Campeão depois de responder a anúncio de emprego na Internet
Hugo Broos era um entre centenas de candidatos ao lugar de seleccionador dos Camarões. Venceu a desconfiança com que foi recebido e levou os “leões indomáveis” ao título que escapava há 15 anos
Quantos dos milhares de adeptos que saíram à rua para saudar a selecção camaronesa no regresso a casa, após o triunfo na final da Taça das Nações Africanas (CAN), esperariam estar a fazê-lo quando, há um ano, o comando técnico da equipa foi entregue a Hugo Broos? Muito poucos, para não dizer mesmo nenhuns: praticamente desconhecido, o belga de 64 anos conduziu os “leões indomáveis” ao quinto título continental, interrompendo um jejum que durava há década e meia. E tudo começou com um anúncio de emprego na Internet.
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Quantos dos milhares de adeptos que saíram à rua para saudar a selecção camaronesa no regresso a casa, após o triunfo na final da Taça das Nações Africanas (CAN), esperariam estar a fazê-lo quando, há um ano, o comando técnico da equipa foi entregue a Hugo Broos? Muito poucos, para não dizer mesmo nenhuns: praticamente desconhecido, o belga de 64 anos conduziu os “leões indomáveis” ao quinto título continental, interrompendo um jejum que durava há década e meia. E tudo começou com um anúncio de emprego na Internet.
#CAN2017 - #LionsAreChampions ??
— Fecafoot-Officiel (@FecafootOfficie) February 6, 2017
Le peuple Camerounais escorte ses Héros ?????? pic.twitter.com/jaIOBuLYKS
Com uma carreira construída quase por inteiro no futebol belga, Hugo Broos foi recebido com desconfiança nos Camarões. Há vários anos que a equipa estava em declínio – eliminada na fase de grupos dos Mundiais 2010 e 2014 com três derrotas em outros tantos jogos; afastada também na fase de grupos da CAN 2015 com dois empates e uma derrota. Os adeptos esperavam por um técnico com nome no futebol internacional.
A federação camaronesa optou por publicar um anúncio na Internet e recebeu quase três centenas de candidaturas. A lista reduziu-se a cinco escolhidos para o processo final de selecção (três franceses, um sérvio e um camaronês), mas foi Hugo Broos, que nem constava nesta lista final, que acabou por ser o eleito.
Broos, com 24 internacionalizações pela Bélgica no currículo (esteve no Mundial 1986, no México) e campeão belga como jogador e como treinador, tanto pelo Anderlecht como pelo Club Brugge, também participou nas conquistas europeias do emblema de Bruxelas: duas Taças dos Vencedores das Taças e uma Taça UEFA em 1982-83, frente ao Benfica. Mas o trajecto enquanto técnico começou a perder brilho na altura em que decidiu tentar a sorte longe do seu país: teve passagens breves pelo Panserraikos (Grécia) e Trabzonspor (Turquia) e apresentou a demissão nos argelinos do JS Kabylie alguns dias depois da morte do camaronês Albert Ebossé, atingido por uma pedra arremessada das bancadas.
Quando chegou a resposta positiva dos Camarões, Hugo Broos estava desempregado há um ano. A tarefa não era fácil: muitos jogadores tinham abandonado a selecção e impunha-se uma renovação. Apenas oito futebolistas repetiram a presença na convocatória para a fase final entre a CAN 2015 e a CAN 2017. Alguns dos principais nomes dos “leões indomáveis” recusaram a chamada, o que deu a vários jovens uma hipóteses de brilhar. O melhor exemplo é Christian Bassogog, que aos 21 anos foi eleito o melhor jogador do torneio e cuja primeira chamada à selecção aconteceu apenas há três meses.
“No início da CAN perguntaram-me quem achava que ia vencer e eu respondi que todas as equipas na fase final tinham capacidade de sagrarem-se campeãs. No Europeu do ano passado ninguém pensava que Portugal viesse a conquistar o troféu”, sublinhava Hugo Broos, em entrevista ao site da FIFA, após a fase de grupos da CAN 2017. “Quando cheguei tive de trazer alguns novos jogadores, porque dez tinham acabado de deixar a selecção. Mudámos a mentalidade dos jogadores, que agora estão altamente motivados por representarem o seu país”, acrescentava o técnico.
A selecção na qual poucos acreditavam surpreendeu tudo e todos e levou para casa o troféu de campeão africano. “[Broos] é um mágico, fez renascer o nosso grupo. Muitos não acreditavam nele, muitos criticaram-no. Quando via o que diziam dele nas redes sociais arrepiava-me. Mas agora é ele o herói dos Camarões. Deviam dar-lhe uma medalha por aquilo que fez”, vincou o internacional Michael Ngadeu-Ngadjui, após o triunfo sobre o Egipto na final da CAN 2017. “Já disse várias vezes que não tenho 23 jogadores, tenho 23 amigos. Acho que essa é a razão pela qual ganhámos”, admitiu Hugo Broos.
Equipas a sagrarem-se campeãs de África em casa houve várias, mas nenhuma esteve na posição que os Camarões vão experimentar em 2019: ser anfitrião do torneio ao mesmo tempo que defende o título. Antes disso, a Taça das Confederações espera pela equipa de Hugo Broos. Os “leões indomáveis” vão estar no Grupo B, com Chile, Austrália e Alemanha, na competição que começa a 17 de Junho e em que Portugal também participa.