Apenas três concelhos do Norte ganharam população desde 2011

Análise da Comissão de Coordenação Regional à demografia, entre 2006 e 2016 mostra que o saldo migratório negativo afecta tanto o litoral como o interior

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Entre 2006 e 2016, foram 22 os municípios do norte com mais um saldo natural da população positivo NFACTOS / FERNANDO VELUDO

Os concelhos da Maia, Valongo e Paços de Ferreira foram os únicos, entre os 86 municípios da Região Norte, que viram a sua população crescer, desde o Censos de 2011. A Comissão de Coordenação Regional (CCDRN) analisou os dados demográficos da última década e verificou que, nesta parte do país são cada vez menos os concelhos em contraciclo com a tendência de perda de habitantes.

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Os concelhos da Maia, Valongo e Paços de Ferreira foram os únicos, entre os 86 municípios da Região Norte, que viram a sua população crescer, desde o Censos de 2011. A Comissão de Coordenação Regional (CCDRN) analisou os dados demográficos da última década e verificou que, nesta parte do país são cada vez menos os concelhos em contraciclo com a tendência de perda de habitantes.

O Norte está a perder população desde 2006, ano em que atingiu o número máximo de residentes. A partir deste ponto de partida positivo – que não deixa transparecer as quebras já verificadas, nessa altura, em parte da região – o Boletim Norte Estrutura avança pelos dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística para tentar perceber os contributos das várias sub-regiões e dos municípios para uma viragem demográfica que originou, em dez anos, uma perda de 135 mil habitantes, e um envelhecimento da população para um índice que já só é pior no Centro e no Alentejo.

Mas então, o que se passou, numa década, naquela que era, nos anos 90, uma das regiões mais “jovens” do país? Depois desse pico de 2006, em que chegou aos 3,72 milhões de habitantes, o decréscimo da natalidade, com impacto no saldo natural da população, acentuou-se, ainda que com uma distribuição distinta no território regional. Segundo os dados, “a diferença entre o número de nados-vivos e de óbitos ditou para a Região do Norte a perda de quase 22 mil residentes”. Os restantes 123 mil saíram para outros destinos, deixando para a emigração a responsabilidade por 83% da quebra populacional verificada.

A situação geral tendeu a piorar, neste período. Se olharmos para toda a década, houve nove municípios em contraciclo, cinco deles na área metropolitana do Porto – Maia, Valongo, Vila do Conde, Gaia e Matosinhos – Braga, no Cávado, e três outros vizinhos, Paços de Ferreira, Vizela e Lousada. Mas quando se olha para a segunda metade, percebe-se que, entre 2011 e 2016, ou seja, depois do último Censos, só três destes – Maia, Valongo e Paços de Ferreira – mantiveram esta tendência inversa à de todo o Norte. Região onde Montalegre se destaca por ter sido o concelho com a maior perda demográfica, em termos percentuais, ao longo destes dez anos.

Saldo natural com matriz territoral vincada

O saldo natural da região é negativo, mas nem todos, sub-regiões ou municípios, contribuíram da mesma forma para este resultado. Aliás, nota a CCDRN, “o Cávado destaca-se por ser, desde 2012, a única sub-região do Norte com um saldo natural positivo” e nele se situam alguns dos 22 municípios de toda a região com um valor positivo para a taxa média anual de crescimento natural da população, desde 2006. Estes concelhos situam-se numa área bem definida, um contínuo territorial que abrange a maior parte da Área Metropolitana do Porto, do Cávado, parte do Ave e parte do Tâmega e Sousa.

Maia, Paços de Ferreira, Braga, Valongo e Paredes registaram os melhores diferenças entre nados-vivos e óbitos, nesta década analisada, mas, notam os autores deste boletim, mesmo os concelhos com menores saldos negativos – Porto, Espinho e Santo Tirso – estão no mesmo perímetro geográfico delimitado por aquelas sub-regiões. No restante território, o concelho de Bragança e outros na parte ocidental da sub-região douro (Vila Real, Peso da Régua, Lamego e Tarouca) incluem-se neste lote cujas quebras foram menores.

Se o saldo natural tem uma matriz territorial bem vincada, a perda de população por via das migrações tem uma distribuição distinta e, notam os autores do boletim, “não se observa, entre 2006 e 2016, a existência de qualquer contraste entre os territórios ditos do interior e as zonas litorais”, no comportamento deste indicador. Os municípios que apresentam valores positivos no saldo migratório situam-se quer na fronteira com Espanha, e no Interior – Cerveira, Monção, Bragança, Miranda do Douro e Freixo de Espada à Cinta –, quer na Área Metropolitana do Porto – Vila do Conde, Maia e Valongo. Mas, em contrapartida, o concelho fronteiriço de Terras de Bouro e o município do Porto, têm os piores saldos.

De resto, de 2006 a 2011 “houve 19 municípios da Região Norte que observaram, em termos médios anuais, taxas de crescimento migratório positivas”. Mas no segundo quinquénio da década apenas dois concelhos ficaram acima da linha de água: Sernancelhe, com 0,02% e Valongo, que ficou quase a zeros, com uma taxa de 0,0004%. “Neste período (e também no balanço da década), o Porto foi o concelho com a taxa média anual de crescimento migratório negativa mais acentuada de toda a Região Norte”, lê-se no documento.

Esta quebra de 135 mil pessoas acontece num período em que o país atravessou, uma crise e esteve sob intervenção externa, mas no qual, a economia regional até se portou melhor do que do todo nacional. O Boletim Norte Estrutura, atem-se ainda, neste número que pode ser consultado em http://www.ccdr-n.pt/norte-estrutura, no desempenho das empresas nortenhas. E mostra que entre 2008 e 2015, as sociedades com sede na região “foram mais resilientes do que as de Portugal no seu todo. Por um lado, nos períodos recessivos, a queda dos principais indicadores foi menor na região do Norte, e por outro, nos períodos de recuperação (…) tiveram um melhor desempenho, mostrando-se, mesmo, o motor do crescimento regional”.