Quando posamos em grupo, o que dizemos de nós?

O que têm em comum os trabalhadores da Estátua da Liberdade e uma convenção de vendedores de aspiradores? Todos posaram para a câmara de Neal Slavin.

Fotogaleria

Neal Slavin tem um palpite sobre o que seria a sua vida se não se fosse fotógrafo. Quase cinco décadas depois de ter começado, e após uma carreira completa, com três fotolivros publicados e colaborações com o The New York Times, a Rolling Stone ou a Life, para citar apenas algumas, o norte-americano acredita que se a sua vida não se tivesse traduzido nisto talvez tivesse sido sociólogo. Vem isto a propósito do seu extenso trabalho de fotografar grupos de pessoas. Um trabalho que já se materializou em livro (When two or more are gathered together, publicado pela Farrar, Straus and Giroux em 1976) e que actualmente pode ser visto na galeria nova-iorquina Laurence Miller, com a exposição A 40 Year Chronicle Of Groups And Gatherings.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Neal Slavin tem um palpite sobre o que seria a sua vida se não se fosse fotógrafo. Quase cinco décadas depois de ter começado, e após uma carreira completa, com três fotolivros publicados e colaborações com o The New York Times, a Rolling Stone ou a Life, para citar apenas algumas, o norte-americano acredita que se a sua vida não se tivesse traduzido nisto talvez tivesse sido sociólogo. Vem isto a propósito do seu extenso trabalho de fotografar grupos de pessoas. Um trabalho que já se materializou em livro (When two or more are gathered together, publicado pela Farrar, Straus and Giroux em 1976) e que actualmente pode ser visto na galeria nova-iorquina Laurence Miller, com a exposição A 40 Year Chronicle Of Groups And Gatherings.

Para encontrarmos a origem desta série, onde cabem vendedores de cachorros quentes e Pais Natais mas também ambientes institucionais - como aquela fotografia em que os funcionários da Biblioteca Pública de Nova Iorque se alinharam de propósito para a objectiva de Slavin -, temos de recuar até aos anos 1970. Neal Slavin tinha estado em Portugal alguns anos antes, entre 1967 e 68, a realizar um trabalho sobre o qual recentemente falou ao PÚBLICO. Nessa altura interessava-lhe mais a fotografia de rua, o fotojornalismo, num registo assumidamente mais espontâneo. Fotografava sobretudo a preto e branco. Foi esse Portugal sombrio que levou consigo em milhares de imagens.

Um dia, de regresso aos Estados Unidos, encontrou uma fotografia em que apareciam escuteiros perfilados em pose de grupo. Uma fotografia sobre a qual já tinham passado 12 anos. “Fui confrontado de repente com a ideia de que uma fotografia representa o tempo e a memória”, explica em entrevista por e-mail ao PÚBLICO. O que era feito daqueles rapazes? E essa pergunta, que ficou em aberto, despertou nele um interesse ainda maior sobre os retratos de grupo. “Pareceu-me, instantaneamente, a melhor forma de assinalar a ideia de memória como nenhuma outra forma de fotografia poderia fazer”, detalha Slavin. Não teve outra solução senão pôr mãos à obra e testar a sua tese. Abraçou a cor nas suas fotografias e iniciou um registo impressionante de grupos e organizações, não só nos Estados Unidos mas também no Reino Unido. Desse catálogo de comunidades fazem parte personagens como lutadores de wrestling, trabalhadores da Estátua da Liberdade, concorrentes a Miss Estados Unidos, uma convenção de gémeos ou a Bolsa de Valores de Nova Iorque: todos parados por uns minutos para posarem para Slavin.

Há uns anos, numa outra entrevista, afirmou que “as pessoas olham para o seu trabalho como peculiar” embora na sua opinião esteja apenas a documentar estes grupos. É precisamente neste ponto que voltamos ao seu palpite de que poderia ter sido sociólogo. Ao reunir estes grupos de pessoas à sua frente, e da câmara Hasselblad que usou para a maior parte destes retratos, Slavin não os fitava com um olhar puramente fotográfico. Interessavam-lhe as movimentações dos fotografados e seguia essas decisões tomadas dentro dos próprios grupos com bastante atenção. Depois de escolhido o cenário, deixava nas mãos dos elementos do grupo a responsabilidade pela composição da fotografia. Quem se destacava na primeira fila, quem procurava passar despercebido, quem acabava num lugar mais recôndito. Neal Slavin prefere não ter uma palavra a dizer nessas escolhas. “Nunca interfiro nisso. É da responsabilidade do grupo e da sua diplomacia interna”, descreve. “Dessa forma, cada fotografia é quase um documento sociólogico sobre como as pessoas no seio de um grupo se vêem a si próprias.”

Quando começou, Slavin não sabia que esta série lhe ia consumir tanto tempo durante os 40 anos seguintes. Actualmente tem em mãos um projecto em que, apesar de manter a tónica na ideia de comunidade, segue uma abordagem distinta. Com The Prayer Book, que será um livro e também um filme, dedica-se a fotografar diferentes grupos religiosos. Ao contrário do que sucedeu na maior parte dos seus anteriores retratos de grupo, Slavin decidiu fugir aos retratos em pose. Em vez disso, prefere não ter controlo sobre a forma como um grupo se posiciona. Quer captar os momentos de êxtase espiritual. “Tem valido a pena”.