Campeão depois de responder a anúncio de emprego na Internet

Hugo Broos era um entre centenas de candidatos ao lugar de seleccionador dos Camarões. Venceu a desconfiança com que foi recebido e levou os “leões indomáveis” ao título que escapava há 15 anos

Foto
Os jogadores dos Camarões levam Hugo Broos aos ombros, após a conquista da CAN por parte da selecção orientada pelo técnico belga LUSA/GAVIN BARKER

Quantos dos milhares de adeptos que saíram à rua para saudar a selecção camaronesa no regresso a casa, após o triunfo na final da Taça das Nações Africanas (CAN), esperariam estar a fazê-lo quando, há um ano, o comando técnico da equipa foi entregue a Hugo Broos? Muito poucos, para não dizer mesmo nenhuns: praticamente desconhecido, o belga de 64 anos conduziu os “leões indomáveis” ao quinto título continental, interrompendo um jejum que durava há década e meia. E tudo começou com um anúncio de emprego na Internet.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Quantos dos milhares de adeptos que saíram à rua para saudar a selecção camaronesa no regresso a casa, após o triunfo na final da Taça das Nações Africanas (CAN), esperariam estar a fazê-lo quando, há um ano, o comando técnico da equipa foi entregue a Hugo Broos? Muito poucos, para não dizer mesmo nenhuns: praticamente desconhecido, o belga de 64 anos conduziu os “leões indomáveis” ao quinto título continental, interrompendo um jejum que durava há década e meia. E tudo começou com um anúncio de emprego na Internet.

Com uma carreira construída quase por inteiro no futebol belga, Hugo Broos foi recebido com desconfiança nos Camarões. Há vários anos que a equipa estava em declínio – eliminada na fase de grupos dos Mundiais 2010 e 2014 com três derrotas em outros tantos jogos; afastada também na fase de grupos da CAN 2015 com dois empates e uma derrota. Os adeptos esperavam por um técnico com nome no futebol internacional.

A federação camaronesa optou por publicar um anúncio na Internet e recebeu quase três centenas de candidaturas. A lista reduziu-se a cinco escolhidos para o processo final de selecção (três franceses, um sérvio e um camaronês), mas foi Hugo Broos, que nem constava nesta lista final, que acabou por ser o eleito.

Broos, com 24 internacionalizações pela Bélgica no currículo (esteve no Mundial 1986, no México) e campeão belga como jogador e como treinador, tanto pelo Anderlecht como pelo Club Brugge, também participou nas conquistas europeias do emblema de Bruxelas: duas Taças dos Vencedores das Taças e uma Taça UEFA em 1982-83, frente ao Benfica. Mas o trajecto enquanto técnico começou a perder brilho na altura em que decidiu tentar a sorte longe do seu país: teve passagens breves pelo Panserraikos (Grécia) e Trabzonspor (Turquia) e apresentou a demissão nos argelinos do JS Kabylie alguns dias depois da morte do camaronês Albert Ebossé, atingido por uma pedra arremessada das bancadas.

Quando chegou a resposta positiva dos Camarões, Hugo Broos estava desempregado há um ano. A tarefa não era fácil: muitos jogadores tinham abandonado a selecção e impunha-se uma renovação. Apenas oito futebolistas repetiram a presença na convocatória para a fase final entre a CAN 2015 e a CAN 2017. Alguns dos principais nomes dos “leões indomáveis” recusaram a chamada, o que deu a vários jovens uma hipóteses de brilhar. O melhor exemplo é Christian Bassogog, que aos 21 anos foi eleito o melhor jogador do torneio e cuja primeira chamada à selecção aconteceu apenas há três meses.

“No início da CAN perguntaram-me quem achava que ia vencer e eu respondi que todas as equipas na fase final tinham capacidade de sagrarem-se campeãs. No Europeu do ano passado ninguém pensava que Portugal viesse a conquistar o troféu”, sublinhava Hugo Broos, em entrevista ao site da FIFA, após a fase de grupos da CAN 2017. “Quando cheguei tive de trazer alguns novos jogadores, porque dez tinham acabado de deixar a selecção. Mudámos a mentalidade dos jogadores, que agora estão altamente motivados por representarem o seu país”, acrescentava o técnico.

A selecção na qual poucos acreditavam surpreendeu tudo e todos e levou para casa o troféu de campeão africano. “[Broos] é um mágico, fez renascer o nosso grupo. Muitos não acreditavam nele, muitos criticaram-no. Quando via o que diziam dele nas redes sociais arrepiava-me. Mas agora é ele o herói dos Camarões. Deviam dar-lhe uma medalha por aquilo que fez”, vincou o internacional Michael Ngadeu-Ngadjui, após o triunfo sobre o Egipto na final da CAN 2017. “Já disse várias vezes que não tenho 23 jogadores, tenho 23 amigos. Acho que essa é a razão pela qual ganhámos”, admitiu Hugo Broos.

Equipas a sagrarem-se campeãs de África em casa houve várias, mas nenhuma esteve na posição que os Camarões vão experimentar em 2019: ser anfitrião do torneio ao mesmo tempo que defende o título. Antes disso, a Taça das Confederações espera pela equipa de Hugo Broos. Os “leões indomáveis” vão estar no Grupo B, com Chile, Austrália e Alemanha, na competição que começa a 17 de Junho e em que Portugal também participa.