Comédias e boas

Se esperarmos o tempo suficiente tudo acaba por acontecer ou desiludir ou caír no esquecimento. Eu cá nunca pensei poder recomendar dois novos livros portugueses que estão muito bem escritos e que fazem rir em voz alta. Nunca houve dois. Que eu me lembre nunca houve um sequer.

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Se esperarmos o tempo suficiente tudo acaba por acontecer ou desiludir ou caír no esquecimento. Eu cá nunca pensei poder recomendar dois novos livros portugueses que estão muito bem escritos e que fazem rir em voz alta. Nunca houve dois. Que eu me lembre nunca houve um sequer.

Há livros que fazem rir pelas razões erradas. Mas estes fazem rir porque querem e conseguem. Estão cheios de sentido de humor, clareza de pensamento e vontade de brincar com a macambúzia seriedade da vida portuguesa.

Um deles é Erro extremo de Miguel Tamen e o outro é Alucinar o estrume de Júlio Henriques. De nada serve dizer que um livro é de crónicas e o outro é de contos. Ambos contêm uma selecção magnífica de textos satíricos de escárnio e mal dizer.

Os estilos literários de Miguel Tamen e Júlio Henriques são muito diferentes. Mas ambos partem de observações desinibidas e horrorizadas da cultura portuguesa contemporânea. E ambos escrevem com uma lucidez deliciosa em que a ironia nunca é interrompida. Não há à-partes, explicações para parvos, chamadas à acção, fingimentos trágicos, condescendências, temores ou pagamentos de quotas: só zombaria de primeira.

As comédias portuguesas sofrem de azedume, reivindicação e pedagogia. Cuspidos os manifestos não resta nada para mastigar e muito menos rir. Alucinar o estrume e Erro extremo são duas grandes excepções do nosso tempo.

Por algum inexplicável luxo aparecem numa mesma altura. Infelizmente não há perigo nenhum de nos habituarmos a estes prazeres.