Discurso social com o rabo de fora

Versão neutralizada da tradição realista britânica, Quarto é de uma enfadonha sensaboria.

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O filme é uma co-produção com o Canadá, mas os genes de Lenny Abrahamson não desaparecem por isso, e Quarto descende em linha recta da tradição realista dos cinemas britânico e irlandês, aquela de que Ken Loach e Mike Leigh ainda são, quando acordam num bom dia, os melhores representantes contemporâneos.

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O filme é uma co-produção com o Canadá, mas os genes de Lenny Abrahamson não desaparecem por isso, e Quarto descende em linha recta da tradição realista dos cinemas britânico e irlandês, aquela de que Ken Loach e Mike Leigh ainda são, quando acordam num bom dia, os melhores representantes contemporâneos.

Mas Quarto é uma versão neutralizada, arredondada, dessa tradição, com uma (aparente) severidade a ser traída pelo predomínio do “discurso” social, que tem sempre o rabo de fora e a partir de certa altura mostra-se em pleno, e um filme que usa a “segurança” dos actores como engodo, como disfarce para a enfadonha sensaboria da mise en scène de Abrahamson. Nem “realismo” nem um mundo desenhado pela câmara, “Quarto” fica num território indistinto, bastante desinteressante.