Dólar e China fazem os investidores perder confiança no ouro

No auge da crise financeira internacional, o metal precioso foi o refúgio escolhido por muitos investidores. Mas agora que o dólar se aprecia e a China abranda, o valor do ouro está a baixar.

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A procura do gigante asiático pelo metal precioso foi, durante as últimas décadas, um dos principais motivos para a escalada do preço do ouro até 2011 DR

O ouro, que no final de 2011 chegou a ultrapassar os 1800 dólares por onça, acumulou desde esse momento uma descida superior a 40%, tendo caído esta semana para os 1095 dólares por onça. Depois de vários meses que pareciam apontar para uma estabilização da cotação, assistiu-se este mês a mais uma depreciação de 6,5%, a maior dos últimos dois anos, que faz com que a barreira dos 1000 euros por onça pareça estar seriamente ameaçada.

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O ouro, que no final de 2011 chegou a ultrapassar os 1800 dólares por onça, acumulou desde esse momento uma descida superior a 40%, tendo caído esta semana para os 1095 dólares por onça. Depois de vários meses que pareciam apontar para uma estabilização da cotação, assistiu-se este mês a mais uma depreciação de 6,5%, a maior dos últimos dois anos, que faz com que a barreira dos 1000 euros por onça pareça estar seriamente ameaçada.

Como sempre, há previsões para todos os gostos em relação ao rumo que irá agora seguir a cotação do ouro. Há quem diga que, a um preço tão baixo, os consumidores indianos e chineses – os principais dos últimos anos – vão aproveitar para fazer compras de saldo, ajudando a reanimar o valor do metal precioso nos mercados. E que além disso, a produção também irá diminuir, porque algumas minas deixam de ser rentáveis a preços tão baixos.

No entanto, nesta fase, as vozes que mais se ouvem são sem dúvida as que antecipam uma manutenção da tendência negativa no mercado do ouro. E a dúvida, entre estes, é apenas saber até onde poderá ir o preço. As visões mais pessimistas colocam a possibilidade de o metal cair até aos 350 euros por onça nos próximos anos, o que significaria uma perda de dois terços do valor actual.

Neste momento, existem três explicações principais para a queda do ouro nos mercados internacionais. A primeira é a apreciação do dólar. A divisa norte-americana é aquela que é usada para definir o preço da generalidade das matérias primas transaccionadas nos mercados e quando o seu valor sobe em relação às outras moedas, o preço das matérias primas habitualmente desce.

Por isso, não é surpreendente que o ouro – e também outros materiais como o cobre e o petróleo – estejam com os seus preços em queda. Assim que a Reserva Federal travou a sua política expansionista, o dólar começou a valorizar-se rapidamente face ao euro, ao iene e à grande maioria das divisas dos mercados emergentes. Isto tem vindo a acontecer no último ano, com impactos muito significativos em matérias primas como o ouro.

Depois há a influência da China. A procura do gigante asiático pelo metal precioso foi, durante as últimas décadas, um dos principais motivos para a escalada do preço do ouro até 2011 e para a sua relativa sustentação nos anos seguintes. Agora que a economia chinesa dá sinais de abrandamento, é natural que a procura de ouro vinda da China também reduza o seu ritmo de crescimento.

Além disso, a forte queda da bolsa chinesa está a criar problemas adicionais para o preço do ouro e pode mesmo ser o motivo imediato para os resultados tão negativos das duas últimas semanas. É que além de ter reduzido a riqueza de muitos potenciais compradores do metal precioso, pode levar a que muitos investidores chineses precisem de garantir rapidamente liquidez financeira para fazer face aos empréstimos que assumiram para comprar acções. E a venda de ouro pode ser para muitos uma solução.

Por fim, outro facto que pode tornar menos atractivo o ouro para os investidores internacionais é a subida das taxas de juro. Como o ouro não gera juros para quem o compra, um mundo em que outros activos de baixo risco, como as obrigações, garantam rendimentos mais altos, faz com que o metal tenha menos vantagens.

Para já, as taxas de juro estão a níveis ainda historicamente baixos, mas nos EUA, por exemplo, já se antecipa um início da subida, algo que reduz ainda mais expectativas de evolução para o preço do ouro.

Para além dos investidores privados que apostaram no ouro, esta queda de preços produz mais alguns derrotados. Bancos centrais, como o de Portugal, que têm uma grande parte das suas reservas sob a forma de ouro, podem vir uma deterioração significativa dos seus resultados financeiros. E países produtores, como o Peru ou a África do Sul sofrem nas suas contas externas da mesma forma como tem acontecido com os produtores de crude nos últimos meses.