Guitarras ao alto

Com novos discos, os guitarristas portugueses Pedro Madaleno e Nuno Costa afirmam a sua identidade.

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A guitarra sóbria de Costa não tem preocupação de se fazer notar

Pomos o disco de Madaleno a tocar e a música arranca com aquele travo a Pat Metheny, um som cheio e muito claro, a guitarra seca que se destaca. Abrimos o booklet e vemos que essa ligação é assumida, esse tema tem mesmo uma dedicatória a Metheny. Mas apesar da influência directa, o disco não se fica por essa reverência, a música de Madaleno ousa atravessar fronteiras, aproximando-se da world music, cruzando mundos, passando até pelo cinema (o último tema, numa toada sentimental, é uma homenagem a Morricone).

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Pomos o disco de Madaleno a tocar e a música arranca com aquele travo a Pat Metheny, um som cheio e muito claro, a guitarra seca que se destaca. Abrimos o booklet e vemos que essa ligação é assumida, esse tema tem mesmo uma dedicatória a Metheny. Mas apesar da influência directa, o disco não se fica por essa reverência, a música de Madaleno ousa atravessar fronteiras, aproximando-se da world music, cruzando mundos, passando até pelo cinema (o último tema, numa toada sentimental, é uma homenagem a Morricone).

Pedro Madaleno apresenta aqui um trabalho mais sofisticado, onde a diversidade de ideias da composição é realçada pela sofisticação dos arranjos. Individualmente, há destaques naturais: a guitarra controla todo o espaço com segurança, a secção rítmica é robusta, o piano está sempre presente e, sobretudo, sobressai o acordeão irrequieto de Barradas.

Com uma carreira mais curta, o também guitarrista Nuno Costa acaba de lançar o seu terceiro álbum, Detox, também gravado em sexteto. Ao lado de Costa estão aqui nomes sonantes da cena lisboeta: dois irmãos Moreira, Bernardo no contrabaixo, João no trompete, e o baterista André Sousa Machado. A estes juntam-se dois jovens músicos oriundos do norte: João Guimarães (saxofone alto) e Óscar Marcelino da Graça (piano). Logo nos seus dois primeiros discos, (...) Reticências entre parênteses e All Must Go, destacou-se a originalidade da composição de Costa, associada a um certo lado paisagístico.

Essas características são confirmadas neste terceiro disco, onde os temas não têm pressa, evoluem tranquilamente com a participação colectiva. A guitarra sóbria de Costa não tem preocupação de se fazer notar, abre espaço aos parceiros, que exploram convenientemente e com experiência cada intervenção. Mas, apesar de não ser gulosa, também a guitarra de Nuno Costa se faz notar, com o seu fraseado bem controlado, como acontece no tema A vespa contra-ataca, onde sola a alto nível. Como nota de curiosidade, no booklet deste disco o autor assina um pequeno texto sobre cada uma das composições e, mais do que escrever sobre a música em si, explica os títulos e sentimentos ligados a cada tema. Esta é uma ideia que poderia ser imitada por outros músicos, por ajudar a orientar o ouvinte, combinando a pura fruição sonora e o desvendar do seu universo.