Há Natal no Beato com a família Pataca Discos

Esta sexta a editora Pataca Discos, de Benjamim, Bruno Pernadas ou Real Combo Lisbonense, reúne-se para uma noite de concertos. Objectivo? Angariar verbas, celebrar cinco anos e festejar em família o Natal.

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Chama-se Sarau de Natal e é uma espécie de celebração em família, aberta ao público, com os projectos pertencentes à editora portuguesa Pataca Discos a apresentarem-se em concerto, no Ateneu da Madre Deus, pelas 22h, na zona Oriental de Lisboa.

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Chama-se Sarau de Natal e é uma espécie de celebração em família, aberta ao público, com os projectos pertencentes à editora portuguesa Pataca Discos a apresentarem-se em concerto, no Ateneu da Madre Deus, pelas 22h, na zona Oriental de Lisboa.

Real Combo Lisbonense, Tape Junk, Bruno Pernadas, Benjamim, Julie and the Carjackers e You Can’t Win, Charlie Brown são os envolvidos na operação, para além de haver sessões DJ por Quem és tu, Laura Santos?, Top Off The Plops e pelo artista visual Rui Toscano. Dos grupos que têm editado nos últimos anos pela Pataca apenas os They’re Heading West não estarão presentes.

“Era ideia antiga fazer uma noite com as bandas da editora e agora que celebramos cinco anos pareceu-nos o momento”, afirma o artista, músico, fundador do colectivo Real Combo Lisbonense e principal responsável pela Pataca Discos, João Paulo Feliciano.

Foi em 2010 que aconteceu a primeira edição própria da Pataca com o lançamento do álbum de estreia de Márcia – antes tinha havido dois licenciamentos. Mas não é apenas a circunstância de terem passado cinco anos que propicia a noite desta sexta-feira. “Trata-se também de abrir o leque de financiamento, porque os músicos não irão receber cachet pelo que os proveitos serão para a editora, e por outro lado existe também o despertar desta zona Oriental da cidade, à qual nos sentimos ligados, porque é aqui que funciona o estúdio, uma unidade fundamental neste projecto.”  

A Pataca é uma edificação independente, sendo ao mesmo tempo empresa, família e cooperativa. “Todas essas dimensões estão interligadas, de outra forma não existiríamos. Em termos jurídicos e editoriais a Pataca existe com base numa empresa que é minha, mas isto é feito de forma muito partilhada e transparente, só possível entre pessoas que confiam e se respeitam mutuamente.”

Essa costela quase familiar que a editora possui cresceu em parte à volta de um espaço físico, o atelier e estúdio de João Paulo Feliciano, que é “um lugar grande, generoso e acolhedor, permitindo às pessoas cruzarem-se nele ao longo destes anos”.

Como acontece com todos os projectos semelhantes, em Portugal e não só, o grande desafio que se coloca na actualidade a uma estrutura destas é como mantê-la em actividade de forma sustentável. Passados cinco anos, João Paulo Feliciano diz que ainda não encontrou essa fórmula. “Se tivesse um olhar racional sobre esta empresa e actividade já tinha desistido há muito, mas continuo a acreditar nas possibilidades de nos reinventarmos, apesar de ter consciência que ninguém sabe bem como atingir essa sustentabilidade neste momento que estamos a viver.”

Vivem-se tempos paradoxais. Há mais possibilidades do que há 25 anos, quando João Paulo Feliciano tinha uma outra editora, a Moneyland Records, mas atingir essa sustentabilidade nunca pareceu tão difícil, porque o que temos hoje é “uma realidade densa e instável, num contexto de transformações profundas.”  

Manter a Pataca Discos é também um acto de resistência, considera ele. “Hoje em dia existe uma tendência para o ultraleve, basta levar uma pen no bolso para acontecer música ao vivo, daí que manter um colectivo de 12 músicos seja um acto de resistência”, afirma, referindo-se ao Real Combo Lisbonense. “A ideia de nostalgia progressista é poderosa para mim, essa noção de que existem coisas importantes em risco de se perderem, as quais é crucial resgatar e atribuir sentido.”  

A Pataca Discos, diz João Paulo Feliciano, é assumidamente, em primeiro lugar, uma família lisboeta, e em segundo da zona Oriental da cidade. “Ter este estúdio só é possível em Lisboa”, começa por dizer. “Vim para aqui desenvolver a minha veia como artista plástico e depois a música começou a tomar conta do espaço. Este lugar não seria possível em Berlim ou Barcelona, da mesma forma que não seria possível na zona histórica. Esta é uma editora da zona Oriental de Lisboa.” Não espanta que para a celebrar tenha sido escolhido o Ateneu da Madre Deus, ao Beato.