Trump foi recebido pelo “amigo” Peña Nieto, mas não se livrou dos protestos

O clima amigável entre o candidato e o líder mexicano contrastou com as violentas críticas à surpreendente visita do magnata.

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Peña Nieto e Trump após o seu encontro no palácio presidencial Yuri Cortez / AFP

O candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, foi recebido esta quarta-feira com honras de chefe de Estado na Cidade do México pelo Presidente Enrique Peña Nieto. Em pleno palácio presidencial de Los Pinos, Trump pôde vestir o seu novo fato de estadista, falou dos desafios conjuntos entre os dois países e elogiou os mexicanos que moram nos EUA. Mas não se discutiu quem paga, afinal, o muro na fronteira prometido pelo magnata.

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O candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, foi recebido esta quarta-feira com honras de chefe de Estado na Cidade do México pelo Presidente Enrique Peña Nieto. Em pleno palácio presidencial de Los Pinos, Trump pôde vestir o seu novo fato de estadista, falou dos desafios conjuntos entre os dois países e elogiou os mexicanos que moram nos EUA. Mas não se discutiu quem paga, afinal, o muro na fronteira prometido pelo magnata.

Peña Nieto esclareceu que o convite que fez a Trump serve para “superar mal entendidos” e falar sobre “o futuro partilhado” entre os dois países. No final, o Presidente mexicano disse que a conversa foi “aberta e construtiva” e chamou “amigo” a Donald Trump.

Nunca seria uma visita fácil para Donald Trump, depois de grande parte da sua campanha ter girado em torno de insultos ao país vizinho dos Estados Unidos. E, no México, isso não foi esquecido. Nas redes sociais circularam as mais diversas mensagens que variavam entre o gozo, o repúdio e até o ódio contra o candidato à Casa Branca.

A Assembleia Legislativa do Distrito Federal foi mais longe e declarou Trump persona non grata, num voto que contou com o apoio de todos os grupos parlamentares com a excepção do Partido Revolucionário Institucional de Peña Nieto. “Não podemos permitir que uma pessoa como Donald Trump insulte de forma permanente o povo do México, que viole a nossa soberania nacional”, afirmou o deputado estadual Mauricio Toledo.

Uma das reacções mais virulentas veio do ex-Presidente mexicano Vicente Fox, que disse que “Trump não é bem-vindo no México”. “Não permitimos que utilize o nosso país para os seus interesses próprios”, acrescentou o ex-chefe de Estado, que já antes se tinha envolvido numa polémica com o candidato republicano. Em Feveiro, Fox disse que o México nunca iria pagar “a merda do muro”, mas acabou por pedir desculpa e até convidou o candidato a visitar o México. Esta quarta-feira, a campanha do republicano relembrou este convite a Fox.

O anúncio da visita de Trump ao México apanhou o mundo de surpresa. Durante a corrida à nomeação como candidato republicano, o magnata caracterizou os imigrantes mexicanos ilegais como “violadores” e “assassinos”, chegando mesmo a sugerir que o Governo mexicano estava a enviar os seus cidadãos mais violentos de propósito para os Estados Unidos. O próprio Peña Nieto chegou a comparar a retórica de Trump à de Mussolini e de Hitler, durante uma entrevista em Março ao jornal Excelsior.

Enquanto Trump se reunia com Peña Nieto, Hillary Clinton aproveitava para lembrar ao eleitorado as posições do seu rival em relação à imigração. A equipa de campanha da candidata democrata publicou na conta de Twitter de Clinton um vídeo em castelhano que reúne algumas das declarações mais polémicas de Trump durante a campanha. “Escutámos claramente os comentários de Trump a demonizar os imigrantes à primeira vez, à segunda, à terceira…”

Uma das medidas mais polémicas do candidato republicano à Casa Branca é a construção de um muro na fronteira com o México e que seria o próprio Governo mexicano a financiá-lo, através de aumentos nos impostos sobre as remessas dos imigrantes. Mas, nas últimas semanas, foi notório um esforço de Trump para mostrar uma postura mais moderada no tema da imigração.

O projecto de expulsão dos 11 milhões de imigrantes sem documentação foi amenizado — agora, o candidato propõe forçar a saída apenas daqueles que tiverem cadastro. Na noite desta quarta-feira, Trump faz um muito aguardado discurso em Phoenix em que vai delinear as suas propostas para lidar com a imigração e tentar fazer uma quadratura do círculo: moderar o discurso para manter vivo um apelo abrangente o suficiente para disputar umas eleições presidenciais, ao mesmo tempo que não afasta alguns dos sectores mais radicais que estiveram na base da sua vitória nas eleições primárias republicanas.

A visita à Cidade do México está inserida na estratégia de moderação que tem sido privilegiada pela sua campanha. O convite partiu do Presidente mexicano — cujo gabinete garantiu ter enviado convite também a Hillary Clinton, apesar de não ter havido qualquer confirmação.

Mas ambos tinham algo a ganhar com o encontro, escreve o colunista do Guardian Daniel Peña. “Trump pretende voltar a ter mão no tema principal da sua campanha, a imigração, antes do grande discurso no Arizona. Peña Nieto, por seu lado, quer reverter a sua queda nas sondagens — está actualmente com 23% de popularidade segundo uma sondagem recente — ao parecer que está a enfrentar Trump.” Jorge Ramos, um dos jornalistas televisivos mais populares do país, resumiu o encontro: “É uma reunião entre duas das pessoas mais impopulares no México."