Da cimeira do clima de Paris virá luz para África?

Hollande dá voz a projectos africanos de adaptação às alterações climáticas e à electrificação do continente.

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Refugiados nigerianos no campo de Baga Sola, junto ao lago Chade, obrigados a fugir de suas casas por causa do grupo terrorista Boko Haram SIA KAMBOU/AFP

Tornar África uma prioridade na luta contra as alterações climáticas é um dos objectivos da cimeira das alterações climáticas de Paris. Por isso, François Hollande recebe esta terça-feira alguns dos chefes de Estado dos 54 países africanos para discutir o apoio a medidas como a recuperação do Lago Chade, a iniciativa africana para as energias renováveis ou o projecto da Grande Muralha Verde, para conter o avanço das areias do deserto do Sara.

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Tornar África uma prioridade na luta contra as alterações climáticas é um dos objectivos da cimeira das alterações climáticas de Paris. Por isso, François Hollande recebe esta terça-feira alguns dos chefes de Estado dos 54 países africanos para discutir o apoio a medidas como a recuperação do Lago Chade, a iniciativa africana para as energias renováveis ou o projecto da Grande Muralha Verde, para conter o avanço das areias do deserto do Sara.

“Não posso separar a luta contra o terrorismo da luta contra o aquecimento global”, afirmou o Presidente francês na abertura da cimeira, na segunda-feira. “São dois grandes desafios a que temos de dar resposta.” Poderia juntar-lhes o desafio dos refugiados e migrantes, obrigadas a fugir das suas casas por causa da guerra, da fome, das tragédias climáticas. Nunca foram tantos como hoje – perto de 60 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados. A ideia do pacote específico para África surgiu em Malta, na cimeira da União Europeia sobre as migrações, a 11 e 12 de Novembro.

Após sucessivos anos de falhanços, espera-se que desta cimeira do clima saiam compromissos financeiros. Uma das expectativas é que exista um plano específico para África, diz o Le Monde. França poderá anunciar um pacote de ajuda financeira no valor de 1800 milhões de euros, a atribuir até 2020, diz o jornal.

Se há algo em que os países africanos estão muito interessados é na adaptação às alterações climáticas – pois o continente onde dois terços dos habitantes não têm acesso à electricidade sofre já os efeitos do aquecimento global, com secas e cheias, e provavelmente conflitos provocados por estas provações, quando não emite mais que 4% dos gases com efeito de estufa.

De acordo com o Banco Mundial, que já este mês traçou uma estratégia para ajudar África a adaptar-se às alterações do clima e evitar que milhões de pessoas caiam na pobreza, o continente precisa de investir 5 a 10 mil milhões de dólares anuais já para se adaptar a uma subida da temperatura média do planeta inferior a 2 graus Celsius, tendo como referência os valores da era pré-industrial. E 20 a 50 mil milhões de dólares até 2050. Se as temperaturas aumentarem 4 graus, então, será preciso gastar 100 mil milhões de dólares para África se adaptar às novas condições de vida.

Mas a realidade anda bem longe disto.

Os países africanos vão tentar exigir em Paris apoios para continuar a desenvolver as suas economias, mas segundo um modelo de baixo consumo de carbono. Mas pedem apoio para algo básico, como a electrificação: querem conseguir produzir mais 10 gigawatts a partir de energias renováveis até 2020. Isto custaria entre 12 e 20 mil milhões de dólares, diz o Le Monde. É para este tipo de projectos que querem captar o interesse dos países mais ricos e das suas empresas.

As cidades africanas devem ser especialmente afectadas pelas alterações climáticas, porque a população urbana do continente, que hoje é de 472 milhões de pessoas, deve chegar a 659 milhões em 2025 e mil milhões em 2040. “Os mais pobres serão especialmente atingidos”, dizia o relatório do Banco Mundial.

Por isso, medidas que tentem reabilitar áreas como o lago Chade, na África Central, que fornece água a mais de 68 milhões de pessoas nos quatro países que o rodeiam, são importantes para desacelerar a debandada para as cidades. "O lago já perdeu 90% da sua superfície inicial”, alertou Paul Biya, Presidente dos Camarões. Passou de 25 mil km2 em 1060 para 2500 km2 hoje, explicou depois o Presidente do Chade, Idriss Déby Itno.  

“A redução do Lago Chade reduziu a produção agrícola e pesqueira e forçou os habitantes locais a migrar. Além disso, ao secar-se o lago, tornou-se um refúgio de terroristas do Boko Haram”, declarou ainda Idriss Déby Itno.