Os vizinhos de Álvaro Siza chegam ao CCB no final de 2017
Exposição que representou Portugal na Bienal de Arquitectura de Veneza vai estar em Lisboa em Novembro.
Como é que se transforma uma exposição que se transformou num edifício novamente numa exposição? É esse o desafio dos comissários Nuno Grande e Roberto Cremascoli quando trouxerem para Lisboa, em Novembro de 2017, a exposição Vizinhança, que deu forma ao chamado "Pavilhão de Portugal" na XV Bienal de Arquitectura de Veneza e que este ano ocupou um edifício inacabado de Álvaro Siza nesta cidade italiana, parte da sua importante obra dedicada à habitação social, e por concluir há 32 anos.
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Como é que se transforma uma exposição que se transformou num edifício novamente numa exposição? É esse o desafio dos comissários Nuno Grande e Roberto Cremascoli quando trouxerem para Lisboa, em Novembro de 2017, a exposição Vizinhança, que deu forma ao chamado "Pavilhão de Portugal" na XV Bienal de Arquitectura de Veneza e que este ano ocupou um edifício inacabado de Álvaro Siza nesta cidade italiana, parte da sua importante obra dedicada à habitação social, e por concluir há 32 anos.
“Espero que num ano esta exposição se transforme num edifício [acabado]”, disse Nuno Grande na finissage da representação oficial portuguesa em Veneza, no final de Novembro, referindo-se ao anúncio feito pela ATER Veneza, a agência pública que promove a habitação na região, de que brevemente teriam o resultado do concurso de construção para o qual já tinham recebido várias propostas. Esta obra de Siza na ilha da Giudecca, composta por dois blocos que desenham um "L" no Campo de Marte, é resultado de um concurso público que o arquitecto português ganhou nos anos 80 e para o qual convidou outros arquitectos a participar, como o italiano Aldo Rossi ou o espanhol Rafael Moneo. Se o projecto do primeiro foi construído, o segundo também está ainda por realizar, mas, ao contrário do de Siza, não foi agora repescado.
“Ainda não pensámos como vamos remontar a exposição da Giudecca no CCB, porque não nos sentámos com a equipa do centro e não sabemos que orçamento dispomos”, explicou Nuno Grande já em Portugal. Se em Veneza a exposição foi “um site-specific”, “uma ocupação” do edifício por concluir na ilha da Giudecca, mesmo em frente à praça de São Marcos, no CCB será mais convencional e terá provavelmente mais fotografia dos projectos sociais para Veneza, Berlim, Haia e Porto, além dos vídeos feitos com os "vizinhos" (os habitantes) destes bairros sociais. “O ambiente de squat perdeu-se, mas isso não é necessariamente mau e vai obrigar-nos a pensar para conseguirmos evocar a informalidade da Giudecca.”
Sobre o balanço que faz da representação nacional, com este formato inusitado para o Pavilhão de Portugal, Nuno Grande está contente com o resultado, “porque as pessoas da Giudecca perceberam a importância de ter a bienal na ilha”, uma vez que “lhes trouxe a possibilidade de ter a obra acabada”, elas que estão habituadas a ser “marginalizadas” pela cidade rica que vêem mesmo em frente. E trouxe 7280 visitantes, incluindo os resultados da semana da finissage, uma boa presença nos jornais italianos, bem como em revistas especializadas como a Domus, com um investimento de 190 mil euros da DGArtes (fora mecenas).
No centro histórico de Veneza, onde a bienal acontece entre os Giardini e o Arsenale, “há todo um lado um bocadinho nacionalista, em que cada país leva para o pavilhão o melhor que tem”. “O nosso pavilhão é um statement político do que pode ser a acção de cada país neste evento.” Talvez não se consiga fazer todos os anos, porque é uma dor de cabeça de autorizações instalar uma exposição internacional num edifício que não está acabado – “foram seis meses a lutar contra a natureza”, como disse o comissário durante a cerimónia de encerramento. Mas,quando pensa na possibilidade de arranjar um pavilhão definitivo para a representação oficial nas bienais de arquitectura e de arte (a nova directora-geral das Artes, Paula Varanda, disse ao PÚBLICO em Veneza que o assunto voltou a estar em cima da mesa), Nuno Grande acha cada vez “mais interessante ter um lugar fora dos Giardini”.
Na Giudecca, diz o comissário, Portugal estava mesmo “na frente dos problemas”, como o tema da habitação social em linha com o tema geral – Reporting From the Front (onde estavam sete arquitectos portugueses representados) –, escolhido pelo chileno Alejandro Aravena, comissário-geral da XV Bienal, a que já chamaram “a Bienal dos pobres” ou “a Bienal social” e que levou a Veneza 260 mil visitantes em seis meses.
Segundo a DGArtes, na anterior Bienal de Arquitectura (2014), em que não houve propriamente um pavilhão mas foi publicado um jornal – Homeland: News From Portugal, com comissariado de Pedro Campos Costa –, contabilizaram-se 43.300 exemplares distribuídos nos Giardini e no Arsenale; já a edição de 2012, com Inês Lobo como comissária e três meses de duração, levou 6900 visitantes à Fondaco Marcello, à beira do Canal Grande, que apresentava duas dezenas de projectos para Lisboa, entre os quais o de Siza para o Chiado, que nesse ano recebeu em Veneza o Leão de Ouro pela Carreira.