Finalmente Siza vai terminar o edifício da Giudecca em Veneza

As boas notícias chegaram na véspera de fechar o Pavilhão de Portugal na Bienal de Veneza, que este ano ocupou um edifício inacabado do arquitecto Álvaro Siza na ilha da Giudecca. A conclusão desta história com 32 anos deve começar em Abril.

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Álvaro Siza no bairro da Giudecca, em Veneza Jordi Burch
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O escultor José Pedro Croft Nuno Ferreira Santos

A beleza é o “pecado do arquitecto”. No dia em que se encerra o Pavilhão de Portugal na Bienal de Arquitectura de Veneza, Álvaro Siza, o arquitecto escolhido para representar Portugal nesta exposição inaugurada em Maio, respondia assim à história contada pela já famosa habitante da Giudecca, Sonia Secchi, que vive na ilha em frente à praça de São Marcos em Veneza, no complexo de habitação social que Siza desenhou em 1984.

Sonia, que habita o primeiro andar do n.º 961, queria uma janela na casa-de-banho, e o diálogo com a população, imagem de marca dos projectos de habitação social que começaram em Portugal a seguir ao 25 de Abril, conhecidos como operação SAAL, voltou neste sábado perante a audiência que compareceu à “finissage” do pavilhão e que ficou a saber que o segundo edifício deste complexo que Siza desenhou em “L” a rematar o Campo de Marte vai mesmo ser terminado e ficar pronto em 2018, como foi prometido no início da bienal.

Antes de voltarmos às boas notícias, que deixaram Sonia Secchi e as amigas algo cépticas, Álvaro Siza explica “essa cedência à estética” que levou a não ter atendido à reclamação da ausência de janela de alguns habitantes registada em vídeo pelos jornalistas da SIC e que faz parte desta exposição intitulada Vizinhança, comissariada pelos arquitectos Nuno Grande e Roberto Cremascoli e apoiada pela Direcção-Geral das Artes. “É um pecado, mas não digo que não o volto a fazer. A beleza diz respeito a todos e não só aos que habitam os edifícios.”

Em qualquer projecto há tensões, e a dificuldade é encontrar o equilíbrio entre os vários interesses. “Mas o objectivo primeiro da arquitectura é a beleza”, reiterou Siza ao PÚBLICO, acrescentado que a beleza não exclui os outros aspectos, “porque para encontrar a beleza é preciso resolver os problemas concretos, de conforto, por exemplo, e ela não é uma dama solitária”.

As boas notícias anunciadas pelos dois comissários, explica Álvaro Siza aos jornalistas, é que o concurso de construção do edifício já foi lançado, e já tem sete propostas. “Para a semana, o júri vai reunir e escolher o construtor vencedor. Depois de uma paragem de dez anos, agora estão reunidas as condições. É coisa para se fazer num ano.”

O que será construído é o mesmo projecto desenhado há 32 anos e as únicas mudanças serão técnicas, como o isolamento das paredes. “Não há nenhuma alteração. Não senti essa necessidade porque este é um projecto completo que foi interrompido”, explicou depois de uma pergunta do PÚBLICO.

O que Siza quis explicar a Sonia – que gosta da sua casa porque é “luminosa, tem ar e não é húmida” –, e à inúmera audiência, foram as contradições que existem sempre na arquitectura e nas cidades. A Veneza que está aqui não é a dos palácios, erudita e imponente, mas “muito geométrica e simples”, dos blocos alongados, neste caso com cerca de 60 metros, “uma construção contínua de células”.

A Veneza descrita pela historiadora da arquitectura Egle Trincanato, através de quem Siza estudou o tecido urbano da cidade na obra Venezia Minore, uma investigação irmã da obra “seminal”, como dizem os comissários, do arquitecto e teórico Aldo Rossi, A Arquitectura da Cidade, o outro homenageado da exposição, que tem como subtítulo Where Alvaro Meets Aldo. Rossi é também um dos autores dos outros edifícios do complexo do Campo de Marte, convidados por Siza nos anos 80 depois de ter ganho o concurso público para o bairro.

Simone Zanardi, da ATER Veneza, a agência pública que promove a habitação social, promete que este edifício para 19 famílias, com um orçamento de dois milhões de euros, “vai mesmo acontecer”. Em dez anos e com 50 projectos, o ATER só uma vez atrasou o início da construção, que aqui pode começar depois de, em Janeiro, se chegar à adjudicação do empreiteiro.

Mas Sonia Secchi mantém-se incrédula, como São Tomé: “Só quando vir é que acredito. Já passou tanto tempo.”

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