A Lisboa que Salazar não queria mostrar

O fotolivro Lisboa, Cidade Triste e Alegre, dos arquitectos Victor Palla e Costa Martins, regressa finalmente ao mercado.

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A última edição de Lisboa, Cidade Triste e Alegre esgotou em menos de um ano DR

São cerca de 200 fotografias – seleccionadas a partir de “cerca de seis mil clichés”, nas palavras de Palla (1922-2006) e Costa Martins (1922-1996) – que perfazem “um tributo de amor à cidade”. Os dois arquitectos não quiseram fazer uma colecção de postais, de “’bonitas’ provas isoladas”, afastaram-se da tradicional fotografia de salão. Assim compuseram “o retrato da Lisboa humana e viva através dos seus habitantes – de dia, de noite, nos seus bairros, na Baixa, no Tejo”, escreveram os autores sobre o seu livro que nasceu, de “forma inteligente”, como uma colecção de fascículos, contextualiza André Príncipe. “Iam iludindo a censura, testando o que passava”, diz o editor ao Ípsilon, porque Salazar “queria mostrar as Avenidas Novas e a Lisboa modernista”.

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São cerca de 200 fotografias – seleccionadas a partir de “cerca de seis mil clichés”, nas palavras de Palla (1922-2006) e Costa Martins (1922-1996) – que perfazem “um tributo de amor à cidade”. Os dois arquitectos não quiseram fazer uma colecção de postais, de “’bonitas’ provas isoladas”, afastaram-se da tradicional fotografia de salão. Assim compuseram “o retrato da Lisboa humana e viva através dos seus habitantes – de dia, de noite, nos seus bairros, na Baixa, no Tejo”, escreveram os autores sobre o seu livro que nasceu, de “forma inteligente”, como uma colecção de fascículos, contextualiza André Príncipe. “Iam iludindo a censura, testando o que passava”, diz o editor ao Ípsilon, porque Salazar “queria mostrar as Avenidas Novas e a Lisboa modernista”.

A história do projecto confirma a afirmação da editora de que este é “o mais importante livro de fotografia português”. Palla, autor do restaurante Galeto, da Escola do Vale Escuro e de alguma da Lisboa modernista, e Costa Martins, que projectou habitação nos Olivais, lançaram-se em  1958/59 numa operação que os levou cidade dentro a pensar num livro. Não nas imagens, mas num livro – “é o primeiro fotolivro a usar todas as armas que um livro dá: o design, o sangrar da página para criar um movimento mais do que para fixar as imagens", diz André Príncipe. Dialogando com as fotografias, de diferentes escalas, há também textos de grandes autores portugueses como Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros ou Gil Vicente, e inéditos à época de Eugénio de Andrade, Alexandre O’Neill ou David Mourão-Ferreira. O resultado: sete fascículos, vendidos nos quiosques em 1959. “Um fracasso comercial” (e “poucas cópias foram feitas”).

Mais de 20 anos depois, em 1982, António Sena recuperou cerca de 300 dos fascículos sobrantes, encadernou-os e Lisboa, Cidade Triste e Alegre voltava brevemente à tona. Em 2004 seria o único livro português a integrar The Photobook: A History (Phaidon), coligido por Martin Parr e Gerry Badger, ali figurando entre “os mais importantes livros do pós-guerra”, destaca André Príncipe. “É definitivamente o livro de fotografia português mais conhecido internacionalmente, uma referência”, remata o editor.

Em 2009, a Pierre von Kleist lançou uma nova edição, a segunda oficial e de dois mil exemplares, que esgotou em menos de um ano. Tal como a de há seis anos, esta terceira edição integra um suplemento com texto do crítico britânico Gerry Badger. Lisboa, Cidade Triste e Alegre é devolvido ao mercado às 18h30 desta sexta-feira na loja A Vida Portuguesa do Intendente, e estará depois à venda nas livrarias especializadas em arte e nos mais generalistas Fnac e El Corte Inglés, assim como no site da editora (pierrevonkleist.com). A edição custa 90 euros. 

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