Idoso desaparecido na enxurrada em Boliqueime

Forte precipitação colocou a nu reduzida capacidade de escoamento dos colectores e deficiências urbanísticas. Antiga ribeira de Albufeira chama-se hoje Avenida da Liberdade

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Um homem de 80 anos desapareceu esta tarde no Algarve, na zona de Boliqueime. Conduzia um automóvel Smart na estrada que liga a discoteca Kadoc à Estrada Nacional 125 e suspeita-se que possa ter sido levado pela enxurrada. A viatura foi arrastada para dentro de um ribeiro, tendo mais tarde, sido encontrada submersa, com os vidros partidos. A GNR prossegue as buscas para encontrar o homem.

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Um homem de 80 anos desapareceu esta tarde no Algarve, na zona de Boliqueime. Conduzia um automóvel Smart na estrada que liga a discoteca Kadoc à Estrada Nacional 125 e suspeita-se que possa ter sido levado pela enxurrada. A viatura foi arrastada para dentro de um ribeiro, tendo mais tarde, sido encontrada submersa, com os vidros partidos. A GNR prossegue as buscas para encontrar o homem.

O ribeiro que recebe as águas da zona norte de Boliqueime saltou das margens, não se distinguindo, durante a tarde, onde acabava a estrada e começava a linha de água. O túnel por baixo da linha de caminho de ferro da estação de Boliqueime funcionou  como um funil, tornando perigosa a circulação no local. O pico mais intenso da pluviosidade nesta zona do Algarve deu-se entre as 14h00 e as 14h30.

A rua dos bares de Albufeira transformou-se também numa ribeira. A chuva que caiu entre a madrugada e a tarde deste domingo veio colocar a nu, de forma mais evidente, aquilo que já era conhecido: a baixa da cidade é uma zona de alto risco de inundações. Desta vez, a situação foi mais grave – a água entrou pelas lojas até quase ao tecto e a Praia dos Pescadores transformou-se num mar de lama, onde foram desaguar móveis, electrodomésticos, baldes e tudo o que a enxurrada apanhou pela frente.

Mal a precipitação deixou de se fazer sentir de forma mais intensa, centenas de habitantes saíram para a rua ver o espectáculo das águas em movimento. O miradouro do Pau da Bandeira foi dos locais mais concorridos. Uns recolhiam imagens para mais tarde recordar, outros deixavam cair lamentos e críticas. “Já se sabia que, mais tarde ou mais cedo, isto iria acontecer”, observava o antigo pescador Orlando Neves, criticando a qualidade das obras da Sociedade Polis, levadas a cabo ao tempo que José Sócrates ocupava a pasta de secretário de Estado do Ambiente. O plano de requalificação da cidade transformou o local conhecido por ribeira numa área urbanizada, que hoje se chama Avenida da Liberdade. Mas o pior foi que em “em vez de aumentarem o diâmetro das manilhas das águas pluviais, reduziram-no".

Um entertainer residente em Albufeira há muito tempo, António Dias, subscreve a tese, acrescentando: “ Os técnicos foram avisados pelos moradores, mas não quiseram dar ouvidos”. O pescador evoca a velha praia dos pescadores, quando o turismo ainda não tinha feito sentir os seus efeitos no urbanismo da cidade: “Ainda me recordo de o meu sogro ir por aqui acima [pela actual Rua 25 de Abril] com um barco a remos buscar pessoas a casa, quando havia inundações”.  Albufeira sempre foi vulnerável à queda de água.

De telemóvel na mão, a agente de viagens Frederica Costa tenta saber se estão bem as pessoas retidas em casa, porque o caudal das águas na rua não lhes permite sair. Aparentemente encontram-se livres de perigo, aguardam apenas o resgate dos bombeiros, feito com recurso a uma mota de água. “Vou perder tudo o que tenho no escritório, não sei calcular o prejuízo”, lamenta. Desde a última grande inundação, há cerca de oito anos, as companhias de seguros “não querem correr tão grandes riscos, e colocam muitas dificuldades para fazer seguros”, assegura.

Mas não foi só na cidade que o mau tempo se fez sentir. A ribeira que entra na praia de Santa Eulália saltou do leito, partiu os pontões e a ponte de madeira de acesso à zona balnear ficou destruída. Um pouco mais para nascente, nos Olhos d’ Água, as sarjetas entupiram a lama escorreu das arribas para a rua. Uma grande parte da areia da praia desapareceu. Na fonte de Boliqueime as águas que escorreram da zona do barrocal chegaram ao cruzamento da Estrada Nacional 125 e o local a que uns chamam poço e outros fonte de Boliqueime converteu-se  num lago, com a água a chegar a meio das portas das viaturas. Na fronteira do concelho de Loulé com Albufeira, as canas que se juntaram nos pilares da ponte do Barão formaram uma espécie de barragem, e as águas inundaram os campos em redor.