Indignação com possível nomeação de político de extrema-direita para Comité Nobel

O antigo líder do Partido do Progresso Carl Hagen assumiu posições contra os muçulmanos e a imigração. Há muitas críticas à legitimidade da escolha.

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Hagen foi líder do Partido do Progresso até 2006 REUTERS/Norsk Telegrambyra AS

O polémico político norueguês Carl I. Hagen poderá ser eleito durante esta semana para fazer parte do Comité do Prémio Nobel da Paz – constituído por cinco pessoas escolhidas pelo Parlamento do país nórdico –, o que está a gerar reacções de indignação. Teme-se que a escolha ponha em risco a credibilidade do galardão anual. O Parlamento norueguês começa a ponderar a escolha dos candidatos nesta segunda-feira.

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O polémico político norueguês Carl I. Hagen poderá ser eleito durante esta semana para fazer parte do Comité do Prémio Nobel da Paz – constituído por cinco pessoas escolhidas pelo Parlamento do país nórdico –, o que está a gerar reacções de indignação. Teme-se que a escolha ponha em risco a credibilidade do galardão anual. O Parlamento norueguês começa a ponderar a escolha dos candidatos nesta segunda-feira.

Tudo isto surge depois de o Partido do Progresso (PP) norueguês ter revelado, na semana passada, que o seu antigo líder de 73 anos – conhecido pelas suas opiniões polémicas sobre muçulmanos, homossexuais, mães solteiras e anti-imigração – iria ocupar um dos lugares do Comité Nobel da Paz, por merecer o lugar e por ter vários anos de experiência.

Mas um dos principais argumentos contra a escolha de Hagen é o facto de ser ainda um político no activo, podendo ser chamado a qualquer momento para representar funções de deputado. O que pode ser comprometedor tendo em conta que, em 1936, os critérios de selecção do Comité foram alterados para que os membros do Governo em funções (e, mais tarde, também do Parlamento) não possam fazer parte do Comité, de forma a manter a transparência e a garantir que não existem pressões políticas.

“Como membro suplente, Hagen pode ser chamado para o Parlamento até 2021”, explica o líder do Partido Trabalhista norueguês, Jonas Gahr Stoere, ao Guardian, acrescentando que “o Partido do Progresso tem o direito de nomear um membro, mas talvez deva escolher outro candidato.

“Nomear um político em actividade para o Comité Nobel enviaria certamente um sinal errado sobre a independência do Comité”, corroborou o deputado do Partido Liberal norueguês, Abid Raja, também citado pelo Guardian.

Escolha "inadmissível"

A escolha de candidatos ao Comité é feita pouco tempo depois das eleições legislativas na Noruega, altura em que ficaram livres três dos cinco lugares do painel Nobel. Segundo a página oficial dos Prémios Nobel, os nomes de quem ocupa os cinco lugares do Comité do Prémio Nobel da Paz são definidos pelo Parlamento norueguês (o Storting) e os membros escolhidos cumprem um mandato de seis anos, podendo ser reeleitos.

Segundo o site oficial (e a vontade de Alfred Nobel), a composição da equipa deve “reflectir as forças relativas dos partidos políticos” do Parlamento norueguês. Nas eleições legislativas de Setembro, foi reeleita a primeira-ministra Erna Solberg pelo Partido Conservador, que governa numa coligação de partidos, entre eles o Partido do Progresso (de tendência xenófoba) que arrecadou 16% dos votos.

Além da incongruência com o que está estipulado nos critérios de selecção, muitos temem que as polémicas convicções de Hagen comprometam a integridade do Comité. O actual secretário do Comité Nobel, Olav Njolstad, disse à estação pública nacional NRK que a escolha de Hagen é “inadmissível” e que indica “pouco conhecimento e respeito pelo trabalho do Comité Nobel”.

O antigo líder do Partido do Progresso assumia uma posição muito crítica em relação aos muçulmanos – chegou a compará-los a Hitler, dizendo que querem dominar o mundo. Dirigiu o partido entre 1978 e 2006 e defendia também que a Noruega devia abandonar alguns tratados internacionais de defesa dos direitos humanos.

Quando o antigo Presidente norte-americano Jimmy Carter recebeu o Prémio Nobel da Paz, em 2002, “pelas décadas de esforços incansáveis para encontrar soluções para os conflitos internacionais” e por defender os direitos humanos, alguns membros do Comité Nobel referiram que a escolha de Carter era uma crítica à política da Administração Bush no Iraque. Nessa altura, Carl Ivar Hagen afirmou que a “utilização do Prémio Nobel da Paz para exprimir opiniões políticas” era um “desvio” das intenções" para que o galardão foi criado.