O outro caso Spotlight

Will Smith brilha numa história verídica que fala da América e dos seus ideais.

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É pela capacidade de acreditar nos ideais que é um filme mais interessante do que a aparência de veículo à medida de Will Smith

É irónico que O Caso Spotlight tenha vencido o Óscar de Melhor Filme num ano em que A Força da Verdade nem sequer foi nomeado. Não por qualquer injustiça específica feita em relação a qualquer um deles; apenas porque o filme do escritor e jornalista Peter Landesman, mesmo que menos interessante e mais formatado que O Caso Spotlight, tem inúmeros pontos de contacto com aquele e poderia perfeitamente estar entre os filmes nomeados.

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É irónico que O Caso Spotlight tenha vencido o Óscar de Melhor Filme num ano em que A Força da Verdade nem sequer foi nomeado. Não por qualquer injustiça específica feita em relação a qualquer um deles; apenas porque o filme do escritor e jornalista Peter Landesman, mesmo que menos interessante e mais formatado que O Caso Spotlight, tem inúmeros pontos de contacto com aquele e poderia perfeitamente estar entre os filmes nomeados.

Igualmente baseado numa historia verídica, A Força da Verdade usa como motor narrativo a descoberta acidental por um patologista forense da recorrência de lesões cerebrais em jogadores de futebol americano expostos a concussões violentas e regulares, e as tentativas da liga profissional da modalidade de varrer a ciência para debaixo do tapete. Mas o que lhe interessa, na verdade, é desenhar um retrato do patologista Bennet Omalu, emigrado nigeriano, e da sua relação com o abismo entre a ideia da América e a realidade da América contemporânea – a compreensão de que os EUA se tornaram numa espécie de farol da liberdade que tem vindo a deixar os ideais fundadores pelo caminho em nome do lucro e do negócio.

É por essa capacidade de ainda acreditar nos ideais e na humanidade que A Força da Verdade é um filme bem mais interessante do que a sua aparência de “veículo à medida de um actor” dá a entender. Mesmo que Peter Landesman não seja capaz de mais do que uma eficácia cumpridora e anónima, o filme trabalha uma ideia de cidadania e comunidade que é interessante e relevante hoje em dia, e que Will Smith faz passar com um talento que nem sempre lhe é devidamente reconhecido, bem acompanhado por uma inteligente escolha de actores secundários (com destaque para Albert Brooks e David Morse). Não há, face ao panorama dos nomeados 2016, razão nenhuma para A Força da Verdade ter sido ignorado como foi pelos Óscares; é trabalho limpo e honesto, mais um bom exemplo de uma certa “linha média”, de um cinema adulto e liberal que alimentou os melhores anos do cinema americano e anda demasiado ausente.