Peso das exportações para a UE ao nível mais alto dos últimos dez anos

A crise a que se assiste nos mercados emergentes e os problemas em Angola estão a aumentar a dependência da economia portuguesa dos seus parceiros europeus.

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Exportações para o centro da Europa são cada vez mais importantes para Portugal Nuno Ferreira Santos

Os esforços de diversificação dos destinos das exportações portuguesas feitos pelos últimos governos estão a ser afectados pela crise a que se assiste actualmente nos mercados emergentes e especialmente em Angola, com o peso das exportações destinadas a países da União Europeia a atingir o valor mais alto dos últimos dez anos.

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Os esforços de diversificação dos destinos das exportações portuguesas feitos pelos últimos governos estão a ser afectados pela crise a que se assiste actualmente nos mercados emergentes e especialmente em Angola, com o peso das exportações destinadas a países da União Europeia a atingir o valor mais alto dos últimos dez anos.

De acordo com os dados publicados esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística, durante os primeiros dois meses deste ano, as exportações de bens de Portugal para a UE representaram 78,7% das vendas totais feitas ao estrangeiro. Este número é mais alto do que o verificado anualmente desde, pelo menos, 2006 (a data a partir do qual foi possível recolher dados).

Entre 2006 e 2013, numa conjuntura internacional de forte abrandamento na Europa e de reforço da posição de diversas economias emergentes, as exportações portuguesas viraram-se progressivamente para outros mercados. Se em 2006, o peso das exportações para a UE era de 77,9%, em 2013 já tinha caído para 70,3%. Várias empresas portuguesas ganharam espaço, nesse período, em mercados antes pouco explorados, com destaque para Angola, que passou a ser o país fora da Europa para onde mais produtos portugueses eram vendidos.

Em 2014 e 2015, a tendência começou a inverter-se, primeiro de forma moderada e, depois, a partir dos últimos meses do ano passado e principalmente, nos dois primeiros meses de 2016, de forma muito acentuada. A crise que se regista em várias economias emergentes, como a China, o Brasil e Angola transformaram esses países em destinos mais difíceis para as empresas portuguesas. A tal ponto que, até ao momento, 2016 está a mostrar-se como o ano da última década em que as exportações portuguesas ficaram mais dependentes daquilo que acontece nas economias dos seus principais parceiros comerciais europeus.

Os números de Fevereiro do comércio internacional, agora divulgados pelo INE, são elucidativos em relação a esta tendência. As exportações de bens registadas por Portugal em Fevereiro foram 0,8% superiores às do mesmo mês do ano passado. É um valor que representa um regresso a taxas de crescimento homólogas positivas para as exportações, que tinham caído tanto em Dezembro como em Janeiro.

No entanto, o crescimento de 0,8% fica longe de compensar a subida das importações verificada no mesmo período e que foi de 5,3%. Feitas as contas, o saldo comercial português agravou-se em Fevereiro face ao período homólogo em 206 milhões de euros.

A explicação para este resultado tão moderado do lado das exportações encontra-se essencialmente fora da União Europeia. Enquanto para os seus parceiros europeus Portugal viu as exportações crescerem 7,2%, para fora da UE o desempenho foi muito negativo, com uma queda das vendas de 17,6%, que praticamente anulou os ganhos registados na Europa.

Angola esteve em destaque. Com o país a enfrentar uma crise económica e de insuficiência de divisas internacionais – que já conduziram ao início das negociações para a implementação de um programa do FMI – as empresas portuguesas estão a recuar fortemente nas suas vendas. As exportações para Angola caíram 43,3% em Fevereiro face ao mesmo mês do ano passado e mantiveram a tendência que já se tinha verificado nos meses anteriores. Angola está cada vez mais longe da liderança como principal destino extra-UE das exportações portuguesas, posto que ocupou nos últimos anos.

Outro país onde as más notícias económicas e financeiras abundaram no início deste ano foi a China e isso teve também reflexos nas exportações nacionais. As vendas para a China caíram 56,1% em Fevereiro, com o país a sair dos dez principais destinos fora da UE.

De igual modo, para os EUA, as exportações portuguesas tiveram um mês negativo, com uma descida de 24%. Neste caso, a explicação está mais no facto de, por causa da situação no mercado internacional e devido ao ritmo de produção na refinaria da Galp, as exportações de combustíveis realizadas por Portugal terem caído 28,3%.

Para que as suas exportações cresçam, Portugal tem assim de se virar ainda mais para a Europa. E, pelo menos em Fevereiro, as coisas até não correram mal. Deu-se um ligeiro reforço da Espanha como principal destino das exportações nacionais, com um crescimento das vendas para esse país de 3,4% e registaram-se subidas de 13% para a França e de 9,2% para o Reino Unido. Na Alemanha, o crescimento foi de apenas 1,5%.

Estes quatro países, em Fevereiro, foram o destino de quase 60% das exportações nacionais de bens, o que mostra como Portugal está agora, ainda mais do que tem vindo a ser hábito nos últimos anos, dependente da força da procura interna dos seus parceiros europeus.