Bolsas encerram em forte baixa com fuga dos títulos da banca

Bolsa de Lisboa perdeu 4,47%, para mínimos de Junho de 2012, com forte recuo nas acções do BCP e BPI.

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Sentimento negativo dos investidores volta a atirar bolsas para fortes quedas. Foto: Rafael Marchante/Reuters

As principais bolsas europeias encerraram a sessão desta quinta-feira com quedas preocupantes, entre 2% e 5%, em resultado das fortes desvalorizações que varreram toda a banca, incluindo os maiores, como o Deutsche Bank e do Commerzbank, que perderam mais de 6%, mas também o Crédit Suisse, que deslizou 8,4%, para mínimos de 27 anos.

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As principais bolsas europeias encerraram a sessão desta quinta-feira com quedas preocupantes, entre 2% e 5%, em resultado das fortes desvalorizações que varreram toda a banca, incluindo os maiores, como o Deutsche Bank e do Commerzbank, que perderam mais de 6%, mas também o Crédit Suisse, que deslizou 8,4%, para mínimos de 27 anos.

A subida do sector bancário na quarta-feira acabou por ser pouco sustentada e os investidores voltam a mostrar receio face à solidez de alguns bancos. O Deutsche Bank teve necessidade de declarar aos investidores que tem solidez financeira para pagar os empréstimos obrigacionistas e o ministro alemão das Finanças veio garantir no início da semana que não temia pela segurança do maior banco alemão, mas a eficácia dessas garantias foi muito reduzida, face aos prejuízos de 6,8 mil milhões no exercício de 2015.

As perdas de 2,6 mil milhões de euros do Crédit Suisse (CS) em 2015, que se for considerado apenas o quatro trimestre atinge para cinco mil milhões de perdas, em imparidades, custos de reestruturação e processos judiciais, só podem deixar os investidores nervosos. O próprio presidente do CS, Tidjane Thiam, reconheceu numa conferência com analistas, esta quinta-feira, que este “não é um grande momento para ser um banco".

A forte venda de títulos bancários é explicada pelos receios face aos prejuízos apresentados por alguns bancos, ou outros com lucros abaixo do esperado, como o caso da Société Générale, mas também pela expectativa de que os resultados vão cair ainda mais em face do abrandamento da economia mundial, com relevo para a economia chinesa. Também a introdução de novas regras de resolução aos bancos europeus cria maior pressão à sua rentabilidade.

A nova desvalorização do preço do petróleo nos mercados internacionais e as declarações da presidente da Reserva Federal (Fed) norte-americana agravaram o sentimento negativo dos investidores.

Janet Yellen reconheceu esta quarta-feira que a fraqueza da economia global poderá desviar a economia dos Estados Unidos de um caminho sólido, mas não deu qualquer sinal de inversão da política monetária, ou seja, de recuo da tendência de subida das taxas de Juro.

O índice Stoxx Europe 600, que reúne os principais bancos europeus, fechou o dia a perder 5,98% (desde o início do ano, a queda é de 28%).

A bolsa grega chegou a liderar as quedas, que superaram os 6%, em boa parte devido aos receios de nova instabilidade política, mas terminou a perder 2,5%. O Piraeus Bank e o Eurobank Ergasi chegaram a perder mais de 20%, mas reduziram para quedas de 10% e 12%, respectivamente.

O espanhol Ibex 35 perdeu 4,88%, com quedas acima dos 6% dos seus maiores bancos.

O Cac de Paris (-4,05%), com a Société Générale, que hoje apresentou lucros de 656 milhões de contos no quarto trimestre, mas abaixo do esperado, perdeu perto de 13%.Já o Crédit Agricole e o PNP Paribas deslizaram mais de 6%.

O Dax alemão agravou as quedas na recta final do mercado para 2,93% e o Euro Stoxx 50, que agrega as 50 maiores companhias europeias, também acelerou as perdas para 3,6%, o que traduz o forte nervosismo dos investidores.

O FTSE londrino também perdeu mais de 2%, com o Barclays a recuar 7%.

A bolsa portuguesa não escapou à razia, perdendo perto de 4,47%, para mínimos de Junho de 2012, com o BPI a liderar as quedas do sector, ao recuar 5,65%, e o BCP a deslizar 4,04%. A penalizar a banca portuguesa e outros títulos, como a família EDP e a Galp a perderem entre 5% e 6%, e a Sonae mais de 5,8%, está ainda a forte subida dos juros da dívida portuguesa. Os juros das obrigações portuguesas a 10 anos atingiram máximos de 2014, tendo superado os 4%.

O barril de petróleo brent, referência para a Europa, abriu a valer 30,73 dólares, menos 1,15% do que no fecho da sessão anterior.

Pelas 17h30 horas, os mercados norte-americanos seguiam em queda, com o Dow Jones a perder, a meio da sessão, 2,37%, e o Nasdaq a  cair 1,14%, e o S&P a recuar um pouco menos, 0,85%.

Reagindo à queda dos mercados financeiros, Jeroen Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo, afirmou hoje que “a zona euro está estruturalmente numa situação muito melhor do que há alguns anos, e isso também se aplica aos bancos". Questionado pelos jornalistas sobre a situação do Deutsche Bank, o responsável escusou-se a responder, alegando não se pronuncia sobre um banco em concreto.

Também o Comissário Europeu para os Assuntos Económicos, Pierre Moscovici manteve o mesmo tipo de discurso. "No geral, vemos que o sistema bancário europeu é muito mais forte do que no passado, temos de confiar nele”.

Os dois responsáveis destacaram ainda que a união bancária está em marcha e isso contribuirá para o fortalecimento dos bancos da zona euro.

Contactado pelo PÚBLICO, João Queiroz, director de Negociação da GoBulling, do Banco Carregosas, destacou que “a elevada aversão ao risco mantém-se desde o início deste ano e para além do agudizar da crise petrolífera, cujos preços estão em mínimos de 13 anos (o que afecta a percepção de risco de dívida das empresas petrolíferas e, por arrasto, do sector bancário dos EUA), na Europa assiste-se também a um desempenho muito negativo da banca”.

E não é já só a banca dos países periféricos, como também de países como a Alemanha, com uma exposição mundial. No índice das 600 maiores empresas europeias, o Eurostoxx600, a banca é o sector que regista o pior desempenho, destaca o responsável, que em relação à bolsa portuguesa refere ainda a pressão negativa da subida dos juros da dívida.

Comentando o actual momento dos mercados, Sylvain Loganadin, analista da corretora FXMC, disse à AFP que os mercados temem um "risco sistémico iminente como a provocado pelo colapso do Lehman Brothers em 2008".

Também Aymeric Diday, director do Grupo Skylar disse que "a volatilidade está em níveis muito elevados, muitas vezes resultando em movimentos de pânico consideráveis", reforçando ainda que "o espectro de 2008 está cá”.