Uma família (latino-)americana

Um Dia de Cada Vez são 30 min x 13 dos mais bem escritos e melhor interpretados de comédia americana clássica.

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Alguns anos depois de Uma Família às Direitas, o argumentista e produtor televisivo Norman Lear (n. 1922) apadrinhou um outro grande sucesso: One Day at a Time, comédia sobre o quotidiano de uma mãe solteira a tentar refazer a vida, que durou nove anos (1975-1984) na cadeia CBS. Sinal dos tempos: quando os argumentistas Gloria Calderon Kellett (Foi Assim que Aconteceu) e Mike Royce (Todos Gostam do Raymond) propuseram uma versão actualizada para o século XXI, com a bênção de Lear como produtor, foi no serviço de streaming Netflix que encontraram abrigo. O que é tanto mais surpreendente quando Um Dia de Cada Vez (que já foi renovada para uma segunda série e cuja primeira temporada de 13 episódios já está no serviço entre nós), é uma sitcom clássica-mais-clássica-não-há que encaixaria na perfeição em qualquer canal de sinal aberto.

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Alguns anos depois de Uma Família às Direitas, o argumentista e produtor televisivo Norman Lear (n. 1922) apadrinhou um outro grande sucesso: One Day at a Time, comédia sobre o quotidiano de uma mãe solteira a tentar refazer a vida, que durou nove anos (1975-1984) na cadeia CBS. Sinal dos tempos: quando os argumentistas Gloria Calderon Kellett (Foi Assim que Aconteceu) e Mike Royce (Todos Gostam do Raymond) propuseram uma versão actualizada para o século XXI, com a bênção de Lear como produtor, foi no serviço de streaming Netflix que encontraram abrigo. O que é tanto mais surpreendente quando Um Dia de Cada Vez (que já foi renovada para uma segunda série e cuja primeira temporada de 13 episódios já está no serviço entre nós), é uma sitcom clássica-mais-clássica-não-há que encaixaria na perfeição em qualquer canal de sinal aberto.

A versão 2017 mantém intacto o espírito do original, mas Kellett e Royce fizeram da sua heroína uma cubano-americana: Penelope (a fantástica Justina Machado), ex-militar em processo de divórcio que tenta refazer a vida em Los Angeles como enfermeira depois de regressar do Iraque, com os filhos, a mãe e o vizinho de cima/senhorio que passa lá a vida e já faz quase parte da família. Mas esta não é uma história especificamente latina – os Alvarez são uma família americana que se safa o melhor que pode pelo meio de tempos difíceis (o que há de latino são as muitas gargalhadas, gritarias, choros e comidas). Pelo meio de deixar o carro avariar (com a mesma cassete de sempre encravada no auto-rádio), Penelope tem de lidar com um patrão xoninhas, um filho que quer ser cool, uma filha que se recusa a ter a tradicional festa da quinceañera e as fúrias da mãe viúva que ainda se acha guapa (a veterana Rita Moreno, a roubar todas as cenas em que entra). Não parece nada de novo, pois não? E não é. São só 30 minutos (vezes 13) muito bem escritos e melhor interpretados de comédia americana clássica. E isso, nestes dias de televisão séria a correr riscos, pode saber muito bem.

A rubrica Televisão encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO