Morte de fotojornalista estabelece novo marco na violência contra a imprensa no México

“Temo por mim e pelos meus companheiros, não confio no Governo nem em nenhuma instituição do Estado”, dissera o repórter a organizações de defesa da liberdade de expressão.

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O assassínio de Espinosa é o primeiro a acontecer na capital, onde ele se tinha refugiado Reuters

Espinosa, que colaborava com a revista de grande reportagem e investigação Proceso e para as agências AVC Noticias e Cuartoscuro, fugiu do estado de Veracruz, onde trabalhava há mais de sete anos, depois de ter publicamente denunciado a perseguição de que era alvo . Na sua actividade profissional, destacou-se na cobertura de movimentos sociais, manifestações e protestos, tornando-se activista contra a violência organizada e em defesa da liberdade de imprensa.

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Espinosa, que colaborava com a revista de grande reportagem e investigação Proceso e para as agências AVC Noticias e Cuartoscuro, fugiu do estado de Veracruz, onde trabalhava há mais de sete anos, depois de ter publicamente denunciado a perseguição de que era alvo . Na sua actividade profissional, destacou-se na cobertura de movimentos sociais, manifestações e protestos, tornando-se activista contra a violência organizada e em defesa da liberdade de imprensa.

“O homicídio de Rubén Espinosa estabelece um novo marco na violência contra a imprensa no México”, assinalou a Artículo 19, uma organização de defesa e promoção do direito à liberdade de expressão, que em Junho tinha documentado desaparecimentos forçados de jornalistas no estado de Veracruz. “A violência a que Espinosa estava sujeito era conhecida publicamente, pelo que a morte do repórter fotográfico produziu-se sem que as autoridades encarregadas da protecção dos jornalistas neste país tenham mexido um dedo”, lamentou a organização, em comunicado.

Espinosa tinha feito uma longa exposição sobre os riscos para o exercício da profissão e as agressões a jornalistas em Veracruz à Artículo 19 e ao Comité para a Protecção dos Jornalistas. “Temo por mim e pelos meus companheiros, não confio no Governo nem em nenhuma instituição do Estado”, confessou, depois de dar conta de acções de perseguição e intimidação, com grupos de homens encapuzados a segui-lo e ameaçá-lo durante o mês de Junho, com indicações de que se mantivesse calado.

Espinosa tinha dito numa entrevista que o estado de Veracruz, território dominado pelo perigoso cartel de génese paramilitar Los Zetas, atravessava uma profunda crise de segurança e impunidade, e tinha-se transformado no lugar mais perigoso do México para jornalistas: desde 2011, foram assassinados 15 repórteres em actividade.

Segundo o grupo Repórteres sem Fronteiras, em 2015 já foram mortos cinco jornalistas no México – quatro deles em Veracruz, “que se tornou um centro de tráfico de droga e de seres humanos”. “É triste pensar em Veracruz, onde tudo vai mal, o governo, a imprensa. A única coisa que vai bem é a corrupção. E a morte, que decidiu viver aqui”, declarou o fotojornalista ao portal Sinembargo.

Segundo a imprensa mexicana, Espinosa levou a sério as ameaças e, como outros jornalistas visados por grupos do narcotráfico em diferentes partes do México, exilou-se na capital do país, até agora considerada um refúgio seguro. “É a primeira vez que um jornalista deslocado internamente é assassinado na capital, e encaramos esse desenvolvimento com extrema preocupação. (…) É inconcebível, depois da morte de Espinosa, e do assassínio de 88 jornalistas, que as autoridades se atrevam a dizer que fazem tudo o que podem para proteger os jornalistas”, criticou a Artículo 19.

As autoridades mexicanas ainda não divulgaram qualquer informação relativa ao crime, que terá ocorrido na sexta-feira ou sábado. Amigos de Rubén Espinosa disseram ter trocado mensagens com ele às duas da tarde de sexta-feira: o jornalista informou ter passado a noite no apartamento de umas amigas, depois de uma festa, para não correr o risco de sair sozinho à noite. O seu plano, prosseguiu, era regressar à casa dos pais no mesmo dia – o mesmo amigo recebeu um telefonema de uma irmã de Rubén, no sábado à tarde, a perguntar pelo seu paradeiro.

Quando foram ao apartamento indicado, no bairro de classe média de Narvarte, depararam-se com equipas da polícia, que tinha sido alertada por um morador do prédio. No apartamento em causa, encontravam-se cinco vítimas de homicídio: Rubén Espinosa e quatro mulheres, três moravam no apartamento, a quarta era a sua empregada doméstica.