Um cantinho nosso no mundo de Surma

Antwerpen, o álbum de estreia de Surma, é a bonita fotografia do mundo privado que Débora Umbelino construiu

Foto
Nuno Ferreira Santos

Aos cinco anos, Débora Umbelino pediu aos pais para aprender bateria – acabou a estudar flauta. Aos 11 anos, aprendeu guitarra e piano, mas desistiu dos dois, farta da aprendizagem teórica. Mais recentemente, estudou pós-produção audiovisual, mas o curso ficou a meio porque o projecto que criou no final de 2014, Surma, tornou-se maior do que alguma vez previra.

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Aos cinco anos, Débora Umbelino pediu aos pais para aprender bateria – acabou a estudar flauta. Aos 11 anos, aprendeu guitarra e piano, mas desistiu dos dois, farta da aprendizagem teórica. Mais recentemente, estudou pós-produção audiovisual, mas o curso ficou a meio porque o projecto que criou no final de 2014, Surma, tornou-se maior do que alguma vez previra.

“Não gosto de ser mandada na música, estudar uma coisa fixa. Acho que a música não é isso, corta-te muito a liberdade. Foi isso que senti no clássico, tinha que estar numa pose determinada. Porque é que eu não posso tocar como um corcunda, se é assim que me sinto confortável?”, pergunta.

Antwerpen, o álbum de estreia de Surma, com edição agendada para 13 de Outubro, é a fotografia do mundo que Débora construiu nos seus sonhos de música. É um disco que nasce no quarto, no computador portátil, mas que se agiganta em estúdio.

É “um disco de Leiria, com base em Leiria”, mas com muitos elementos feitos na estrada – “um disco de Portugal”, mas com a cabeça nas frias Islândia (país que Débora tem na sua cabeça “desde os 11 ou 12 anos”) e Escandinávia, assumidas fontes de inspiração. Lembramo-nos do mundo encantado dos islandeses Múm quando ouvimos a electrónica-caixinha-de-música de Plass, onde cabem o respirar lento de uma harpa e sintetizadores celestes. Kismet é ainda mais insular, escondendo apontamentos orquestrais e a voz tímida de Débora num jogo de sombras. Drög e sobretudo Hemma conseguem fazer pop com estes elementos gélidos.

As palavras são indecifráveis até porque boa parte do que é cantado são “murmúrios”, uma exploração “fonética” em que a voz é “mais um instrumento”. “Quis inventar uma língua de Surma. Gravei as vozes no momento. Trazia as bases da música e ia para o microfone gravar a melodia durante uma hora”, explica. Os títulos das canções são apresentados em línguas como o africâner, o holandês e o norueguês.

Para construir este seu mundo privado, Surma é capaz de recorrer a um sample do Ladysmith Black Mambazo, grupo coral sul-africano que cantou em Graceland de Paul Simon, para fazer Voyager – lembramo-nos das aventuras com retalhos de música negra operadas por Bon Iver em 22, A Million. Uppruni, com a violoncelista Joana Guerra, também impressiona pela exploração da manipulação de voz. Nyika abre outro caminho para Surma, com batidas fantasmagóricas que podiam estar num disco de Burial.

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“Decidi arriscar um bocadinho mais na vertente experimental e mais electrónica, mas, apesar de não se notar muito a guitarra e o baixo, eles estão lá escondidinhos, com muitos efeitos”, reflecte Débora. “Decidi arriscar por um caminho mais urbano. Temos até batidas com uma mesa a fazer de bateria, sons de garrafas, de castanholas, de papéis.”

Surma é um caso sério e que já despertou as atenções de editoras internacionais como a Secretly Canadian, contou ao Ípsilon Hugo Ferreira, da Omnichord Records. Se houver justiça no mundo, Antwerpen vai pôr muitos olhos e ouvidos em Leiria.

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