Hollande passa à ofensiva para salvar a imagem da França no Euro

Governo faz última tentativa para parar as greves e ameaça com requisição civil. "A mobilização vai continuar", respondem sindicatos.

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As greves e o lixo estão a manchar a imagem de França no mundo JOEL SAGET/AFP

Se não for pelo diálogo, pode ser pela força. O Governo francês espera pelo sucesso da tentativa de última hora que a ministra do Trabalho vai fazer para pôr fim às greves que estão a paralisar os transportes nacionais e a encher as ruas de Paris de lixo. Se fracassar, admite recorrer à requisição civil para pôr o país a andar e limpo.

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Se não for pelo diálogo, pode ser pela força. O Governo francês espera pelo sucesso da tentativa de última hora que a ministra do Trabalho vai fazer para pôr fim às greves que estão a paralisar os transportes nacionais e a encher as ruas de Paris de lixo. Se fracassar, admite recorrer à requisição civil para pôr o país a andar e limpo.

Perante a fúria dos adeptos do Euro 2016, a irritação dos dirigentes do futebol e a vergonha internacional — sobretudo depois das fotografias do lixo acumulado nas ruas de Paris terem circulado pelo mundo inteiro —, o Governo do Presidente François Hollande está disposto a extremar posições.

No campo oposto da barricada, a central sindical que lidera a contestação à reforma da lei do trabalho, a CGT, faz o mesmo. O líder sindical, Philippe Martinez, já disse que não aceitará “que o Euro seja usado para fazer chantagem” sobre os trabalhadores.

A escassas horas do jogo de abertura, entre a França e a Roménia, a ministra do Trabalho, Myriam El Khomri, anunciou que haverá, “a qualquer momento”, uma reunião com Philippe Martinez, destinada a encontrar uma forma de “acabar com todos os bloqueios no país”.

Martinez respondeu estar disponível para falar com a ministra “mesmo durante o fim-de-semana”. Mas rejeitou ser “chantageado” e, num sinal de que este é um diálogo de surdos, garantiu:  “A mobilização vai continuar”.

Com as medidas de segurança muito apertadas — foram mobilizados 80 mil elementos de várias forças de segurança neste país ainda de luto por ataques terrorista — a dificultarem a entrada de 80 mil espectadores no Estádio de França para o jogo inaugural, a frustração dos adeptos de futebol e dos dirigentes já se notava. “A imagem que é dada não é a que queríamos”, lamentou Jacques Lambert, o presidente do comité organizador do Europeu, à rádio France Inter.

Muitos adeptos corriam o risco de não conseguir chegar ao estádio. Os condutores dos comboios de alta velocidade preveniram que esta sexta-feira fariam uma greve com grande adesão, o que poderia criar mais um foco de grande confusão e impedir a chegada de quem ia do resto do país ou dos países mais próximos para o arranque do Europeu, em Paris.

Para acalmar as hostes, a Sociedade Nacional de Caminhos de Ferro anunciou a criação de carreiras especiais entre Paris e o Estádio de França, nos arredores de Paris.

“As greves, o lixo... tudo isto é terrível para a imagem internacional da França”, disse à AFP Vanessa Miller, gerente do restaurante Hard Rock Café de Paris.

O impopular Presidente François Hollande, a braços com esta crise social há mais de um mês, disse na quarta-feira que adoptaria “todas as medidas necessárias” para assegurar o sucesso do Euro 2016.

Quanto ao lixo, a presidente da câmara de Paris, Anne Hidalgo, prometeu fazer desaparecer a porcaria das ruas da cidade luz. Quando? “Agora, hoje”, disse na sexta-feira. Mas admitiu que serão precisos alguns dias para tudo voltar à normalidade. Em vários pontos da cidade, o lixo começou a ser recolhido, mas não são apenas os trabalhadores da recolha que estão em greve, os principais centros de tratamento de lixo estão fechados, com piquetes de greve às portas para não permitirem a entada dos camiões carregados.

Cereja em cima do bolo: os pilotos da Air France começam sábado uma greve que vai comprometer a chegada de espectadores para os jogos e até de árbitros. A direcção da empresa, porém, assegurou que 80% dos voos serão assegurados no sábado.

Se alguns adeptos estão irritados com o que se passa em França, outros nem por isso. A AFP encontrou muitos deambulando pelas ruas de Paris, atulhados com bandeiras, cachecóis e camisolas dos seus países.

Roumain Daniel Suciu, 27 anos: “É um grande jogo para nós. O terrorismo? Não me faz medo. Vivemos num mundo perigoso, sei que há um risco mas estou aqui para apoiar a Roménia, e isso é o mais importante”.