Vitória de Clinton no "voto popular" reacende discussão sobre sistema eleitoral

No sistema eleitoral dos EUA é possível o candidato que reúne maior número de votos sair derrotado. Aconteceu em 2016 e já tinha acontecido, por exemplo, em 2000.

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Reuters/BRIAN SNYDER

Se se confirmar a tendência nos resultados finais nas eleições americanas, Donald Trump será eleito Presidente dos EUA apesar de ter recolhido menos votos do que Hillary Clinton. Este cenário pode reavivar a discussão sobre a reforma do sistema eleitoral norte-americano.

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Se se confirmar a tendência nos resultados finais nas eleições americanas, Donald Trump será eleito Presidente dos EUA apesar de ter recolhido menos votos do que Hillary Clinton. Este cenário pode reavivar a discussão sobre a reforma do sistema eleitoral norte-americano.

Numa altura em que a contagem ainda não está terminada, a democrata recolheu mais 200 mil votos do que o empresário: 59.813.991 contra 59.611.551. Uma gota de água nos mais de 120 milhões de boletins que entraram nas urnas nas eleições, mas que, no entanto, permitiu que o republicano festejasse a vitória.

Em eleições directas, a antiga primeira-dama teria sido eleita para a Casa Branca (47,7% contra 47,5%). Mas nos EUA são os grandes eleitores escolhidos estado por estado que garantem a vitória final, e aí, Donald Trump esmagou a concorrência: 279 contra 228 (e ainda há 31 por apurar). São necessários 270 para garantir a entrada na Sala Oval.

Para Robert Shapiro, professor de ciência política na Universidade de Columbia em Nova Iorque, redesenhar o Colégio Eleitoral implicaria alterar a sacrossanta Constituição dos EUA, o que é uma tarefa delicada. “A questão é até que ponto o nosso sistema é democrático”, reconhece.

Antes desta vitória de Donald Trump, outro republicano, George W. Bush, havia imposto em 2000 uma vitória a Al Gore, quando não conseguiu igualmente recolher a maioria dos votos: 48,4% para o democrata contra 47,9% para o antigo Presidente dos EUA.

Este cenário pode mesmo tornar-se norma, diz Shapiro. Se a regra “uma pessoa = um voto” é um pilar da democracia, continua, a eleição indirecta altera o jogo.

Em todos os 50 estados e na capital Washington, os votos são convertidos em grandes eleitores, cujo número varia em função da população de cada estado.

Sem uma mudança na Constituição, os estados que compõem os EUA poderiam adoptar leis para atribuir os seus grandes eleitores ao candidato com a maioria dos votos a nível nacional. Porém este tipo de iniciativa, até ao momento, não surtiu efeitos.