E se os bairros de Lisboa começassem a trabalhar uns com os outros?

Em seis anos, câmara de Lisboa investiu 9,18 milhões de euros no programa que apoia iniciativas locais para “mobilizar o território”. BIP/ZIP chegou a 530 entidades e 110 mil pessoas e quer crescer.

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A cozinha comunitária da Mouraria foi um dos projectos apoiados pelo programa RUI GAUDENCIO

Se a Cozinha Popular da Mouraria vai a festivais gastronómicos e as criações da Avó veio Trabalhar estiveram no Moda Lisboa, "deixa de fazer sentido dizer que o BIP/ZIP acaba ao fim de um ano". A sobrevivência dos projectos para lá do programa criado pela Câmara de Lisboa para financiar ideias que revitalizam espaços de intervenção prioritária na cidade é “o verdadeiro sucesso da iniciativa”, diz a vereadora Paula Marques, que o coordena.

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Se a Cozinha Popular da Mouraria vai a festivais gastronómicos e as criações da Avó veio Trabalhar estiveram no Moda Lisboa, "deixa de fazer sentido dizer que o BIP/ZIP acaba ao fim de um ano". A sobrevivência dos projectos para lá do programa criado pela Câmara de Lisboa para financiar ideias que revitalizam espaços de intervenção prioritária na cidade é “o verdadeiro sucesso da iniciativa”, diz a vereadora Paula Marques, que o coordena.

O BIP/ZIP já não é “só um projecto bem-intencionado”, mas “uma máquina bem oleada” no exercício de colocar associações e agentes locais a tratar dos seus problemas, constata.

Destinado a parcerias entre juntas de freguesia, associações locais, colectividades e organizações não-governamentais, o programa municipal chega aos sete anos e prepara-se para “lançar a sua versão 2.0”. Em vez de cada zona trabalhar de forma isolada, apresentando cada uma a sua candidatura, as associações de diferentes bairros vão ter de opção de apresentar propostas conjuntas. Paula Marques chama-lhes inter-bips, “propostas conjuntas para problemas comuns”.

Não chegando a tempo da edição deste ano – cujas candidaturas já estão abertas -, a proposta fará parte do regulamento das próximas edições.

A génese do programa mantem-se. Há 67 áreas da cidade referenciadas como “bairros e zonas de intervenção prioritária”, como a câmara municipal as definiu em 2011. São bairros sociais e bairros históricos, espaços com algum tipo de carência social e onde a coesão territorial é o calcanhar de Aquiles.

Nas vésperas de fecharem as candidaturas da sétima edição, somam-se nas edições passadas 232 projectos, 530 entidades envolvidas, 1500 actividades criadas em torno do programa. Segundo as contas da autarquia, 110 mil pessoas foram de alguma forma abrangidas - cerca de um quarto da população lisboeta.

O investimento municipal chegou aos 9,18 milhões de euros. Mas com os financiamentos externos recolhidos pelas associações, a totalidade dos projectos BIP/ZIP foram apoiados em 11,5 milhões de euros.

Foram precisas seis edições para que houvesse, pelo menos, um projecto BIP/ZIP nas 67 zonas que fazem parte do programa. O número de projectos implementados varia de zona para zona, mas é alimentado pela edição anterior: “O efeito de contágio é o grande motor do BIP/ZIP”, nota Paula Marques.

Ignição de uma energia social

“Os projectos iniciais, que financiamos, são a ignição da energia BIP/ZIP”, que não termina quando as paredes são erguidas ou se corta a fita da inauguração, diz a vereadora. “Às vezes é aí que a história começa”. Dá como exemplo: a primeira edição apoiou a criação da Casa Comunitária da Mouraria, num antigo edifício municipal. Hoje existe como sede da associação Renovar Mouraria que “potenciou o surgimento de outros projectos e que outras associações se juntassem”.

“É ver uma cidade a fervilhar”, classifica a vereadora. Mais do que os efeitos imediatos, construir uma cozinha comunitária ou um espaço de recreio, o programa quer “mobilizar o território”: despertar populações menos activas, desencadear a vontade de participar na sociedade e “fazer coisas para melhorar o bairro ou a rua”.

A responsabilidade está do lado das entidades promotoras – muitas vezes associações recém-criadas para o efeito. “É passar a vontade de resolver problemas de coesão territorial para quem realmente vive o território”: dar um fim comum a uma comunidade que nem sempre se viu como tal.

As obras são inteiramente geridas pelas associações. Da câmara, há apenas um acompanhamento da execução financeira: só é dada uma tranche do financiamento se os objectivos anteriores estiverem cumpridos.

Em seis edições, mais de 96% dos projectos foram implementados. Dois não se concretizaram. Mas a taxa de sucesso “é medida para lá do fim do apoio municipal”, que dura um ano. A capacidade de projectos ou equipamentos resistirem ao fim do programa (e do financiamento) é uma dos critérios de selecção.

Captar novas fontes de financiamento, “até a nível europeu”, e intensificar a troca de ideias entre entidades envolvidas são algumas das metas para as próximas edições.