Projecto português ajuda a juntar famílias de refugiados separados pela guerra

Verbas reunidas em plataforma online de crowdfunding revertem directamente para programa do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados que se dedica a procurar familiares perdidos.

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Há mais de 20 anos, Marta Moita arranjou um trabalho de Verão nas limpezas de um hospital na Alemanha. Foi lá que a agora investigadora principal do Programa Champalimaud de Neurociências conheceu uma mãe e duas filhas. A história da vida dessa família cruza-se com o presente da Europa. Eram refugiadas da Bósnia e, pelo caminho da guerra, tinham perdido o rasto ao pai. Perante a nova crise de refugiados, Marta Moita sentiu necessidade de criar um projecto de apoio. Não fez uma ligação directa ao caso da família da Bósnia, mas reconhece que “se calhar implicitamente” esteve sempre na sua cabeça. Nesta terça-feira nasce oficialmente uma plataforma de crowdfunding que pretende reunir verbas voltar a juntar famílias separadas pela crise humanitária. Chama-se Reconnect - Help refugees find their families.

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Há mais de 20 anos, Marta Moita arranjou um trabalho de Verão nas limpezas de um hospital na Alemanha. Foi lá que a agora investigadora principal do Programa Champalimaud de Neurociências conheceu uma mãe e duas filhas. A história da vida dessa família cruza-se com o presente da Europa. Eram refugiadas da Bósnia e, pelo caminho da guerra, tinham perdido o rasto ao pai. Perante a nova crise de refugiados, Marta Moita sentiu necessidade de criar um projecto de apoio. Não fez uma ligação directa ao caso da família da Bósnia, mas reconhece que “se calhar implicitamente” esteve sempre na sua cabeça. Nesta terça-feira nasce oficialmente uma plataforma de crowdfunding que pretende reunir verbas voltar a juntar famílias separadas pela crise humanitária. Chama-se Reconnect - Help refugees find their families.

“O que me fez a mim passar à acção foi sentir que há uma solução para este problema dos refugiados, pelo menos em parte. A Europa tem capacidade para lidar com esta crise humanitária de refugiados e não o está a fazer. Foi isso que me vez avançar”, explica ao PÚBLICO a investigadora de 43 anos. “Às vezes a solução é muito complicada. Mas apesar de ser complicada, acho que existem meios para lidar com isto. A Europa só tinha a ganhar com lidar com esta crise e achei que com certeza não era única a pensar assim e que se devia dar voz aos cidadãos que acham que se deve e que se pode actuar”, acrescenta.

O projecto Reconnect, que saiu da cabeça de Marta Moita, arranca oficialmente nesta terça-feira, mas o entusiasmo foi tal que já está online na plataforma de crowdfunding Indiegogo e recebeu vários donativos. Pelo caminho contou com o apoio da ilustradora Madalena Matoso – para dar uma cor e vida à imagem do projecto – e ainda com um artista um músico e uma professora de literatura. O objectivo é conseguir reunir 25 mil euros, que se estima serem suficientes para ajudar 100 crianças a recuperarem as suas famílias. A investigadora conta também com o apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

Aliás, as verbas doadas na plataforma através de um simples pagamento com cartão de crédito vão directamente para a conta do ACNUR, que ajudou a fazer algumas das contas. Nos últimos tempos o Alto Comissariado estima que mais de 10 mil crianças possam ter cruzado sozinhas as fronteiras da Europa para Itália e Malta e aponta para que sejam necessários, em média, 250 dólares para as manter seguras e reencontrar as famílias. “Contactei várias pessoas que sabia estarem ligadas a estas questões dos refugiados. Contactei também directamente António Guterres, do ACNUR, e tive logo resposta”, adianta Marta Moita, lembrando que o Alto Comissariado tem precisamente um programa dedicado a juntar de novo as famílias.

“Quis perceber como é que o programa funcionava. Foi através do diálogo que consegui ir dando forma à campanha porque nunca fiz nada disto”, conta. Marta Moita espera que este projecto seja mais um contributo para “uma crise de proporções enormes”. Questionada sobre o porquê de ajudar desta forma e agora, afirma que a dimensão das notícias e a passividade das autoridades a incentivaram a agir. “Claro que não é a única crise, mas é aqui muito próxima e, sobretudo, é num sítio em que eu acho que há capacidade para agir e essa inércia e resistência que se vê fez-me actuar”. A cidadã acredita, também, que a Europa não só pode como deve dar uma resposta a estas pessoas: “A Europa tem a capacidade de lidar, absorver e integrar estas pessoas até que haja condições para quem quiser voltar”.

A investigadora do Programa Champalimaud de Neurociências encoraja mais cidadãos a apoiarem os refugiados, até por considerar que é um forte sinal que passam às autoridades. “Na Europa vive-se uma espécie de crise de valores e acho que é importante que a Europa se redeclare como um sítio onde se valoriza a solidariedade social. Ao mesmo tempo que há imensas iniciativas de cidadãos, com bastante demonstração de vontade de serem solidários, isso não é acompanhado pelos decisores e grandes agentes que podem realmente fazer a mudança. Era importante contrariar o discurso do medo”, diz, lamentando que “dois terços do dinheiro que a Comissão Europeia mobilizou seja para as fronteiras” e não para integrar pessoas.