Merkel preparada para nova derrota, desta vez em Berlim

CDU pode ser excluída da coligação no poder na capital. Sob pressão, chanceler deixa cair o mote "Nós conseguimos" que definia a sua política de acolhimento dos refugiados

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Cresce a pressão dentro da CDU para que Merkel recue na sua política de acolhimento de refugiados Leonhard Foeger/Reuters

O partido de Angela Merkel prepara-se neste domingo para mais um mau resultado eleitoral na senda de desaires que têm vindo a colocar a chanceler alemã sob uma pressão que ela até agora desconhecia. Os democratas-cristãos (CDU) arriscam-se a ficar de fora da coligação com os sociais-democratas que há cinco anos governa a cidade-estado de Berlim, podendo não ir além do terceiro lugar.

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O partido de Angela Merkel prepara-se neste domingo para mais um mau resultado eleitoral na senda de desaires que têm vindo a colocar a chanceler alemã sob uma pressão que ela até agora desconhecia. Os democratas-cristãos (CDU) arriscam-se a ficar de fora da coligação com os sociais-democratas que há cinco anos governa a cidade-estado de Berlim, podendo não ir além do terceiro lugar.

Ao contrário do que acontece noutras regiões, a questão dos refugiados e o receio do terrorismo não dominaram a campanha na capital federal, centrada nas questões comuns às grandes metrópoles – a habitação cada vez mais escassa e cara, a degradação dos transportes públicos – e outras muito próprias de Berlim, como a burocracia, as obras intermináveis e o há muito adiado novo aeroporto.

Um terreno, por isso, menos fértil ao discurso do Alternativa para a Alemanha (AFD), o partido de extrema-direita que coroou uma série de avanços em eleições regionais com o segundo lugar conseguido há duas semanas Land (estado-federado) de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental (Nordeste), à frente da CDU. Ainda assim, as sondagens atribuem à AFD cerca de 12% dos votos, um resultado que Michael Müller, o actual burgomestre e candidato dos sociais-democratas, avisou que será visto no mundo como um “sinal de que a extrema-direita está de regresso à Alemanha”.

Müller – incitado pelas sondagens que atribuem ao partido de Merkel uma votação abaixo dos 20%, taco a taco com os Verdes – anunciou que prefere trocar a coligação com a CDU por uma aliança à esquerda, ainda que tenha de a estender ao Die Linke, que agrega ex-comunistas. Não está excluída a renovação da actual maioria, mais provável se a CDU conseguir um confortável segundo lugar. Mas se as piores previsões se confirmarem, é de novo sobre a chanceler que a pressão se fará sentir, sobretudo dos que na direita do seu partido exigem que, de uma vez por todas, arrepie caminho na sua política de acolhimento de refugiados.

Os aliados bávaros da CSU não desistem de exigir a Merkel que fixe um tecto máximo para o número de candidatos a asilo que o país pode receber e o jornal Die Zeit noticiou que um grupo de dissidentes dentro da CDU lhe deu até à próxima terça-feira para anunciar um recuo.

Consequência ou não, Merkel revelou que desistiu de usar a frase “Wir schaffen das” (Nós conseguimos) que adoptou como mote no pico da crise de refugiados, por considerar que, de tanto a repetir “se tornou uma fórmula quase vazia”. “Às vezes penso que a frase foi um pouco exagerada, que alimentou demasiadas expectativas, ao ponto de preferir não repeti-la”, afirmou a chanceler numa entrevista à revista económica Wirtschaftswoche, publicada neste sábado.

O mantra, destinado a responder aos que insistiam que a Alemanha se debate para acolher os mais de um milhão de refugiados que chegaram ao país, mas agora a chanceler argumenta que “algumas pessoas sentem-se provocadas por ela”.