Israel aplica pela primeira vez detenção administrativa a um suspeito judeu

O colono Mordechai Meyer foi o primeiro a ter decretada prisão de seis meses sem acusação formada ou julgamento por “envolvimento em actividade violenta e ataques terroristas como parte de um grupo terrorista judaico”.

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Os ataques aos palestinianos têm sido cada vez mais violentos Abed Omar Qusini/Reuters

Com a detenção por seis meses, o colono Mordechai Meyer é o primeiro suspeito judeu a ver oficialmente aplicada esta medida, que o Governo de Benjamin Netanyahu disse que poderia usar em casos em que sabia do envolvimento de suspeitos em actos terroristas mas não tinha provas, prometendo usar pouco a medida drástica e controversa.

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Com a detenção por seis meses, o colono Mordechai Meyer é o primeiro suspeito judeu a ver oficialmente aplicada esta medida, que o Governo de Benjamin Netanyahu disse que poderia usar em casos em que sabia do envolvimento de suspeitos em actos terroristas mas não tinha provas, prometendo usar pouco a medida drástica e controversa.

As medidas foram aprovadas depois de na semana passada um ataque de judeus extremistas ter deixado morto um bebé de 18 meses, queimado vivo, e em estado crítico a sua mãe, e ainda o pai e irmão de quatro anos em estado grave. Os atacantes lançaram combustível e bombas incendiárias para dentro de duas casas palestinianas, numa das quais estava a família atingida. A outra estava vazia.

O primeiro detido, mas cujo estatuto está ainda indefinido, foi Meir Ettinger, considerado o "suspeito número um" na mira do Shin Bet (segurança interna) por ligação a vários ataques, incluindo a uma igreja em Israel. Num artigo de opinião, Ettinger queixava-se como os sinos das igrejas cristãs perturbavam as preces dos judeus. Não era claro se tinha ligação ao ataque contra a família palestiniana da semana passada.

Ettinger, que é neto de um rabino norte-americano que em Israel fundou o partido Kach, mais tarde ilegalizado por ser racista, estará a ser interrogado e espera-se que possa ser posto em detenção administrativa mais tarde, mas ainda não foi, segundo as autoridades.

Um terceiro suspeito, Eviatar Salonim, foi também detido mas não era claro o seu estatuto.

O Governo de Israel quer mostrar que está a reagir em força ao ataque da semana passada. Responsáveis não hesitaram em classificá-lo como uma acção terrorista, algo raras vezes usado para descrever acções violentas de judeus.

Os políticos temem uma radicalização dos ataques. Segundo fontes do Shin Bet, são cada vez mais obra de uma rede a operar desde 2013. O sociólogo da universidade hebraica de Jerusalém, Shlomo Fisher, explicou ao New York Times que estes “activistas violentos” se vêem como tendo “uma autoridade profética”, e sentem-se compelidos a responder “cada vez que vejam um ideal religioso ou político violado”, fazendo “o que seja preciso”.

Na sequência dos ataques, comentadores chamaram a atenção para o nível de impunidade da violência dos colonos sobre os palestinianos, que há anos queimam oliveiras, deixam graffiti nas mesquitas, envenenam poços de água, ou agridem fisicamente os habitantes de localidades da Cisjordânia ocupada, sem serem penalizados.

Segundo números da associação israelita Yesh Din, houve recomendação de acusação apenas em 7,4% dos casos de violência de colonos sobre palestinianos, e apenas 2,5% do total de casos levaram a identificação de suspeitos, julgamento e uma condenação.

Grupos de direitos cívicos que criticam há anos as medidas como a detenção administrativa lamentam a sua extensão aos judeus radicais. “Isto quer dizer que Israel-Palestina se transforma num sítio em que os direitos básicos são negados a parte do povo, onde qualquer um – judeu ou árabe – pode perder estes direitos a qualquer altura”, diz um artigo da revista +972.

Da esquerda também são criticados os políticos de direita que têm inflamado racismo nas suas declarações, e a atitude de quem vê as acções violentas de alguns colonos, ultra-ortodoxos, ou activistas de direita como algo desligado da sua ideologia. O jornalista Chemi Shalev ironizava num texto no Há’aretz sobre “os terroristas judeus extraterrestres mutantes que não têm nada a ver com a direita israelita.”