O que pode um livro fazer pelas crianças?

Pensar o livro e a edição para a infância são os propósitos de mais uma edição dos encontros O Que Um Livro Pode, que decorrerão em Lisboa, desta sexta a domingo. “Um livro pode o que se quiser”, dizem.

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Durante três dias, o mercado nacional do livro infantil vai estar em discussão e em exposição no Espaço Rua das Gaivotas, 6, em Lisboa. Título geral: Os Livros não Têm Idade. Título da mostra que marca o arranque dos encontros, às 18h desta sexta-feira: Rodapé. “As ilustrações estarão expostas a um metro do chão, à altura da linha de visão das crianças. A montagem foi pensada mesmo para elas”, diz Pedro Vieira Moura, curador da exposição e para quem um livro “pode tudo, pode o que se quiser, pode até levar uma pessoa a ser presa”.

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Durante três dias, o mercado nacional do livro infantil vai estar em discussão e em exposição no Espaço Rua das Gaivotas, 6, em Lisboa. Título geral: Os Livros não Têm Idade. Título da mostra que marca o arranque dos encontros, às 18h desta sexta-feira: Rodapé. “As ilustrações estarão expostas a um metro do chão, à altura da linha de visão das crianças. A montagem foi pensada mesmo para elas”, diz Pedro Vieira Moura, curador da exposição e para quem um livro “pode tudo, pode o que se quiser, pode até levar uma pessoa a ser presa”.

David Guéniot, editor da Ghost e que faz parte da organização dos encontros, diz que este “passeio ilustrado pela infância” quer mostrar “que hoje há um tratamento mais arriscado e arrojado em termos de construção do livro infantil e também mais cuidado na própria produção”.

De origem francesa, Guéniot dirige desde 2011 uma editora especializada em livros de artista e acredita que “o livro infantil representa a utopia do livro”, por isso, neste encontro, aposta na “reflexão das suas premissas por todos os intervenientes na criação, do autor ao editor, passando pelo ilustrador e por outros”. Observa que “houve um grande boom nos últimos dez anos” neste segmento e, como viaja bastante, diz que cada vez mais encontra “livros de editoras portuguesas nas livrarias de Paris, de Londres e de outras cidades”. Gosta disso: “É uma prova do reconhecimento da qualidade do que se faz aqui.”

 

Nova cultura visual

Segundo Pedro Vieira Moura, especialista em banda desenhada e ilustração, a edição para a infância tem vindo a revelar-se “um território com uma capacidade extraordinária de reinvenção e diversidade”. Para o colaborador da Oficina do Cego, “a ilustração portuguesa está como nunca esteve, um trabalho e uma visibilidade conquistados pelos próprios artistas, que procuraram soluções para conseguirem continuar a mostrar os seus projectos”.

O dinamismo na edição para a infância resulta ainda, segundo os organizadores, de “uma nova cultura visual e de uma maior capacidade de risco editorial”. Daí que tenham sido convidados para os encontros editores de hoje e de ontem, como André Letria (da Pato Lógico) e José Oliveira (responsável da literatura infanto-juvenil das Edições Caminho até 2011) para partilharem “com o público as especificidades das suas práticas editoriais na concepção, realização e divulgação de livros infantis”; dos autores e ilustradores espera-se que falem “sobre um livro, uma ideia, um projecto editorial”.

Na noite desta sexta-feira (21h), será lançado O Dicionário do Menino Andersen (Planeta Tangerina), com texto de Gonçalo M. Tavares e ilustrações de Madalena Matoso, com a presença de ambos.

Para as crianças, estão agendados ateliers (manhãs de sábado e domingo) orientados por Alexandra Baudouin e Cláudia Dias, com o objectivo de “sensibilizar para a materialidade do livro, experimentando várias técnicas expressivas e desafiando modos narrativos, revelando o livro como lugar de um processo criativo onde forma e fundo se comunicam”.

No decurso dos encontros, haverá também uma feira de livros infantis que reúne várias editoras, como a Bruaá, a Editorial Caminho, HiHiHi, Kalandraka, Orfeu Negro, Planeta Tangerina e Pato Lógico. Num conjunto de mesas, estarão materiais disponíveis para que se possa pintar, desenhar, mexer e brincar. Pedro Moura chama-lhe “arquipélago Faztu” e convida os visitantes a “criarem os seus próprios postais de Natal”.

A exposição Rodapé conta com trabalhos de Afonso Cruz, Ana Biscaia, André Letria, António Jorge Gonçalves, Bernardo Carvalho, Catarina Sobral, Daniel Silvestre da Silva, João Fazenda, Madalena Matoso, Madalena Moniz, Marta Monteiro, Richard Câmara, Susa Monteiro e Yara Kono.

Em Março de 2016, O Que Um Livro Pode continuará o debate à volta da edição de livros para a infância, mas nessa altura irá centrar-se em projectos editoriais internacionais.

A primeira edição dos encontros começou em 2011 e a organização tem sido partilhada pela editora Ghost, a associação de artes gráficas Oficina do Cego, a plataforma Tipo.pt e a livraria Stet. Assim definem os três dias que anualmente dedicam a debater o livro: “Uma plataforma privilegiada de pensar não apenas as questões do dito ‘mercado alternativo da edição’ em Portugal, mas também as próprias práticas, éticas, processos e dimensões ontológicas da edição, não apenas literária, mas gráfica, fotográfica e visual.”