RWC 2015

Antevisão do Escócia-Japão

Após a fabulosa vitória contra a África do Sul, os nipónicos apadrinham nesta quarta-feira a estreia da Escócia

22 de Setembro de 2015, 9:20

Até sábado, para a grande maioria dos adeptos de râguebi, o duelo desta quarta-feira entre a Escócia e o Japão seria apenas mais um jogo no Mundial 2015, mas depois da incrível exibição dos japoneses contra a África do Sul, tudo mudou. Perceber até onde podem afinal chegar os Brave Blossoms é o grande atractivo na estreia dos britânicos na prova. A partida promete equilíbrio, mas o favoritismo continua a ser dos europeus.

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Macron na Sorbonne: o grande agitador

Caro leitor, cara leitora

Há sete anos, três meses depois de chegar ao Eliseu, Emmanuel Macron foi à Sorbonne fazer o seu primeiro grande discurso sobre a Europa. Em 2017, Macron dirigia-se, em primeiro lugar, à chanceler alemã, Angela Merkel, que praticamente ignorou os desafios lançados pelo Presidente francês. A prudente chanceler não se revia nas palavras visionárias e voluntaristas do líder francês. Na altura, talvez ainda mais do que agora, muito pouco se podia fazer na União Europeia sem um compromisso entre Paris e Berlim. O Reino Unido ainda pertencia à União, compondo um triângulo que acabava por reflectir a diversidade europeia. Apesar da anexação da Crimeia e da intervenção militar russa no Donbass, nem Merkel nem Macron olhavam para Moscovo como uma ameaça séria. Preferiam a via da "cooperação" para lidar com a Rússia, acreditando que teriam influência sobre os desígnios de Putin. Merkel via o mundo à luz da realidade da própria Alemanha: o importante era a geoeconomia. Macron via a França como uma potência militar capaz de conduzir a Europa numa "terceira via", independente e equidistante dos Estados Unidos e da China.

Sete anos volvidos, a Europa não podia estar mais distante daquela que o Presidente francês descrevia na Sorbonne. Primeiro, o "Brexit", que a amputou de uma das suas duas potências militares e nucleares. Quase em simultâneo, a eleição de Donald Trump, com as constantes diatribes contra a NATO e contra a própria União Europeia. Depois, a pandemia, que sujeitou as suas economias e as suas sociedades a uma prova de fogo inimaginável. Finalmente, uma guerra de grandes dimensões na sua fronteira leste, que revelou a verdadeira natureza do imperialismo agressivo e expansionista da Rússia de Putin.

A União Europeia conseguiu responder unida à pandemia – quer nas vacinas, quer numa série de medidas sociais que culminaram no Programa de Recuperação e Resiliência para enfrentar os estragos económicos da covid-19. Citando António Vitorino, foi um daqueles momentos em que os europeus perceberam quão importante é União Europeia nas suas vidas. Ainda estávamos a recuperar do choque, quando Vladimir Putin desencadeou uma invasão em grande escala contra a Ucrânia, a 24 de Fevereiro de 2022. O choque foi igualmente brutal. Depois de algumas hesitações, a União Europeia conseguiu manter-se unida, apoiar a Ucrânia e alcançar a dimensão da ameaça à sua segurança que a Rússia representa. É onde estamos. Outra vez com a sombra de uma hipotética reeleição de Trump. Confrontados com a incapacidade da indústria europeia para responder às exigências do apoio militar a Kiev, mas também às da sua própria defesa. Numa encruzilhada do caminho em que as decisões que tomarmos agora vão determinar o futuro dos 450 milhões de cidadãos da União Europeia e do próprio continente no longo prazo.

Macron justificou o seu segundo discurso da Sorbonne com a urgência destas decisões. Dramatizou como costuma fazer. Com uma diferença importante: a União Europeia enfrenta desta vez escolhas dramáticas, que não permitem atrasos e que alteram o paradigma em que assentou a própria integração.

Agitador

No seu discurso sobre a NATO, em 2019, Macron declarou que a aliança estava "em morte cerebral". Não se enganou totalmente – Trump ameaçava abandoná-la; faltava-lhe uma missão unificadora; os aliados europeus arrastavam os pés em matéria de gastos com a defesa. A guerra na Ucrânia acordou-a e revitalizou-a, dando-lhe de novo todo o sentido.

