A passadora

É um exercício de cópia cuspido e escarrado – cópia de Carpenter – e é obvio que isso nos conquista logo, mais vale uma boa cópia que um mau original.

Foto
Vai Seguir-te: não há como negar o prazer, puramente plástico em primeiro lugar, de algumas das suas cenas e sequências DR
Carpenter, o Carpenter de Halloween, por exemplo, que este filme lembra de várias maneiras, foi mil vezes copiado, a maior parte das vezes em cópias que confundiam o essencial com o acessório. Menos vezes vimos cópias carpenterianas que ao modelo tenham ido buscar sobretudo uma noção do estilo, da forma, duma maneira de fazer. O melhor de Vai Seguir-te é sua colagem, para não dizer “reprodução”, de alguns elementos decisivos do estilo de Carpenter. Basta o primeiro plano, aliás notável, para o perceber – a panorâmica, a gestão do tempo interno do plano, o movimento da câmara a desenhar um espaço a 360 graus (quer dizer: totalmente “aberto” e, portanto, ameaçador), o ritmo de sintetizador na banda sonora, o cenário da ruazinha suburbana que parece tirada a papel químico das ruazinhas de Halloween.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Carpenter, o Carpenter de Halloween, por exemplo, que este filme lembra de várias maneiras, foi mil vezes copiado, a maior parte das vezes em cópias que confundiam o essencial com o acessório. Menos vezes vimos cópias carpenterianas que ao modelo tenham ido buscar sobretudo uma noção do estilo, da forma, duma maneira de fazer. O melhor de Vai Seguir-te é sua colagem, para não dizer “reprodução”, de alguns elementos decisivos do estilo de Carpenter. Basta o primeiro plano, aliás notável, para o perceber – a panorâmica, a gestão do tempo interno do plano, o movimento da câmara a desenhar um espaço a 360 graus (quer dizer: totalmente “aberto” e, portanto, ameaçador), o ritmo de sintetizador na banda sonora, o cenário da ruazinha suburbana que parece tirada a papel químico das ruazinhas de Halloween.

É um exercício de cópia cuspido e escarrado, competentemente feito, e é obvio que isso nos conquista logo, mais vale uma boa cópia que um mau original. É certo que, depois do entusiasmo inicial, se vai percebendo que o filme de Mitchell não tem muito mais para dar do que a exposição de uma lição bem aprendida, no mesmo passo em que retoma uma série de temas de uma tradição do filme de terror a que Carpenter também não é estranho (a sexualidade adolescente, um mundo de classe média suburbana de onde os adultos parecem ter desaparecido) mas com muito menores ironia e ambiguidade. Esta história de uma maldição que se “apanha” pelo sexo mas de que também só se desembaraça pelo sexo (assim pelo menos destruindo as metáforas mais evidentes, tipo Sida) tende a tornar-se formulaica, a não ser mais do que aquilo que é, fascinada pelo ocasional brilhantismo da sua mecânica, ainda que Mitchell polvilhe o filme de referências que aparentemente pretendem sinalizar algo (dos filmes de ficção científica dos anos 50 a Dostoievski). Fica longe, portanto, da riqueza e da densidade do seu modelo. Mas não há como negar o prazer, puramente plástico em primeiro lugar, de algumas das suas cenas e sequências, e só isso é razão para merecer uma espreitadela.