O Vendedor: uma relativa decepção.

A fasquia não baixa de determinado patamar, mas é impossível não ver o O Vendedor como uma relativa decepção.

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Com Uma Separação, no princípio da década, Asgar Farhadi tocou, e muito justamente (era um belo filme), na nota certa para fazer o seu nome entrar no círculo internacional dos “autores” contemporâneos.

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Com Uma Separação, no princípio da década, Asgar Farhadi tocou, e muito justamente (era um belo filme), na nota certa para fazer o seu nome entrar no círculo internacional dos “autores” contemporâneos.

Depois, aparentemente, ficou lá preso, como que condenado a tentar repetir aquela nota com a mesma exactidão. Coisa que ainda não aconteceu, e não acontece neste Vendedor, filme cheio de marcas de reconhecimento e profundamente repetitivo (se à ideia de “repetição” tirarmos todas as conotações positivas).

É outra vez a figura do casal num acossado contexto iraniano, a intimidade, os silêncios, os mal entendidos, com o tempero exógeno da Morte de um Caixeiro Viajante (a peça de Miller a funcionar como “teatro no filme”) a produzir um deliberado “segundo nível” de leitura.

Tudo está, digamos, “conceptualmente” certo, mas também tudo é mais maquinal, calculado, e com isso sofre o centro do filme, o tratamento da relação entre os dois protagonistas, bem menos rigoroso do que em Uma Separação, dependente de certos truques (o trabalho de câmara em “nervosismo” artificial) para dar a ver a angústia subjacente. A fasquia não baixa de determinado patamar, mas é impossível não ver o O Vendedor como uma relativa decepção.