O belo impasse de Wim Wenders

Não se pode regressar a casa, pode-se apenas, e quando muito, ficar num limbo (que é o cinema) sem tempo e sem lugar. É um filme muito belo e muito justo.

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Regresso a um dos melhores momentos de Wim Wenders, um filme de “impasse”, e rodado num impasse, a paralisação das filmagens do Hammett que o realizador alemão estava a fazer na América, na babélica Zoetrope de Francis Ford Coppola. Quase tudo se passa em Portugal, numa praia perto de Lisboa, onde uma equipa de cinema fica condenada à imobilidade porque a produção já não tem mais película nem dinheiro para a mandar vir. Crónica de um tempo morto, que é em si mesmo o “estado das coisas”, o filme de Wenders tem algo de catártico (no que toca à experiência directa de Hammett), mas também acaba por ser um ponto determinante na resolução da primeira fase da sua obra, a mais marcada (em Alice nas Cidades, em O Amigo Americano) por uma fixação pela América e pelo cinema americano – a parte final, em Los Angeles (“capital do cinema”, como sabemos), tem o tom de uma aniquilação geral, como num western ou num filme de zombies. De certa forma – os paralelismos são muitos – é o Desprezo de Wenders, com Samuel Fuller no lugar que Fritz Lang ocupava no filme de Godard, simultaneamente um mestre homenageado e a interpretação de um espírito de outra época, quase um náufrago de outro tempo.

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Regresso a um dos melhores momentos de Wim Wenders, um filme de “impasse”, e rodado num impasse, a paralisação das filmagens do Hammett que o realizador alemão estava a fazer na América, na babélica Zoetrope de Francis Ford Coppola. Quase tudo se passa em Portugal, numa praia perto de Lisboa, onde uma equipa de cinema fica condenada à imobilidade porque a produção já não tem mais película nem dinheiro para a mandar vir. Crónica de um tempo morto, que é em si mesmo o “estado das coisas”, o filme de Wenders tem algo de catártico (no que toca à experiência directa de Hammett), mas também acaba por ser um ponto determinante na resolução da primeira fase da sua obra, a mais marcada (em Alice nas Cidades, em O Amigo Americano) por uma fixação pela América e pelo cinema americano – a parte final, em Los Angeles (“capital do cinema”, como sabemos), tem o tom de uma aniquilação geral, como num western ou num filme de zombies. De certa forma – os paralelismos são muitos – é o Desprezo de Wenders, com Samuel Fuller no lugar que Fritz Lang ocupava no filme de Godard, simultaneamente um mestre homenageado e a interpretação de um espírito de outra época, quase um náufrago de outro tempo.

Wenders, que pouco antes havia filmado a despedida de Nicholas Ray (em Lightning Over Water), exprimia aqui a mais “ray-ana” das conclusões: não se pode regressar casa, pode-se apenas, e quando muito, ficar num limbo (que é o cinema) sem tempo e sem lugar. É um filme muito belo e muito justo, com um especial interesse para portugueses (é uma “conserva” de Lisboa e arredores nos anos 80), que ainda se vê, e se calhar cada vez mais, como um dos pontos altos de um cineasta que, no futuro, nos traria incontáveis decepções.

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