Desta vez, a mensagem de Macron estava igualmente destinada a chocar. "A Europa é mortal, pode morrer." "Tudo depende das escolhas que fizermos e estas escolhas têm de ser feitas agora." Pode até ser uma morte lenta, daquelas de que quase não se dá conta. "Na próxima década, é enorme o risco de enfraquecermos ou até sermos relegados [para um lugar menor]."

Na verdade, a guerra na Ucrânia teve um efeito quase imediato sobre os europeus: revelou-lhes um mundo para o qual não gostavam de olhar. Com a emergência de novas e velhas grandes potências, que não respeitam a lei internacional e que empurram o mundo para uma feroz competição entre elas para a qual a Europa não está preparada. A guerra veio também pôr em dramática evidência a dependência europeia dos Estados Unidos para garantir a sua própria defesa. Durante anos, os europeus prometeram a si próprios libertar-se desta dependência excessiva. Durante anos, quase tudo não passou de retórica.

Macron volta à sua velha ideia da independência estratégica em relação aos Estados Unidos. Neste domínio, não vai conseguir conquistar grandes apoios. A generalidade dos países do Leste continua a confiar sobretudo nos EUA. A Alemanha também. A Polónia acaba de anunciar que aceitará armas nucleares americanas no seu território. A Alemanha quer preservar as que já lá estão. Mesmo assim, pela primeira vez, um Presidente francês anteviu que a force de frappe nuclear francesa pode vir a ser colocada ao serviço da União Europeia. Não chega para dissuadir o poderio nuclear russo.

O regresso à equidistância?

Macron tem, no entanto, alguma razão quando diz: "Por mais forte que seja a nossa aliança com a América, não somos uma prioridade para eles." "Eles têm duas prioridades: eles próprios – o que é justo – e a China." Talvez exagere na linguagem quando insiste que a Europa nunca será "vassala" dos EUA nas suas relações com as outras regiões do mundo. É outra vez a tentação da "terceira via" que não tem grandes adeptos, sobretudo quando o mundo é hoje muito mais adverso aos interesses e aos valores ocidentais e quando as duas grandes potências autocráticas não têm qualquer dúvida em cooperar para tentar destruir a ordem internacional construída e liderada pelos EUA. Mas o debate é útil. Tem de ser feito. Macron tem quase sempre o mérito de suscitar as questões mais difíceis e isso é bom.

Em Fevereiro passado, escandalizou toda a gente quando, numa reunião dos países que apoiam a Ucrânia, em Paris, disse que os aliados poderiam ter de intervir directamente no conflito, incluindo com botas no terreno. A sua intenção era desenvolver uma "ambiguidade estratégica" que pode deixar Moscovo a fazer contas diferentes. Sublinhou com traço muito grosso o que está em causa para a Europa na Ucrânia. Não foi totalmente negativo. Teve aceitação a leste e em Kiev.

As propostas

Faltam as propostas apresentadas no seu discurso de 90 minutos num anfiteatro menos cheio do que o que o recebeu em 2017. Também as houve, com a habitual ambição. Quer uma Europa mais poderosa militarmente, mais próspera, mais verde, capaz de liderar a revolução tecnológica que hoje define cada vez mais o poder das nações, com um orçamento que duplique o actual, com uma nova política comercial que exija a reciprocidade.

Apenas uma pequena amostra do seu discurso: "Trazer o investimento de regresso à Europa, fazer com que o nosso modelo monetário, orçamental e financeiro responda às nossas necessidades de financiamento (…). Discutir com os nossos parceiros europeus um choque de investimento público comum e o aumento da capacidade financeira da UE pelo menos para o dobro. Desenvolver novos recursos próprios (taxa de carbono nas fronteiras, taxa sobre as transacções financeiras, benefícios das multinacionais)."

