Apresentado o primeiro partido muçulmano da Austrália

A minoria muçulmana da Austrália reivindica uma posição política em clima de protestos anti-islâmicos e face à afirmação de partidos conservadores de direita.

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O mural anti-islâmico do artista Sergio Redegalli contra o uso de burcas foi vandalizado em Sidney Torsten Blackwood/AFP

Diaa Mohamed, um empresário australiano, apresentou esta terça-feira o que pretende que venha a ser o primeiro partido muçulmano do país. O Partido Muçulmano Australiano (PMA), espera reunir as 500 assinaturas necessárias para o registo oficial.

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Diaa Mohamed, um empresário australiano, apresentou esta terça-feira o que pretende que venha a ser o primeiro partido muçulmano do país. O Partido Muçulmano Australiano (PMA), espera reunir as 500 assinaturas necessárias para o registo oficial.

Com a intenção de vir a concorrer às eleições para o Senado dentro de dois anos, o PMA surge como plataforma para a participação política da comunidade muçulmana. “Existem partidos cristãos, e partidos criados especificamente como opositores ao islão, enquanto os muçulmanos não têm representação oficial”, declarou Diaa Mohamed, o fundador do PMA.

O anúncio oficial desta terça-feira surge no rescaldo das atrocidades cometidas em França por terroristas associados ao Estado Islâmico (EI). “Muitas questões serão colocadas sobre o islão devido aos acontecimentos recentes. Esse é o principal motivo que nos levou a criar este partido, portanto é uma boa altura para o apresentar”, afirmou Mohamed, em entrevista à rádio australiana AM. O líder do PMA condenou os ataques do passado fim-de-semana na capital francesa, afirmando que a sua religião “não defende a morte de inocentes”.

A comunidade muçulmana representa cerca de 2% da população australiana, e desde que o agente da polícia Curtis Cheng foi morto a tiro em Outubro por Fahad Jabar, um jovem muçulmano de 15 anos, os seguidores do islão têm sido alvo de protestos de extrema-direita. Movimentos como a Frente de Patriotas Unidos ou o Reclamar a Austrália manifestam-se contra a “corrosão dos fundamentos judaico-cristãos” do país. 

O primeiro-ministro, Malcolm Turnbull, assumiu o combate à radicalização das manifestações e a tensão que surge em contraprotestos de activistas, que por seu lado condenam a onda de racismo. “Extremismos de qualquer tipo são uma ameaça aos valores da Austrália”, declarou Turnbull num discurso público em Sidney o mês passado. “As pessoas que decidem responder aos actos radicais de uma minoria culpando todos os muçulmanos estão a agir de maneira totalmente contraproducente”.  

O PMA surge para dar voz à comunidade muçulmana na Austrália e afirmar-se perante os seis partidos anti-islâmicos que se propõem às próximas eleições. Entre eles o Partido da Liberdade, de Nick Folkes, o Ama a Austrália ou Sai, liderado por Kim Vuga, antiga estrela de televisão, e a Aliança de Liberdade Australiana (ALA). 

“As pessoas estão à procura de alternativas porque a maioria dos partidos não estão preparados para discutir a divisão multicultural no país e os danos que isso tem provocado à Austrália”, afirmou em declarações à BBC a líder do ALA, Debbie Robinson.

O manifesto do seu partido, oficialmente reconhecido em Julho, sustenta que “o Islão não é simplesmente uma religião, é uma ideologia totalitária com aspirações globais”, cita a BBC.

Os moldes do ALA são semelhantes aos do Partido para a Liberdade da extrema-direita holandesa, liderado pelo polémico Geert Wilders, convidado como orador principal da apresentação oficial da Aliança em Sidney.

No recente encontro do G20 em Antalya (Turquia), o primeiro-ministro australiano declarou ter reforçado a segurança no país, por considerar que o risco de ataques do EI era elevado depois dos acontecimentos em França. No entanto, Turnbull voltou a salientar que “os extremistas islâmicos não agem em nome do islão. Difamam o Islão”.