Milhares apreendidos em notas e contas bancários de polícias e traficantes

Contabilidade de tudo o que foi apreendido nas 122 buscas atrasou início dos primeiros interrogatórios, marcado para pouco antes das 7h desta quinta-feira.

Foto
A investigação foi conduzida pela Polícia Judiciária de Aveiro

A Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) da Polícia Judiciária apreendeu muitos milhares de euros em dinheiro vivo e em saldos bancários aos 15 suspeitos detidos no âmbito da Operação Aquiles, que inclui dois chefes da Judiciária, um cabo da GNR e alguns traficantes há muito conhecidos dos investigadores que trabalham na área da droga.  

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) da Polícia Judiciária apreendeu muitos milhares de euros em dinheiro vivo e em saldos bancários aos 15 suspeitos detidos no âmbito da Operação Aquiles, que inclui dois chefes da Judiciária, um cabo da GNR e alguns traficantes há muito conhecidos dos investigadores que trabalham na área da droga.  

A dimensão da operação realizada esta quarta-feira, que implicou a realização de 122 buscas, atrasou a início dos primeiros interrogatórios aos suspeitos, indiciados por corrupção activa e passiva, branqueamento de capitais, associação criminosa e tráfico de estupefacientes. Inicialmente estava previsto que os detidos fossem identificados esta quarta-feira pelo juiz Carlos Alexandre, no Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC). Depois disso, os advogados teriam o tempo necessário para consultar os autos, antes dos interrogatórios arrancarem.

Isso só será possível esta quinta-feira, já que às 22h desta quarta-feira os responsáveis da investigação ainda reuniam os dados de tudo que tinha sido apreendido durante as buscas e só estimavam ter a contabilidade final para apresentar ao juiz Carlos Alexandre já durante a madrugada. Os interrogatórios devem estender-se pelo próximos dias e só depois de todos estarem concluídos serão determinadas as medidas de coacção, um procedimento adoptado habitualmente pelo juiz Carlos Alexandre.

O atraso levou ainda a uma situação rara. Para se cumprir o prazo de 48 horas, após a detenção, para os suspeitos serem presentes ao juiz de instrução, a identificação dos mesmos vai começar esta quinta-feira ainda antes das 7h. Isso mesmo foi explicado ao PÚBLICO por um dos advogados, Melo Alves, e confirmado pela PJ.

Fonte da UNCC explicou que cada uma das 122 buscas implica a realização de um auto de expediente. Todas as provas apreendidas são depois contabilizadas e é feito um resumo entregue ao juiz de instrução. As diligências, que começaram às 7h de quarta-feira, prolongaram-se durante a noite já que a PJ teve dificuldade em localizar alguns dos suspeitos, tendo a alteração de algumas moradas implicado a emissão de novos mandados de captura ao longo do dia. A PJ não conseguiu deter todos os suspeitos que procurava, incluindo um importante traficante de droga.

Os 15 detidos têm dormido no Estabelecimento Prisional anexo à sede da PJ, em Lisboa, não tendo o inspector-chefe da PJ, o coordenador reformado, da mesma força, e o cabo da GNR, sido transportados para a cadeia de Évora, como estava inicialmente previsto. Aliás, o advogado Melo Alves, que representa o coordenador reformado Dias Santos, só teve ontem conhecimento desta alteração de última hora, através de um contacto com o director do Estabelecimento Prisional de Évora, que lhe garantiu que o cliente não estava naquela prisão.

Este inquérito começou a ser investigado em 2013, na sequência de uma denúncia feita à própria PJ e está a ser dirigido pelo departamento mais especializado do Ministério Público, o Departamento Central de Investigação e Acção Penal. Ao longo de mais de dois anos de investigação, foram recolhidas indícios de que os dois chefes da PJ terão recebido milhares de euros para travarem investigações, ignorarem suspeitas e passarem informações a suspeitos.

Os dois investigadores da PJ tinham um lugar privilegiado naquela polícia: o inspector-chefe Ricardo Macedo liderava há anos uma das três secções da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes e o colega, que se reformou em 2011, esteve mais de 30 anos na PJ, tendo ocupado lugares de chefia durante muitos anos.