebol e até a Eurovisão, duas estreias e duas taças que Portugal trouxe nos dois últimos anos. Num segundo artigo, o jornal espanhol cita o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, a lembrar que todos são bem-vindos à capital, destacando a postura conciliadora portuguesa. “Parecerá estranho, mas num mundo como aquele em que vivemos, ser recebido de braços abertos transformou-se em algo de muito valor.”

O jornal espanhol aponta ainda a liderança da Comissão Europeia por Durão Barroso durante dez anos, uma decisão "ainda questionada por alguns portugueses", uma vez que a passagem de Durão pelo Governo nacional não foi propriamente popular. O mesmo paralelismo fazem ao socialista António Guterres, que antes de assumir o cargo de secretário-geral das Nações Unidas foi o Alto Comissário para os Refugiados. A explicação poderá estar no facto de Portugal ser um país pequeno e por isso não "assustar" os outros países. "Entre gregos e troianos, é melhor um português", explica José Miguel Júdice, advogado e comentador político citado pelo El País. E nunca com a ambição de ser o primeiro, Portugal voltou a conquistar o mundo e a passar de "patinho feio para cisne resplandecente", resume Marcelo.