Príncipe que comanda guerras e reforma economia mais perto do trono saudita

Muito ambicioso, Mohammed bin Salman tem 31 anos e será o mais jovem rei de sempre na monarquia sunita do Golfo.

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O príncipe Salman teve uma ascensão fulminante Charles Platiau/Reuters

O reino dos santuários do islão, potência sunita do Golfo Pérsico, em confronto aberto com o Irão pela hegemonia regional, tem um novo príncipe herdeiro. O rei Salman, no trono desde 2015, afastou o sobrinho Mohamed bin Nayef (conhecido como “o saudita preferido de Washington) da linha de sucessão (e de todos os cargos que ocupava) e fez seu sucessor directo o filho, Mohammed bin Salman.

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O reino dos santuários do islão, potência sunita do Golfo Pérsico, em confronto aberto com o Irão pela hegemonia regional, tem um novo príncipe herdeiro. O rei Salman, no trono desde 2015, afastou o sobrinho Mohamed bin Nayef (conhecido como “o saudita preferido de Washington) da linha de sucessão (e de todos os cargos que ocupava) e fez seu sucessor directo o filho, Mohammed bin Salman.

MBS, como é tratado na Arábia Saudita, é diferente em quase tudo dos monarcas que têm assegurado a liderança em Riad desde a fundação do reino. Jovem, num país onde os reis chegam habitualmente ao trono depois dos 70 anos, tem um perfil mediático inédito, uma sede de poder assumida e uma postura de confronto aliada à vontade de imprimir mudanças a um ritmo estranho a uma monarquia conhecida por assegurar a estabilidade através da lentidão das mudanças.

Antes de ser nomeado príncipe herdeiro, MBS já acumulava mais poder do que qualquer outro saudita com excepção do rei: ministro da Defesa, lidera a guerra regional lançada pelos sauditas no Iémen e está na linha da frente da decisão recente de isolar o Qatar (membro do Conselho de Cooperação do Golfo, a aliança económica e política do Médio Oriente), acusando o país até agora aliado de apoiar terroristas e de aproximação ao Irão.

MBS chefia ainda o Conselho da Economia e do Desenvolvimento, responsável por um plano lançado para alterar estruturalmente o país, diversificando as fontes de rendimento (para lá do petróleo) e instituindo novas políticas da Educação à Saúde. Para além disso, é presidente do conselho de administração da companhia petrolífera nacional, a Aramco, sendo o primeiro membro da família real a coordenar directamente os seus negócios, um papel antes deixado a tecnocratas. A ascensão fulminante do príncipe Salman é ainda mais surpreendente quando se pensa que era desconhecido dos sauditas e do resto do mundo até Janeiro de 2015, quando o pai sucedeu ao irmão, Abdullah.

“Agora vou descansar. Que Deus te ajude”, disse Mohamed bin Nayef a Mohammed bin Salman, numa cerimónia transmitida na televisão saudita. “Que Deus te ajude. Nunca passarei sem os teus conselhos”, respondeu o novo herdeiro, MBS, ao primo, 26 anos mais velho. Nomeado segundo na linha de sucessão em Janeiro de 2015 e príncipe herdeiro logo em Abril do mesmo ano, Nayef ambicionava naturalmente chegar a rei. Mas na monarquia assistia-se à sua crescente marginalização em favor de MBS.

Alguns jovens sauditas estão contentes com o anúncio – afinal, acreditam que é tempo de uma nova geração governar; desde 1953 que o poder passou sempre de irmão para irmão, todos filhos do fundador do reino, Abdulaziz al Saud. Mas os analistas avisam que as mudanças podem implicar uma postura ainda mais bélica e temem que a determinação do príncipe seja mais fruto do comportamento errático de alguém pouco experiente do que resultado do pensamento de um grande estratega.