Nascimento de um profeta

A reedição expandida do disco de estreia do lendário David S. Ware confirma a premonição de um percurso que viria a marcar a história do jazz livre.

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Ao primeiro álbum, David S. Ware mostra-se já um gigante

Poucos músicos conseguiram transportar para o novo milénio a espiritualidade e o fogo original do free jazz dos anos 60 e 70 como o fez David S. Ware. Quando, nos anos 90, Ware reuniu um super quarteto que integrava ainda os titâs Matthew Shipp (piano) e William Parker (contrabaixo), para além de um baterista cujo lugar foi ocupado alternadamente por Susie lbarra, Marc Edwards ou Whit Dickey, este foi imediatamente considerado o grande grupo de jazz de vanguarda da década, e Ware coroado como o novo profeta do free. Quando faleceu, em Outubro de 2012, com apenas 62 anos, o mundo perdeu um dos grandes estetas da liberdade no jazz.

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Poucos músicos conseguiram transportar para o novo milénio a espiritualidade e o fogo original do free jazz dos anos 60 e 70 como o fez David S. Ware. Quando, nos anos 90, Ware reuniu um super quarteto que integrava ainda os titâs Matthew Shipp (piano) e William Parker (contrabaixo), para além de um baterista cujo lugar foi ocupado alternadamente por Susie lbarra, Marc Edwards ou Whit Dickey, este foi imediatamente considerado o grande grupo de jazz de vanguarda da década, e Ware coroado como o novo profeta do free. Quando faleceu, em Outubro de 2012, com apenas 62 anos, o mundo perdeu um dos grandes estetas da liberdade no jazz.

Em álbuns clássicos como Flight of I (1992), Wisdom of Uncertainty (1997) ou Godspelized (1998), é possível observar a absoluta segurança e maturidade do pensamento abstracto de Ware, baseado num comando técnico invulgar e na expansão espiritual da herança deixada por gigantes como John Coltrane, Albert Ayler, Pharoah Sanders e Archie Shepp. Anunciada há alguns meses a reedição expandida (num duplo CD) daquele que foi o seu disco de estreia, Birth Of A Being, gravado em 1977 com o trio Apogee — Ware no saxofone tenor, Cooper-Moore no piano e Marc Edwards na bateria —, nada nos fazia imaginar que iríamos já encontrar aqui todos os traços que fariam de Ware um gigante do saxofone tenor.

Ashimba
Solo

Às primeiras notas da belíssima melodia de Prayer, a abrir o álbum, percebemos que estamos na presença de algo especial; uma voz totalmente formada e vital que nos transporta para uma dimensão onde tudo o que importa é a criatividade, as energias primordiais, a espiritualidade e a arte. É ainda possível sentir nestas primeiras gravações de Ware a influência tutelar de Cecil Taylor, pianista com o qual o saxofonista tocara uns anos antes, e não é difícil imaginar que desse encontro tenha ficado a lição mais valiosa de todas — a segurança do gesto musical. Claro que esta não é uma música fácil, antes frequentemente angular e abrasiva, e requer do ouvinte uma predisposição para a escutar. Mas quem disse que a música deve ser fácil?