Damasco reforça ofensiva sobre Alepo

Exército sírio pretende enviar forças terrestres para tomar as zonas rebeldes. Reunião internacional para alcançar cessar-fogo sem sucesso.

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Elemento dos capacetes brancos em Alepo, após um bombardeamento aéreo Karam al-Masri / AFP

O Exército sírio está a intensificar a ofensiva para controlar a totalidade de Alepo, um dos pontos cruciais do conflito no país. Aviões da Força Aérea síria, apoiados pela Rússia, lançaram uma centena de raids na última noite sobre as zonas controladas pelos rebeldes.

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O Exército sírio está a intensificar a ofensiva para controlar a totalidade de Alepo, um dos pontos cruciais do conflito no país. Aviões da Força Aérea síria, apoiados pela Rússia, lançaram uma centena de raids na última noite sobre as zonas controladas pelos rebeldes.

Na quinta-feira à noite, o Exército sírio anunciou o lançamento de uma ofensiva, que pode incluir tropas terrestres, para tomar a zona leste de Alepo, actualmente ocupada pelos grupos de oposição e onde vivem 250 mil pessoas. “Tal como qualquer operação militar, começa com bombardeamentos aéreos e ataques de artilharia preparatórios e depois as forças terrestres trabalham de acordo com os resultados dos ataques e do seu impacto”, disse à Reuters uma fonte militar síria.

Alepo tem sido palco de alguns dos ataques mais intensos nas últimas noites, na ressaca do fim do cessar-fogo que tinha vigorado durante uma semana. Apesar do regresso da violência, as Nações Unidas conseguiram enviar na quinta-feira alguns camiões com ajuda humanitária para os bairros cercados — onde os alimentos e medicamentos são cada vez mais escassos.

Pelo menos três centros operados pelo grupo de socorristas voluntários conhecidos como Capacetes Brancos foram atingidos pelos bombardeamentos, diz a Al-Jazira. Foram ainda destruídos cinco veículos usados nas operações de salvamento, incluindo uma ambulância.

Pelo menos sete pessoas morreram durante os bombardeamentos, de acordo com um balanço do Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), citado pela AFP. O número de vítimas corre, porém, o risco de aumentar nas próximas horas.

Na quinta-feira, o Presidente sírio, Bashar al-Assad, deu uma entrevista à Associated Press em que desvalorizou as acusações de que o Exército tem utilizado bombas-barril. "Qual é a diferença entre os diferentes tipos de bombas? Todas as bombas são para matar, mas é como se usa. Quando se usa armamento (...) matam-se terroristas para defender civis", disse Assad.

Entretanto, a ONU disse estar a estudar “todos os meios possíveis” para fazer chegar ajuda à zona leste de Alepo. Até agora, os camiões com ajuda humanitária provenientes da Turquia utilizam a estrada do Castello, controlada pelo Governo sírio. O acordo de cessar-fogo assinado entre Washington e Moscovo no início do mês previa a desmilitarização dessa rota, mas uma frota de camiões do Crescente Vermelho acabou por ser atingida na segunda-feira — pondo um fim definitivo à trégua.

Em Nova Iorque, tentou-se na noite desta sexta-feira regressar à via diplomática. Foi convocada uma reunião do Grupo Internacional de Apoio à Síria, que reúne vários países e organismos, mas as negociações saíram goradas e as recriminações voltaram a dominar. O mediador da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, não poupou os responsáveis diplomáticos envolvidos naquela que foi uma reunião “longa, dolorosa, difícil e desapontante”.

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, garantiu não estar menos determinado em conseguir alcançar um acordo para travar a violência, mas não escondeu estar igualmente “mais frustrado”. O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, descreveu uma reunião “intensa” e classificou a proposta norte-americana de manter os aviões militares em terra como “não satisfatória”.