O que acontece ao cérebro quando não dormimos o suficiente?

Lançado um estudo global para descobrir como a privação de sono pode afectar o nosso cérebro. Tem a duração de três dias e pode ser feito por qualquer pessoa, em qualquer parte do globo.

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RUI GAUDÊNCIO

Um neurologista britânico concebeu um estudo à escala global sobre as consequências da privação de sono no nosso cérebro. A falta de sono pode originar graves problemas para a saúde, como depressão, obesidade e diabetes. Porém, ainda não se sabe com muito pormenor o que acontece à nossa capacidade cognitiva quando não dormimos o suficiente.

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Um neurologista britânico concebeu um estudo à escala global sobre as consequências da privação de sono no nosso cérebro. A falta de sono pode originar graves problemas para a saúde, como depressão, obesidade e diabetes. Porém, ainda não se sabe com muito pormenor o que acontece à nossa capacidade cognitiva quando não dormimos o suficiente.

Dessa forma, Adrian Owen, neurologista do Instituto do Cérebro e da Mente da Universidade do Ontário Ocidental (no Canadá), elaborou uma forma de compreender os impactos da privação de sono no cérebro humano. Contudo, este não é apenas mais um estudo relativo à privação de sono. “O maior estudo sobre o sono” tem uma particularidade que o distingue dos demais. É realizado online e aberto a todas as pessoas interessadas em participar, independentemente da sua localização geográfica.

À BBC, o coordenador deste estudo disse: “Sabemos como é que ficamos quando não dormimos o suficiente”, porém “sabemos muito pouco sobre os efeitos [da privação de sono] no cérebro”. O neurologista de 51 anos explica que o objectivo deste estudo é “perceber como esse problema afecta a nossa cognição, memória e capacidade de concentração”.

O estudo nasceu de uma parceria entre o Instituto do Cérebro e da Mente e da Cambridge Brain Sciences, uma plataforma online canadiana na área da saúde do cérebro cujo director científico é também Adrian Owen. Lançado na última terça-feira, o estudo já conta com cerca de dez mil participantes.

Como funciona o estudo?

As pessoas interessadas em integrar o estudo devem registar-se no site da Cambridge Brain Sciences. De acordo com informações disponibilizadas no site, o ensaio está dividido por três fases e tem a duração de três dias.

Inicialmente, é pedido ao participante que preencha um formulário que abrange vários temas, desde a sua vida pessoal até questões relacionadas com os seus hábitos de sono. Em seguida, o participante deve introduzir os seus dados de sono, referentes à sua noite de sono anterior. Depois de tudo estar completo, inicia-se a fase mais crucial do estudo – os testes.

Ao participante é pedido que realize uma série de testes, composto por 12 minijogos, que passam pela memorização de sequências numéricas até à ordenação de vários itens. Os testes têm a duração de 30 a 40 minutos e devem ser realizados durante os três dias do estudo.

Mas existe uma contrapartida. No segundo dia do ensaio, é pedido ao participante que altere a sua rotina habitual de sono. O objectivo é os investigadores analisarem as diferenças no descanso de um dia para o outro.

Depois de concluir todas as etapas, o participante pode aceder à sua pontuação, ficando a conhecer o desempenho do seu cérebro nos testes. É ainda possível o utilizador obter um relatório sobre a sua saúde cerebral. Para isso basta realizar dez pequenos testes, que lhe vão fornecer dados sobre o estado do seu cérebro.

Bobby Stojanoski, um dos investigadores envolvidos neste estudo à escala mundial, disse ao Huffington Post que “todos temos más noites de sono de vez em quando e conduzimos os nossos carros e vamos para o trabalho”, questionando: “Estamos a fazer estas coisas num estado cognitivo privado [de sono]?”

Com este estudo, acrescenta Stojanoski, os cientistas esperam responder às questões sobre como o João Pestana interfere (ou não) nas nossas noites de descanso. “Com este estudo temos a oportunidade de aprender mais sobre a resposta do cérebro ao sono. O que obtivermos [na investigação] tem potencial para mudar a vida diária de milhões de pessoas”, referiu por sua vez Adrian Owen ao Huffington Post.

Apesar de ainda não existir uma data para o fim deste estudo, os investigadores esperam ter informações suficientes para começarem a analisar até ao final deste ano.