As propostas de Macron, apesar do seu grau de ambição, não andam longe daquelas que estão a ser apresentadas por académicos e antigos responsáveis políticos europeus em vários fóruns, tentando responder aos gigantescos desafios que a Europa enfrenta num mundo cada vez mais caótico. Destaco os mais importantes. Europa 2040 – Amanhã É já Hoje, elaborado por um conjunto de académicos e políticos, entre os quais António Vitorino, sob o patrocínio do trio de presidências que incluiu França, Portugal e Eslovénia que foi divulgado a 25 de Março em Bruxelas. Outro estudo, Muito mais do que Um Mercado, encomendado ao ex-primeiro-ministro italiano Enrico Letta e já entregue aos líderes europeus a 18 de Abril. O tão aguardado relatório sobre a competitividade da economia europeia, encomendado a Mario Draghi pelo Conselho Europeu que só será divulgado na íntegra depois das eleições europeias.

Primeiras reacções

O discurso de Macron já suscitou algumas críticas em Berlim, ainda que não oficiais. Shahin Vallée, investigador do German Council on Foreign Relations, destaca sobretudo o facto de Macron não se articular com os seus principais parceiros, nomeadamente com Berlim – o que é um facto. Dá exemplos. "Macron enfatiza a necessidade de fortalecer as defesas europeias, mas, apesar de dizer que tal deve envolver o desenvolvimento de uma capacidade de ataque com mísseis de longo alcance e a construção de um sistema de defesa aérea europeu, não clarifica se significa juntar-se à Sky Shield Initiative liderada pela Alemanha [uma espécie de Cúpula de Ferro como a israelita] que já inclui 21 países que planeiam utilizar sistemas israelo-americanos." Prossegue o investigador, numa opinião publicada pelo Financial Times: "Macron também reafirma o papel crucial da dissuasão nuclear (…) e menciona a expansão da cooperação nuclear franco-britânica que inclua outros países europeus. A questão ainda é tabu na Alemanha e na maioria dos países do Leste europeu."

As críticas podem ser justas. Falta à Alemanha a ousadia de apresentar a sua visão do futuro da Europa. Num ponto, no entanto, o autor tem razão. "Como pode conseguir-se a unidade europeia numa Europa que se está a alargar, quando há forças políticas comprometidas com políticas identitárias, centradas nas migrações e na defesa de uma mítica cultura europeia?" O autor chama a atenção para o desafio existencial que enfrentamos: a ascensão de uma direita radical e extrema que quer "outra Europa" para disfarçar o seu antieuropeísmo e o seu soberanismo que ataca os fundamentos da União Europeia: a liberdade, a democracia, o Estado de direito, o respeito por toda a gente por igual.

Orbán em Budapeste

No mesmo dia em que Macron fazia o seu segundo discurso da Sorbonne, Viktor Orbán discursava em Budapeste na Conferência da Acção Política Conservadora, reunindo representantes dos partidos nacionalistas e populistas europeus e americanos – para apelar à derrota do "espírito progressista mundial" e encorajar Donald Trump a defender "a sua verdade" diante dos juízes. As eleições europeias em Junho e as presidenciais americanas em Novembro serão uma oportunidade para abrir as portas a uma "era de soberania" inspirada na Hungria, uma "ilha de conservadorismo". Objectivo declarado: destruir a hegemonia americana e a ordem liberal que construiu. Para quem tenha dúvidas: o mesmo objectivo de Moscovo ou Pequim.

A economia

Apenas uma nota que talvez sublinhe na perfeição os dilemas europeus. "Se quisermos apenas um número para simbolizar a estatura da economia americana, é este: em 2024, os EUA serão responsáveis por 26,3% do PIB global, o valor mais alto em quase duas décadas", escreveu o Wall Street Journal, com base nos dados mais recentes do FMI. A Europa reduziu a sua parte da riqueza global, distanciando-se ainda mais da América. A mesma sorte teve o Japão. A China passou de 67% da riqueza produzida pelos Estados Unidos em 2018 para 64%. É talvez este o maior desafio europeu.

Tenha uma boa semana

Árbitro: John Lacey (Irlanda)

Total de jogos entre as duas selecções: 4

Jogos ganhos pela Escócia: 4

Jogos ganhos pelo Japão: 0

Empates: 0

Maior vitória da Escócia: 100-8

Maior vitória do Japão: -

Média de pontos da Escócia nos jogos contra o Japão: 55

Média de pontos do Japão nos jogos contra a Escócia: 11

Previsão do P3 Râguebi: vitória da Escócia por 7 pontos

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