O Zoo de Lisboa construiu um “paraíso” para os leopardos-da-pérsia

A nova casa dos dois exemplares que vivem no jardim zoológico vai servir de modelo para outras instituições dedicadas à conservação e reprodução da subespécie. Marianne Hartmann, a "encantadora de gatos-selvagens", esteve a ajudar na decoração

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Foi uma semana de trabalho intenso na encosta dos felinos do Jardim Zoológico de Lisboa. Entre colocar troncos de árvore a servir de degraus, plantar vegetação, montar plataformas de madeira em pontos estratégicos e improvisar túneis, não houve mãos a medir para arrumar a nova casa dos leopardos-da-pérsia (Panthera pardus saxicolor). É um T2 com piscinas biológicas e vista desafogada para os vizinhos babuínos. A inauguração foi na sexta-feira mas o casal residente não fez grandes festas.

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Foi uma semana de trabalho intenso na encosta dos felinos do Jardim Zoológico de Lisboa. Entre colocar troncos de árvore a servir de degraus, plantar vegetação, montar plataformas de madeira em pontos estratégicos e improvisar túneis, não houve mãos a medir para arrumar a nova casa dos leopardos-da-pérsia (Panthera pardus saxicolor). É um T2 com piscinas biológicas e vista desafogada para os vizinhos babuínos. A inauguração foi na sexta-feira mas o casal residente não fez grandes festas.

Esta não é uma remodelação qualquer. "Estamos a tentar criar uma instalação que sirva de modelo para os outros 40 zoos que têm leopardos-da-pérsia na Europa", explica José Dias Ferreira, curador de mamíferos do Zoo de Lisboa e coordenador do programa europeu de reprodução daquela que é a maior das oito subespécies de leopardo. O objectivo é proporcionar aos animais que vivem em cativeiro condições e estímulos aproximados aos que teriam em liberdade, para encorajar comportamentos naturais e promover a reprodução. No futuro, as crias serão reintroduzidas nas montanhas do Cáucaso, onde a espécie está extinta.

Para isso, Dias Ferreira quis criar "um paraíso" para os actuais inquilinos – Bara, uma fêmea de dez anos, e o macho (sem nome) de seis anos – e chamou uma "decoradora de interiores" especial para o ajudar. Marianne Hartmann, responsável pelo departamento de comportamento dos felinos da Associação Europeia de Zoos e Aquários e membro da União Internacional para Conservação da Natureza, dedica-se há quase 30 anos a estudar formas de "enriquecer" as instalações zoológicas, sobretudo do gato-selvagem-europeu (Felis silvestris silvestris), para que os animais se sintam "felizes" mesmo em cativeiro.

E como é que isso se faz? "Tenho de pensar como eles, imaginar como é escalar as plataformas e circular no espaço. É por isso que tenho que estar nas instalações, ver a disposição das estruturas. Não consigo simplesmente estar num escritório a desenhar", diz a especialista. Dias Ferreira chama-lhe "a encantadora de gatos-selvagens". Como estes, também os leopardos precisam de ter muitas árvores e madeira por perto, locais de descanso de onde possam ver o que se passa à sua volta, e barreiras visuais que os estimulem a circular em vários sentidos para que a monotonia não se instale.

No espaço recém-remodelado, formado por duas parcelas de terreno divididas por uma rede mas ligadas por um pequeno túnel, Bara vai também poder escolher se quer ter o macho por perto quando parir, ou se pelo contrário prefere ficar sozinha.

O bem-estar dos animais é fundamental para que, após a reprodução, eles possam transmitir às crias as ferramentas necessárias à sua sobrevivência.

Animais “em perigo”
Foi graças ao sucesso de experiências anteriores que o Zoo de Lisboa (que tem a melhor taxa de reprodução da Europa, no que toca a esta subespécie) se tornou parceiro de um projecto que consiste na reprodução dos animais no Parque Nacional de Sochi, na Rússia, com posterior reintrodução das crias no Cáucaso. Em 2012, a instituição foi a primeira a transferir um casal para esta zona. Nove meses depois, Zadig e Andrea tiveram dois filhos no centro de reprodução e reintrodução daquele parque. Não nascia um leopardo-da-pérsia na Rússia havia 50 anos.

Uma das crias deste casal e outro animal nascido no Turquemenistão estão actualmente na etapa final de um treino, em Sochi, que implica aprender a caçar, e que deverá culminar na libertação no Cáucaso na Primavera de 2016. “Para serem reintroduzidos, os animais têm que ser criados sem contacto com humanos. Por isso é que os que nascem no zoo não podem ir directamente para a Natureza, só a geração seguinte”, explica Marianne Hartmann. “É importante que não façam a ligação entre comida e pessoas; caso contrário, se não encontrarem comida suficiente na Natureza, vão procurá-la junto das populações, o que gera conflitos”, acrescenta.

José Dias Ferreira diz que o objectivo do projecto de Sochi é criar uma população no Cáucaso russo, uma zona ideal por ser quase deserta, e ligá-la com os poucos animais existentes mais a Sul, em países como Irão, Arménia e Azerbaijão.

“O leopardo-da-pérsia é um dos predadores de topo naquela zona, e se não for reintroduzido o ecossistema fica desequilibrado, seria uma perda enorme, além de ser uma espécie muito bonita”, argumenta a especialista em comportamento felino.

Sobre a beleza destes animais, classificados como “em perigo” na lista da União Internacional para a Conservação da Natureza, não há dúvidas. Robustos, de pêlo bege com pintas pretas, podem chegar a pesar 90 quilos. São velozes e capazes de saltar até quatro metros de altura. Mas na sexta-feira, quando lhes abriram as portas da casa nova, Bara e o macho não estiveram para grandes aventuras. Ela saiu primeiro da jaula, mas logo especou, cautelosa e assustada, aninhada ao pé de um tronco. Ele saiu depois e, em passo rápido, atreveu-se a ir mais longe. Parou, olhou em redor, curioso, e regressou à base. Ainda estão a apalpar terreno.