World Press Photo em Lisboa, com imagens "difíceis de ver, outras agradáveis"

Exposição patente até 21 de Maio no Museu Nacional de Etnologia.

Fotogaleria

A exposição do concurso World Press Photo 2017 abre nesta sexta-feira ao público em Lisboa, no Museu Nacional de Etnologia.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A exposição do concurso World Press Photo 2017 abre nesta sexta-feira ao público em Lisboa, no Museu Nacional de Etnologia.

"Há imagens difíceis de ver, outras agradáveis e até muito belas. Todas elas celebram o jornalismo actual, as histórias que acontecem no mundo e que marcam", disse a curadora Suzan van den Berg à agência Lusa.

A fotografia de Burhan Ozbilici do assassinato do embaixador russo na Turquia foi a polémica vencedora deste ano e não está à entrada da exposição, como é habitual nestas mostras. Porquê? Foi uma decisão das duas comissárias, as holandesas Suzan van den Berg e Sophie Boshouwers.

"Não é realmente necessário que a imagem que recebeu o maior prémio esteja à entrada. Ela foi muito debatida, o que foi bom, mas nós optámos por não o fazer", justificou Suzan van den Berg.

O próprio presidente do júri do concurso World Press Photo 2017, Stuart Franklin, revelou, em Fevereiro, quando o prémio foi revelado, que votou contra a imagem do assassinato do embaixador russo na Turquia.

"Esta imagem de terror não deveria ser a fotografia do ano. Eu votei contra", afirmou o presidente do concurso internacional num artigo de opinião publicado, na altura, na edição online do jornal britânico The Guardian.

A foto escolhida pelo júri do prémio internacional mostra o polícia turco de pé, ao lado do corpo do embaixador Andrei Karlov, após o assassinato, que ocorreu durante um discurso, na inauguração de uma exposição de arte na capital da Turquia.

A imagem, captada por Burhan Ozbilici, fotógrafo da Associated Press, faz parte de uma série intitulada An Assassination in Turkey (Um assassinato na Turquia), que também conquistou o World Press Photo na categoria "Spot News - Stories".

"É a imagem de um assassinato, com o assassino e o morto, ambos na mesma fotografia, e moralmente é tão problemático como publicar um terrorista a decapitar a vítima", sustentou o presidente do júri.

"Colocar esta fotografia num pedestal tão alto é um convite àqueles que contemplam a espetacularidade destes palcos: reafirma a associação do martírio e publicidade", considera ainda.

Franklin elogiou o trabalho do fotógrafo turco e considera que merece reconhecimento, mas recorda que o debate sobre esta questão não é novo e que o seu voto contra foi por recear que os grandes prémios amplifiquem as mensagens de terroristas pela publicidade adicional.

É a terceira vez que a cobertura de um assassinato vence o concurso World Press Photo, sendo a mais conhecida a da morte de um suspeito guerrilheiro Vietcong, captada por Eddie Adams em 1968.

Na exposição, as fotografias percorrem oito categorias, desde o desporto, a natureza, a vida quotidiana, e revelam muita da violência actual no mundo: a guerra na Síria, a crise de refugiados que tentam atravessar o Mediterrâneo, onde muitos deles perdem a vida, as prisões nas Filipinas, onde os detidos dormem alinhados em escadas, sem poder esticar as pernas.

Nos projectos de fundo, surgem, entre outras, imagens de aspectos menos visíveis da vida no Irão, que possui uma das taxas mais elevadas do mundo de cirurgias ao nariz, ou temas relacionados com a natureza, com a criação de pandas gigantes em cativeiro para serem libertados na reserva natural de Wolong, na China.

A imagem vencedora deste ano foi escolhida entre 80.408 fotografias submetidas a competição por 5034 fotógrafos de 125 países e o júri premiou 45 fotógrafos de 25 países.

A exposição, patente até 21 de Maio, é organizada pela World Press Photo Foundation, uma organização sem fins lucrativos fundada em 1955, e, à semelhança das edições anteriores, a realização é assegurada pela revista Visão e pela SIC Notícias.