Houve "tolerância no combate à corrupção" no país

Para o jurista e docente universitário angolano, Lazarino Poulson, o Estado angolano "promovia o ambiente propício à corrupção".

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Presidente angolano, João Lourenço LUSA/Fernando Villar

Os petrodólares em Angola ajudaram "à impunidade", criaram o "ambiente propício" para que se formasse "uma certa tolerância no combate à corrupção", considerou, em entrevista à Lusa, o jurista e docente universitário angolano Lazarino Poulson.

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Os petrodólares em Angola ajudaram "à impunidade", criaram o "ambiente propício" para que se formasse "uma certa tolerância no combate à corrupção", considerou, em entrevista à Lusa, o jurista e docente universitário angolano Lazarino Poulson.

"Assistimos durante o período de 'boom' económico em Angola a uma certa tolerância (...). Todos sabemos que a nossa sociedade ficou envolta num ambiente propício (...), tínhamos dois cenários propícios para a corrupção: o Estado gigante e burocrático, que abarcava quase toda a sociedade. O Estado é que era o consumidor, o Estado é que promovia. Obviamente que é um ambiente propício para a corrupção. Então houve uma certa tolerância, mesmo no combate à corrupção", afirmou.

Lazarino Poulson reconheceu o papel do anterior Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, na reconciliação nacional e estabilização do país.

"O Presidente anterior, obviamente, teve as suas tarefas: conseguiu a reconciliação nacional, a estabilização do país, empreendeu o processo de reconstrução nacional. Mas chegados aqui, havia necessidade de indicar Angola para outro caminho e o [actual] Presidente [João Lourenço] está a dar mostras de que o sentido é este": "Credibilizar as instituições", defendeu.

João Lourenço "lançou um repto, que é o combate à corrupção".

"Sabemos que Angola figura em várias listas internacionais. Consta como um país com um índice de corrupção muito elevado e o Presidente tomou isso como um cavalo de batalha e vamos ver que para isso tem de ter, obviamente, um aparelho judicial forte, autonomia das magistraturas e do Ministério Público e dotado de todo o aparelho judicial com alguma dignidade, com meios humanos e materiais para fazer face ao combate à corrupção", vincou.

O objectivo, sustentou, é conduzir Angola numa "outra direcção".

"Aí até há um aspecto político também, que o Presidente [João Lourenço] teve de fazer, que eu diria que era um vício que vem do passado, que era a separação entre o Estado e o partido. Houve sempre uma fusão. Havia mesmo uma partidarização do Estado angolano. Também nesta fase, espero que o Presidente aproveite para despartidarizar o Estado", apelou.

Para Lazarino Poulson, "toda a mudança traz algum receio", pois "as coisas novas provocam alguma desconfiança, mas o antigo Presidente José Eduardo dos Santos deu uma deu uma lição ao entregar, ao afastar-se do poder de forma pacífica, ordeira".

"Todos nós assistimos à tomada de posse do novo Presidente e vemos um homem, do alto da sua experiência política, a fazer uma transição ordeira. Creio que o Presidente deve ter percebido que os tempos são outros e que há necessidade de normalizar as instituições", concluiu.

Licenciado e Mestre em Direito pela Universidade Agostinho Neto, em Luanda, Lazarino Poulson, 44 anos, é autor de várias obras, entre as quais "Justiça Administrativa Angolana", em coautoria com Carlos Feijó, antigo chefe da Casa Civil do Presidente José Eduardo dos Santos.

Sem ambições políticas, disse à Lusa ser na vertente académica e da consultoria jurídica que deseja contribuir para o desenvolvimento de Angola.