Portugueses mandam mais seis toneladas para Belgrado

Movimento "Não te refugies" leva tendas, sacos-cama, cobertores e roupas de inverno

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Chegada de refugiados sírios à fronteira com a Jordânia MUHAMMAD HAMED/REUTERS

Pelo menos seis toneladas de bens recolhidos pelo movimento “Não te refugies” devem seguir esta terça-feira do Porto para Belgrado. Com esta segunda remessa, aquele movimento espontâneo eleva para dez mil o número de quilos doados por portugueses à Cruz Vermelha de Belgrado.

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Pelo menos seis toneladas de bens recolhidos pelo movimento “Não te refugies” devem seguir esta terça-feira do Porto para Belgrado. Com esta segunda remessa, aquele movimento espontâneo eleva para dez mil o número de quilos doados por portugueses à Cruz Vermelha de Belgrado.

Tudo começou em Setembro com José Jorge Sá e a companheira, Milica Bogdanov, a usarem as férias para fazer voluntariado na CZA, uma organização não governamental que está a apoiar os candidatos a asilo que passam por Belgrado. O Inverno estava prestes a chegar e os sérvios tinham muito pouco para doar.

Jorge, enfermeiro havia oito anos, ficou emocionado: “São pessoas iguais a mim, que tinham uma vida mais ou menos normal, um trabalho, uma casa, um cão, um gato, sei lá, e que, de um momento para outro, deixaram tudo para trás, fizeram-se ao caminho, quase sem nada, a não ser aquela força – uma força incrível.”

“Falta tudo aqui”, notava. Temos de nos mexer. Parece que é uma coisa muito distante, que passa nas televisões, com pessoas estranhas, mas não é, são pessoas como nós, à entrada da União Europeia.”

Para Portugal, Jorge trouxe muita vontade de recolher tendas, sacos-cama e roupas quentes e de as enviar para o lado de fora da fronteira da União Europeia. A ele e à assistente social com quem namora juntaram-se a designer Lígia Pinto e a médica Bárbara Seabra. Com o apoio de muitas pessoas e algumas organizações, recolheram 3,9 toneladas de bens, que fizeram chegar à Sérvia em Dezembro.

A balança que usam é de casa de banho, pelo que tudo terá de ser pesado novamente amanhã. Para já Jorge Sá fala em mais de seis toneladas: 10 tendas grandes (40 metros quadrados), 52 tendas médias (para três a quatro pessoas), 64 sacos-cama adequados a baixa temperaturas, 136 cobertores, 1947 camisolas usadas, 750 camisolas novas, 1274 casacos, 177 casacos novos, 935 pares de calças, 230 casacos impermeáveis e outros bem, 274 pares de sapatos/botas e outros bens.

Grande parte da roupa nova fora doado aos Médicos do Mundo, organização não-governamental de ajuda humanitária e de cooperação para o desenvolvimento. As tendas e os sacos-cama é que foram comprados com dinheiro angariado através da campanha "Tendas para Todos", que os voluntários alojaram na plataforma de financiamento colaborativo "PPL Causas".

Esta terça-feira, a vida de Jorge Sá, Lígia Pinto e Bárbara Seabra retoma alguma normalidade. Milica é que ainda tem uns dias de trabalho pela frente, já que lhe cabe acompanhar o desalfandegar das doações em Belgrado. “Voltaria a fazer tudo de novo, apesar do cansaço”, diz Jorge. Tem agora de se aplicar nos estudos para garantir que estes meses de dedicação aos refugiados não lhe custam um ano do mestrado em arquitectura. 

Cerca de uma tonelada e meia de bens ficou no território nacional. Não preenchia os critérios. Estão a ser doadas à Cruz Vermelha Portuguesa, à associação Vida Norte, à comunidade de inserção Paulo Vallada, ao Lar Luísa Canavarro, ao projecto ChikiGentil-coração com pernas e à associação A Casa do Caminho.