Pedir maioria absoluta é “extraordinariamente errado” para um chefe de Estado

Sampaio da Nóvoa, de visita à Madeira onde disse que a Constituição foi a única coisa que protegeu os portugueses nos últimos quatro anos, considera que pedir uma maioria absoluta é apelar ao voto nos partidos do bloco central.

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Sampaio da Nóvoa está na Madeira Miguel Manso

Sem comentar directamente o discurso de Cavaco Silva, Sampaio da Nóvoa garantiu que, enquanto candidato a Belém, nunca irá “limitar” ou “condicionar” as opções democráticas que os portugueses tomarão nas legislativas de Outubro.

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Sem comentar directamente o discurso de Cavaco Silva, Sampaio da Nóvoa garantiu que, enquanto candidato a Belém, nunca irá “limitar” ou “condicionar” as opções democráticas que os portugueses tomarão nas legislativas de Outubro.

“A única coisa que eu digo é que, como Presidente da República, eu saberei interpretar e respeitar os resultados das eleições, os resultados que os portugueses democraticamente quiserem assumir em sede de legislativas e trabalhar com esses resultados para encontrar as melhores soluções de estabilidade e de governabilidade”, disse o professor universitário durante um encontro com jornalistas, acrescentando: “Quando falo em encontrar as melhores soluções, não excluo nenhuma possibilidade”.

Na Madeira, onde ficará até esta quarta-feira em visita de pré-campanha, Sampaio da Nóvoa, apontou essa questão como outra grande diferença que o distingue dos outros candidatos que já se apresentaram ou estão em vias de se apresentar.

“Percebemos que o pensamento de todos se afunila muito no bloco central, no famoso arco de governação. Quando falam em estabilidade e governabilidade estão a falar disto, mas eu quando falo de estabilidade e governabilidade não estou a falar só disso”, explicou, dizendo que a função do Presidente da República e saber interpretar a vontade dos portugueses.

"Obviamente que concordo que um quadro de maioria absoluta pode, em muitos sentidos, ajudar a estabilidade do país, mas não cabe a um candidato influenciar o voto dos portugueses", frisou.

Sampaio da Nóvoa, que já recebeu o apoio formal do Livre/Tempo de Avançar, assumiu-se também como defensor do actual regime constitucional, argumentando que foi a Constituição que nestes últimos quatros anos mais protegeu os portugueses.

“Se há alguma coisa que a crise nos ensinou nos últimos quatro anos é que a Constituição foi, de tudo o que existiu em Portugal, aquilo que, com todas as dificuldades, mais protegeu os portugueses, sobretudo os mais desprotegidos”, disse Sampaio da Nóvoa aos jornalistas.

Defendendo que o problema do país não é constitucional, mas de “políticas e de acção política”, o professor universitário destacou o papel da Constituição na sociedade dizendo que o texto ainda não foi totalmente explorado. “Sou um defensor dos valores desta Constituição, sem prejuízo de eventuais revisões”, sublinhou, apontando “potencialidades” e “virtualidades” ao texto constitucional que ainda não foram levadas às últimas consequências.

"Já começa a ser tarde" para novas candidaturas
O ex-reitor da Universidade de Lisboa, que na Madeira reuniu com vários autarcas e encontrou-se com o Representante da República, disse não temer outras candidaturas, que ao serem concretizadas vão “enriquecer o espaço democrático”. Mas, ressalvou, só faltam seis meses para as presidenciais, e “já começa a ser tarde” para as pessoas se apresentarem.

“Não é bom, nem prestigia a Presidência da República, os candidatos esperarem pelas eleições legislativas para avançar, nem por assinaturas ou por apoios financeiros”, disse numa referência implícita a Maria de Belém e Alberto João Jardim, depois de se assumir como um presidente “geográfico” que quer estar junto das pessoas.

Por isso, admite ir alterando ao longo do mandato a sede da Presidência da República. “Tenho sentido aqui na Madeira, como de resto por todo o país, que as pessoas sentem um afastamento muito grande dos políticos”.

O candidato iniciou de manhã uma visita de dois dias ao arquipélago. Reuniu com três autarcas na Madeira, de diferentes cores políticas, e voou a meio da tarde para o Porto Santo, onde se encontrou com o presidente da câmara local e jantou com apoiantes. Esta quarta-feira regressa novamente ao Funchal para mais encontros com sindicatos e empresários.

Durante a manhã será recebido pelo presidente do Governo madeirense, terminando a visita com um Madeira de Honra na reitoria da Universidade.