No Out.Fest há novas músicas e uma cidade para descobrir

Desta quinta a domingo, oportunidade para se descobrir o jazz de Matana Roberts, o ambientalismo de Laraaji ou a electrónica de Vladislav Delay, e também alguns dos espaços mais emblemáticos do Barreiro.

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 De comum a todos os concertos a vontade de dar a conhecer novos ângulos, independentemente dos géneros, e a diversidade geracional dos intervenientes.  

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 De comum a todos os concertos a vontade de dar a conhecer novos ângulos, independentemente dos géneros, e a diversidade geracional dos intervenientes.  

Esta quinta-feira, na Escola de Jazz, haverá um dos concertos mais esperados do evento, com a americana Matana Roberts, saxofonista, experimentalista sonora, personalidade nuclear na reconfiguração do jazz, expondo ao mesmo tempo um forte desejo de intervenção política. Na mesma sessão estarão o duo do clarinetista japonês Akira Sakata e do pianista Giovanni Di Domenico e o trio Miguel Mira, Pedro Sousa & Afonso Simões.

Na sexta, outro dos nomes em grande evidência será o do finlandês Vladislav Delay que ao longo dos anos tem abordado as mais variadas tipologias de características electrónicas e não só (tecno, house, ambientalismo, dub) que tanto o transportam para a música de dança como para traços digitais mais experimentais.

O concerto de Delay, bem como do histórico projecto inglês AMM, onde a improvisação estará em evidência esbatendo as fronteiras do jazz ou da música contemporânea, e dos portugueses David Maranha, Ricardo Jacinto e Norberto Lobo com a sueca Helena Espvall, acontecerão no Museu Industrial da Baía do Tejo, um magnífico espaço que fica no coração da zona industrial da cidade e que reúne equipamentos industriais de diversa índole.

No sábado, oportunidade para se descobrir um outro lugar, que nos últimos tempos tem feito muito por reavivar a dinâmica artística local. Falamos da ADAO (associação desenvolvimento artes e ofícios), que tem vindo a ocupar e a reconverter um antigo quartel de bombeiros, repleto de salas e espaços distintos, que têm vindo a ser utilizados por artistas, músicos ou artesãos.

Será aí que, sábado, evoluirão mais de uma dezena de activistas da música das mais diversas proveniências, como o australiano Russell Haswell, cruzando o noise, a experimentação electrónica ou o tecno, ou os excelentes escoceses Golden Teacher, capazes de reconfigurar as linguagens do pós-punk dos anos 80 em matéria francamente actual. Um dos decanos do jazz mais livre, o saxofonista alemão Peter Brötzmann, actuará na companhia do vibrafonista americano Jason Adasiewicz, enquanto de França virão os Low Jack, abordando a estética industrial, ou Black Zone Myth Chant, para estratégias sonoras à volta do psicadelismo.

Alguma da mais desafiante música feita por portugueses nos últimos anos deve também qualquer coisa ao Out.fest, daí que não surpreenda que várias formações estejam presentes no espaço ADAO como os colectivos Gala Drop, Caveira e Niagara, ou o guitarrista Filipe Felizardo e o experimentalista sonoro Cotrim.  

No domingo oportunidade para descobrir a Escola Conde de Ferreira, a primeira da cidade, construída em 1866, que tem vindo a acolher um projecto comunitário de desenvolvimento local assente na reabilitação artística, e principalmente a música do veterano americano Laraaji. Praticante de meditação transcendental através do riso e criador de música ambiental próximo do silêncio, virá apresentar The Peace Garden, uma peça que é também workshop de meditação e performance. Uma viagem celestial, motivada pelo seu entendimento muito particular das culturas místicas orientais, é o que está prometido.

Durante a manhã de domingo, o próprio Laraaji, que viu a sua carreira ser impulsionada nos anos 80 por Brian Eno, conduzirá uma sessão de ioga, numa das actividades extra-concertos do acontecimento, que dessa forma tenta deixar a sua marca na comunidade, para além dos dias em que acontece. Esta quinta-feira o percussionista Eddie Prévost, que tocará com os AMM, conduzirá um workshop sobre improvisação, enquanto sexta, Russell Haswell e o português André Gonçalves tratarão de conduzir um workshop sobre sintetizadores analógicos modelares.

Ao longo dos anos decorreram concertos em mais de vinte espaços, alguns preparados para receber música, outros adaptados para esse efeito, pelos quais passaram nomes como Oneida, Panda Bear, The Fall, William Basinski ou Wolf Eyes.