“Ainda estar a cantar e ainda haver gente na sala para aplaudir, é festivo”

Com 50 anos de carreira, dos Sheiks e festivais da canção até uma carreira a solo que nunca abandonou, Carlos Mendes inicia uma digressão comemorativa no Tivoli BBVA, às 21h30. Chamou-lhe Festa da Vida.

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Com José Niza "comecei a ouvir a música portuguesa de um modo completamente diferente" DR

Hoje com 68 anos, Carlos Mendes venceu um primeiro Festival da Canção em 1968. Mas foi em 1972 que, com Festa da Vida, a sua carreira teve um impulso decisivo. Para trás tinham ficado os Sheiks, a que voltaria episodicamente, mais tarde. Pois é precisamente com o título Festa da Vida que ele inicia agora uma digressão por palcos portugueses, com início esta terça-feira em Lisboa, no palco do Tivoli BBVA, às 21h30. A celebrar 50 anos de carreira: “Há muita coisa, dos Sheiks, a solo, música para teatro, para cinema… Mas eu não vou buscar essas cinco décadas, concentro-me antes nas épocas que considero melhores. Por exemplo, os anos 70, quando comecei a trabalhar com o [poeta] Joaquim Pessoa e fizemos o disco Amor Combate; depois vou-me aproximando de um disco que fiz em 1997, o Vagabundo do Mar; e no final junto-lhes dois ou três originais.” (ele gravou, agora, uma versão nova de Festa da Vida)

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Hoje com 68 anos, Carlos Mendes venceu um primeiro Festival da Canção em 1968. Mas foi em 1972 que, com Festa da Vida, a sua carreira teve um impulso decisivo. Para trás tinham ficado os Sheiks, a que voltaria episodicamente, mais tarde. Pois é precisamente com o título Festa da Vida que ele inicia agora uma digressão por palcos portugueses, com início esta terça-feira em Lisboa, no palco do Tivoli BBVA, às 21h30. A celebrar 50 anos de carreira: “Há muita coisa, dos Sheiks, a solo, música para teatro, para cinema… Mas eu não vou buscar essas cinco décadas, concentro-me antes nas épocas que considero melhores. Por exemplo, os anos 70, quando comecei a trabalhar com o [poeta] Joaquim Pessoa e fizemos o disco Amor Combate; depois vou-me aproximando de um disco que fiz em 1997, o Vagabundo do Mar; e no final junto-lhes dois ou três originais.” (ele gravou, agora, uma versão nova de Festa da Vida)

Há já alguns anos que ele se acompanha a si próprio ao piano, embora no concerto de Lisboa tenha três músicos em palco: piano (Paulo Sérgio, autor dos arranjos), teclas e violoncelo. Isso além do seu filho mais novo (29 anos), de nome artístico Jazzafari, com quem fará dois duetos. Mas o piano foi-lhe “devolvido” por um acaso “Um dia, estava a fazer um espectáculo com o António Victorino de Almeida, Canções da Broadway, ele faltou porque estava com dores no braço, e eu já estava para desistir quando a minha mulher me disse ‘vai tu tocar, se sabes porque não vais?’ Eu tinha complexos de tocar piano, embora tenha estudado piano até ao 5.º ano. Mas lá fui. Escrevi umas partiturazitas, organizei um repertório mais fácil e fui sozinho. Foi um êxito.” Daí em diante, já não temeu mais enfrentar o piano. E começou a fazer concertos em solo absoluto. O piano veio, assim, juntar-se à guitarra, que ele costumava tocar em palco. Porque há outros, que ele toca por prazer, em casa. “Sou louco por instrumentos: toco guitarra, piano, saxofone, violoncelo, agora estou a aproximar-me um bocado do violino. Por diletantismo, não é para tocar em palco.”

Mas por que razão escolheu Festa da Vida para título do espectáculo? “Primeiro, cinquenta anos disto é obra. Depois, há aqui uma festa desta vida. Vida onde se passaram coisas terríveis, como ter estado onze anos sem gravar, nos anos 80, porque não tinha entrada nas editoras; mas por outro lado, o ainda estar a cantar e ainda haver gente na sala para aplaudir, isto é festivo. E o próprio espectáculo, em si, é festivo. Aproveito também para fazer uma homenagem a um tipo que me tirou definitivamente dos estiradores [Carlos é arquitecto], que foi o José Niza.” Leu num jornal um anúncio a procurarem um candidato para o Festival da Canção de 1972 e ele, que já tinha ganho o festival em 1968 com Verão, telefonou. Foi Niza quem atendeu, e a partir dali fizeram uma grande amizade. Ganhou, mais uma vez, em Portugal e foi até à Escócia, a Edimburgo, com a canção Festa da Vida, de José Calvário e José Niza. “Cantei muita coisa dele, aprendi muito a compor música portuguesa, ele fez a ponte entre os cantores a que na altura chamávamos contestatários, ou de protesto, como o Zeca ou o Adriano, com a malta do pop e rock ou que vinha dos festivais.”

Ainda em 1972, Carlos Mendes participa num disco marcante para a nova música portuguesa, Fala do Homem Nascido, com poemas de António Gedeão, música de José Niza e arranjos de José Calvário. Isso e a parceria com o então jovem poeta Joaquim Pessoa abre-lhe novos horizontes. “Comecei a ouvir a música portuguesa de um modo completamente diferente. Antes ouvia mais a música francesa, ou a inglesa. Foi nessa altura que começou a aparecer o Adriano, o Sérgio Godinho, o José Mário Branco, depois o Fausto, muita gente que começou a dar um sentido à música portuguesa que, quanto a mim, com o passar dos anos, se desvirtuou completamente. Mas há-de voltar!”

Depois do concerto de Lisboa, Carlos Mendes actuará dia 23 de Abril em Amarante (no âmbito da Feira do Livro local), dia 24 em Olhão, dia 25 em Ponte de Lima e dia 1 de Maio no Fórum da Maia. Outros concertos, segundo a organização, serão anunciados posteriomente.