Ministro da Justiça do Brasil demite-se por causa de pressões de Lula e do PT

José Eduardo Cardozo, próximo da Presidente Dilma Rousseff, deverá assumir a Advocacia-Geral da União.

Foto
A imprensa brasileira diz que a demissão do ministro da Justiça se deve à pressão do PT e do ex-Presidente Lula da Silva Ueslei Marcelino/REUTERS

O ministro da Justiça do Brasil, José Eduardo Cardozo, próximo da Presidente Dilma Rousseff, decidiu demitir-se, cansado dos ataques do seu próprio Partido dos Trabalhadores (PT), por causa das investigações anti-corrupção que estão a visar uma série de políticos e empresários, entre as quais o próprio ex-Presidente Lula da Silva.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O ministro da Justiça do Brasil, José Eduardo Cardozo, próximo da Presidente Dilma Rousseff, decidiu demitir-se, cansado dos ataques do seu próprio Partido dos Trabalhadores (PT), por causa das investigações anti-corrupção que estão a visar uma série de políticos e empresários, entre as quais o próprio ex-Presidente Lula da Silva.

José Eduardo Cardozo, no entanto, não se afastará da justiça: deverá assumir a Advocacia Geral da União, substituindo Luís Inácio Adams, dizem os jornais Folha de São Paulo e Estado de São Paulo. A AGU é a instituição que representa do Governo federal nos tribunais, e que tem competências de consultor e assessor jurídico do poder executivo.

A pressão sobre Cardozo aumentou muito nos últimos dias, desde que Lula foi intimado a apresentar os seus registos bancários, telefónicos e financeiros no âmbito da investigação sobre um apartamento de luxo e uma quinta, relacionados com o escândalo de corrupção da companhia petrolífera nacional, Petrobras.

No sábado, Lula, Presidente entre 2003 e 2010, falou sobre a intimação a abrir as suas contas à investigação: “Se este é o preço a pagar para provar a minha inocência, fá-lo-ei. Só quero que depois dêem um atestado de bom comportamento, porque duvido que haja alguém mais honesto que eu neste país.”

A pressão está a aumentar também sobre Lula, depois de ter sido preso o estratega político que orquestrou a sua campanha de reeleição em 2006, João Santana, por suspeitas de ter recebido pagamentos no valor total de 7,5 milhões de dólares em contas offshore da construtora Odebrecht, cujo proprietário se encontra detido no âmbito da operação anti-corrupção Lava-Jato.

Ex-jornalista, João Santana não ajudou apenas a reeleger Lula em 2006. Também foi o responsável pelas duas campanhas eleitorais vitoriosas de Dilma Rousseff, em 2010 e 2014, pela de José Eduardo dos Santos, o Presidente angolano, em 2012, e pela do venezuelano Hugo Chávez no mesmo ano.

O ministro José Eduardo Cardozo, advogado e professor de Direito, está a recuperar de um cancro linfático, diz a Reuters. É militante do PT há 30 anos, diz o Estado de São Paulo, mas tem também um longo historial de desentendimentos com o partido. Mas é um homem de confiança da Presidente Rousseff.

Têm-se ouvido críticas, no PT e do lado da entourage de Lula da Silva, à falta de acção de Cardozo para bloquear as investigações sobre corrupção – segundo o Estadão. O ministro assegura, no entanto, que mesmo que quisesse intervir, não teria autoridade para o fazer.