Candidatura de Centeno não aquece nem arrefece a esquerda que apoia o Governo

Candidatura do ministro das Finanças é uma “contradição” com o que o país precisa mas “consentânea” com o que o PS defende – e mais tarde ou mais cedo vai perceber o erro, avisam os comunistas. Bloco e PEV dizem que não significa nada para Portugal.

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Centeno no Eurogrupo? Não nos aquece nem arrefece, diz PCP Miguel Manso

A candidatura de Mário Centeno à presidência do Eurogrupo “não augura nada de positivo para o interesse nacional”. É ao mesmo tempo uma “contradição” de um Governo que age “num quadro de uma solução política nova” (leia-se, que inclui partidos anti-Bruxelas) e que foi “sujeito à novela das sanções” em 2016, mas também “consentânea” com a opção do PS e deste executivo de continuarem a submeter-se às regras da União Económica e Monetária, aponta Ângelo Alves, membro da comissão política do Comité Central do PCP.

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A candidatura de Mário Centeno à presidência do Eurogrupo “não augura nada de positivo para o interesse nacional”. É ao mesmo tempo uma “contradição” de um Governo que age “num quadro de uma solução política nova” (leia-se, que inclui partidos anti-Bruxelas) e que foi “sujeito à novela das sanções” em 2016, mas também “consentânea” com a opção do PS e deste executivo de continuarem a submeter-se às regras da União Económica e Monetária, aponta Ângelo Alves, membro da comissão política do Comité Central do PCP.

O dirigente comunista considera que “mais tarde ou mais cedo o PS e o Governo vão compreender que não é possível manter aquele equilíbrio que Mário Centeno julga que consegue – melhorar a vida das pessoas, aumentar salários, devolver rendimentos e continuar a cumprir todas as imposições e regras da UE”. E acrescenta que “a realidade vai encarregar-se de demonstrar que esse equilíbrio e compatibilidade vão impor escolhas”.

Ângelo Alves recusa que haja nesta candidatura qualquer espécie de “desafio” dos socialistas e do Governo aos partidos com quem assinaram políticas conjuntas há dois anos. “É apenas uma atitude consentânea com a opção que o PS tomou há muito e que continua a reafirmar de submissão aos pilares fundamentais da União Europeia e da União Económica e Monetária (UEM). E que é oposta à do PCP”, aponta o dirigente comunista. Mas é, insiste, ao mesmo tempo uma contradição, por ser feita por um Governo que ainda no ano passado foi alvo de uma “telenovela de pressões e de sanções”. Se for eleito, Centeno acabará por ser o “rosto dessas imposições” europeias aos países – imposições que o próprio recusa.

Sendo o Eurogrupo “um conselho onde a Alemanha tem sete vezes mais peso que Portugal, será aquele país a continuar a decidir o conjunto da política económica e orçamental da zona euro”, prevê Ângelo Alves, que não tem a “ínfima esperança” que Centeno possa mudar algo nesta matéria. Até porque o ministro das Finanças já disse ao que vai: ajudar a concretizar a UEM e aprofundar a integração.

O que interessa que o líder do Eurogrupo seja português? O que ganha o país? Nada. “A história já nos ensinou que o facto de haver portugueses a assumir competências institucionais não significa que os interesses nacionais sejam mais ou melhor defendidos… Sabemos quem era o presidente da Comissão Europeia quando Portugal foi alvo do pacto de agressão da troika e as políticas aplicadas por aquela instituição na altura em relação ao nosso país”, lembra o comunista Ângelo Alves.

Nada em concreto e sem benefícios

Do lado do Bloco de Esquerda, Catarina Martins concentrou as reacções, desvalorizando a candidatura portuguesa e afirmando que, se Centeno vier a desempenhar o cargo, isso não "significa nada em concreto para Portugal".

"Ter ou não ter um responsável português à frente de uma instituição europeia não significa nada em concreto para Portugal" e "não é condição de melhoria para o país", até porque "o problema não é quem preside ao Eurogrupo, mas sim o Eurogrupo", afirmou a coordenadora do BE, Catarina Martins, à margem de uma visita à Escola Básica Eugénio dos Santos, em Lisboa.

O Bloco, acrescentou, "vê o Eurogrupo como um grupo informal da União Europeia, sem nenhuma legitimação que se compreenda e cujo papel tem sido impor políticas de austeridade um pouco por todos os países". "É uma divergência que temos com o PS e que mantemos", concluiu.

Também o PEV, outro parceiro da geringonça, tinha dito esta quinta-feira que não vê "um benefício para Portugal, nem para a União Europeia (UE) em geral" na eventual eleição de Centeno. Em comunicado enviado à agência Lusa, o PEV afirmou que a designação "para esse cargo não representa, por si, um benefício para Portugal em particular, nem para a União Europeia em geral".

"Não se vislumbra que Mário Centeno seja precursor das mudanças necessárias que se impõem na UE e na zona euro, designadamente com a defesa de eliminação de constrangimentos diversos, nomeadamente ao nível das políticas orçamentais, que dificultam a possibilidade das economias mais frágeis de desenvolverem e robustecerem" (...), numa lógica de verdadeira solidariedade", lê-se.

O texto dos ecologistas considera ser esperado que a candidatura de Mário Centeno "não represente qualquer espécie de maior submissão de Portugal à UE e de desvio em relação às medidas de devolução de rendimentos e de direitos aos portugueses". Com Lusa