Não se trata apenas de mostrar, mas explicar o mundo

Três fotojornalistas de talento reconhecido – Mário Cruz, Phil Moore e Dominic Nahr – mostram trabalhos que tentam ir para além do instantâneo, de Lisboa à RD Congo. A segunda edição do Sintra Press Photo começa no dia 22

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Os avisos (e as perguntas) têm-se sucedido nos últimos anos: estará o fotojornalismo a perder relevância num sistema mediático extraordinariamente rápido, repetitivo, formatado e cada vez menos disposto a esperar por uma história? Há, como em tudo, respostas muito díspares, mas não deixa de ser marcante que alguém com o carisma de François Cheval, director do museu Nicéphore-Niépce (o inventor da fotografia) diga (como disse este ano no festival PhotoEspaña) que em muitas situações são as câmaras de segurança a fazer o trabalho do fotojornalista. Para Cheval, comissário de dezenas de exposições de vários campos da fotografia, é preciso aceitar que as imagens fotográficas “já não falam sozinhas” e que é necessário juntar várias dimensões (registos, expressões, contextos) da realidade para tentar compreender o mundo. “Podemos ver fotografias de meninos mortos na praia, mas isso não muda nada. Queima os olhos, nada mais.”

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Os avisos (e as perguntas) têm-se sucedido nos últimos anos: estará o fotojornalismo a perder relevância num sistema mediático extraordinariamente rápido, repetitivo, formatado e cada vez menos disposto a esperar por uma história? Há, como em tudo, respostas muito díspares, mas não deixa de ser marcante que alguém com o carisma de François Cheval, director do museu Nicéphore-Niépce (o inventor da fotografia) diga (como disse este ano no festival PhotoEspaña) que em muitas situações são as câmaras de segurança a fazer o trabalho do fotojornalista. Para Cheval, comissário de dezenas de exposições de vários campos da fotografia, é preciso aceitar que as imagens fotográficas “já não falam sozinhas” e que é necessário juntar várias dimensões (registos, expressões, contextos) da realidade para tentar compreender o mundo. “Podemos ver fotografias de meninos mortos na praia, mas isso não muda nada. Queima os olhos, nada mais.”

Estará o fotojornalismo de hoje a conseguir fazer esta conta de somar? O Sintra Press Photo (no Museu das Artes de Sintra, a partir de 22 de Outubro) ensaiará respostas a esta e outras inquietações através dos trabalhos (e da presença, no dia da inauguração, às 17h) de três fotojornalistas de renome internacional: Mário Cruz (Portugal), Phil Moore (Reino Unido) e Dominic Nahr (Suíça). Moore - que mostrará o trabalho Nightwalkers, realizado durante dois anos na região leste da República Democrática do Congo, onde a população vive em constante sobressalto por causa do conflito que opõe as forças governamentais e os rebeldes do movimento “M23” – não tem dúvidas de que o fotojornalismo de hoje não perdeu relevância, mas admite que a luta pela sobrevivência dos media noticiosos e a pressão constante para se adaptarem a novas formas de distribuição possa prejudicar o desempenho da profissão. “Compete ao jornalismo dar sentido à realidade, colocando-a em contexto, explicando a sua relevância e as suas nuances. É fácil para qualquer pessoa tirar uma ‘boa fotografia’, mas a importância do fotojornalismo tem a ver com o story-telling. Não se trata apenas de mostrar, mas explicar o mundo, explicar o que está a acontecer”, disse ao PÚBLICO o repórter britânico.

Dominic Nahr mostrará o trabalho Fallout, sobre a destruição e consequências do terramoto e acidente nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011. Mário Cruz exporá Roof, sobre o quotidiano de um grupo de sem-abrigo a viver em edifícios abandonados em Lisboa.