Atribuição de bolsas de doutoramento será revista com “firmeza”, diz ministro

Manuel Heitor defendeu o reforço do investimento na ciência portuguesa.

Foto
Manuel Heitor João Henriques

O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, afirmou esta quarta-feira no Porto que o programa de financiamento de bolsas de doutoramento será revisto “com muita firmeza”, considerando que a actual situação é “perfeitamente crítica”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, afirmou esta quarta-feira no Porto que o programa de financiamento de bolsas de doutoramento será revisto “com muita firmeza”, considerando que a actual situação é “perfeitamente crítica”.

“Temos das taxas mais baixas de novos doutores no quadro europeu e, portanto, temos de garantir uma continuidade do processo de formação pós-doutoral e de um processo de confiança no futuro”, disse o ministro, que falava na sessão de encerramento dos 30 anos do Instituto de Engenharia de Sistemas de Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC Tec).

“Os contratos assinados serão cumpridos, mas é clara uma necessidade de repensar e revisitar as estratégias de desenvolvimento científico e também na formação avançada, que é uma área perfeitamente crítica”, garantiu Manuel Heitor. “Por isso temos naturalmente de trabalhar com a comunidade científica para repensar uma estratégia que tem de ser apenas feita e implementada em termos de valorizar o conhecimento em Portugal.”

Manuel Heitor defende que é necessária “uma visão de confiança e de estímulo à produção e difusão do conhecimento. Temos todos de desenvolver um conjunto de práticas e de programas que o consigam concretizar no espaço de uma legislatura”.

“Não nos podemos esquecer que nos últimos quatro anos regredimos vários anos no investimento nesta área e agora temos de voltar a construir essa tendência de crescimento”, sublinhou. Com esse propósito, Manuel Heitor disse que irá trabalhar para “repor e reforçar o investimento na investigação, criando um espaço de debate e de intervenção com a comunidade científica”.

“Nos últimos quatro anos tivemos uma redução total, tendo como base as métricas e as estatísticas portuguesas referenciadas na OCDE, de 530 milhões de euros”, disse o ministro, referindo-se à descida do dinheiro total investido em investigação e desenvolvimento pelo país. “Nos últimos anos tivemos uma redução de 19% no investimento global, são os dados das estatísticas publicadas no mês passado e, portanto, cumpre-nos a nós inverter essa tendência”, acrescentou Manuel Heitor, deixando um desafio aos investigadores para que tentem “perceber esta redução” e para que avancem com “um projecto colectivo de inverter este processo de desvalorização do conhecimento no contexto português”.

Segundo dados referidos pelo ministro da Ciência, Portugal já tinha atingido em 2009/2010 cerca de 1,6% do produto interno bruto (PIB) investido em investigação e desenvolvimento e está, neste momento, com 1,3 % do PIB gasto nessa área. “O meu compromisso com os investigadores é reverter este processo e reforçar o investimento”, acrescentou.

“Por isso, o meu esforço nas últimas semanas de ter discutido esta temática com o comissário europeu em Bruxelas e com a OCDE ainda esta semana, para podermos inverter claramente e convergirmos com a Europa. Portugal divergiu da Europa nos últimos quatro anos em matéria de produção e difusão de conhecimento. A minha principal tarefa é naturalmente inverter essa tendência e trabalhar num projecto e num trajecto de convergência com a Europa.”

Questionado sobre a saída de Portugal de jovens investigadores portugueses para conseguirem concretizar os seus projectos de investigação, o ministro considerou que mais importante do que os convidar a regressar é “valorizar o seu posicionamento”. “Claro que é impensável que todos regressem de um dia para o outro, alguns vão regressar, os outros teremos de valorizar a sua posição e o seu relacionamento com Portugal”, uma vez que “a saída de muitos portugueses nos últimos quatro anos deveu-se muito a um desinvestimento nesta área e particularmente a um projecto de desconfiança no sistema”.